Rio Grande do Sul

VIDA DAS MULHERES

Marcia Tiburi participa da conclusão do curso sobre monitoramento de feminicídios para prevenir mortes

A atividade reúne participantes de todo o país na aula online que encerra o curso oferecido pela Lupa Feminista

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Há um projeto que é inerente a própria lógica do patriarcado, que visa a matança de mulheres", ressalta Marcia - Foto: Fabiana Reinholz

A filósofa, escritora e professora Marcia Tiburi será uma das palestrantes na conclusão do curso sobre monitoramento de feminicídios para prevenir mortes que acontece neste sábado (26). A atividade reúne participantes de todo o país na aula online que encerra os três módulos do curso oferecido pela Lupa Feminista, o observatório gaúcho da campanha Levante Feminista contra o Feminicídio, Transfeminicídio e Lesbocídio integrando a programação do Agosto Lilás e os 17 anos da Lei Maria da Penha.

:: Curso aborda monitoramento de violência contra as mulheres para prevenir feminicídios ::

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, 1.437 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil em 2022, sendo 61,1% negras. O Rio Grande do Sul é o quarto estado com mais casos no país, tendo registrado 110 casos. De janeiro deste ano até o momento, já registrou 60 feminicídios, de acordo com o Lupa Feminista. 

"No RS, uma mulher é agredida a cada 22 minutos e em menos de quatro dias ocorre um feminicídio. No estado emitem-se, em média, 459 medidas protetivas por dia. Mesmo com esse enorme volume, apenas 20% das vítimas de feminicídio em 2022 tinham Medida Protetiva”, aponta a psicóloga Thais Pereira, coordenadora do Observatório Lupa Feminista e palestrante do curso que reúne expoentes do tema.

Conforme Thais, os observatórios crescem em todo o mundo como forma de acompanhar temáticas importantes e contribuir no aprimorando de ações e políticas públicas. “Analisar informações e dados, realizar estatísticas, apontar inconsistências são alguns dos itens que permitem explicitar caminhos para proteger a vida das mulheres”, pontua. 

:: Observatório digital visa proteger mulheres do feminicídio no RS ::

"Monitorar dados têm sido uma importante estratégia do movimento feminista, demonstrando inconsistências nos dados oficiais e a falta deles quando a gente realiza o recorte de identidade de gênero, orientação sexual e deficiência, por exemplo. Além de construir importantes argumentos pra demonstrar aos nossos governantes a necessidade de políticas públicas, prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres. O curso foi pensado para atingir o objetivo de difundir a metodologia e estimular a produção de conhecimento sobre o assunto em todos os cantos do país, quanto mais mulheres e movimentos realizarem monitoramento, mais nos fortalecemos na luta", aponta.

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Segundo a coordenadora, o curso de monitoramento promovido pela Lupa Feminista tem sido bastante satisfatório, gerando importantes debates em torno do tema do feminicídio, transfeminicídio e lesbocídio, do monitoramento de dados a respeito desses crimes, e oportunizou juntar mulheres e grupos de todo o Brasil, e também do exterior em torno dessas discussões.

"Durante o curso, discutimos as raízes sociais e culturais do feminicídio, seu enquadramento jurídico no Brasil e na América Latina, o impacto do sexismo e do racismo nos feminicídios de mulheres negras. Abordamos o feminicídio na imprensa e a importância do monitoramento de dados, realizamos trocas de experiências de monitoramento e para finalizar, faremos uma demonstração de como a Lupa Feminista monitora os dados", expõe. 

Ainda, destaca Thais, "nas rodas as convidadas abordaram pontos importantíssimos e nos brindaram com seu conhecimento. Para que gente possa ter uma dimensão da importância desse curso e desse trabalho, contamos com a participação da Aline Yamamotto, do Ministério das Mulheres, e amanhã, com a Marcia Tiburi, uma das precursoras da nossa Campanha".

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Marcia Tiburi esteve recentemente no RS para o lançamento de seu mais novo romance "Com os sapatos aniquilados, Helena avança na neve" e para participar da roda de conversa "Desconstruindo o Fascismo, rumo a uma Porto Alegre feminista, antifascista, antirracista e antilgbtfóbica". 

Na ocasião ela conversou com o Brasil de Fato RS, falando entre outros temas sobre a violência contra as mulheres. “Há um projeto que é inerente a própria lógica do patriarcado, que visa a matança de mulheres. O patriarcado, digamos como sistema, ele funciona nos ameaçando. Estamos sempre ameaçadas, e ameaçadas por todos os lados, de todas as maneiras, as físicas, as simbólicas, as domésticas, as públicas. Todo o tempo somos ameaçadas, somos oprimidas, intimidadas". A entrevista pode ser conferida neste sábado (26). 

Sobre o trabalho da Lupa

A Lupa apresenta um “feminiciômetro”, que atualiza instantaneamente os assassinatos gerados por razões de gênero do estado e país e um “violentômetro” que mostra a gradação da violência, alertando para a escala que inicia com agressões verbais, intimidações, ameaças até espancamentos e morte, indicando como cessar o processo, se proteger e denunciar.

A Lupa Feminista é disponibilizada para consulta por mulheres, ativistas, serviços de atendimento, pesquisadoras e estudiosos, sendo um instrumento de apoio ao trabalho para prevenir a violência e acompanhar os feminicídios no estado.


Edição: Katia Marko