Famílias da Retomada Xokleng Konglui, em São Francisco de Paula (RS), passaram por momentos de tensão e medo, na madrugada deste domingo (20). Segundo informa o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), lideranças da comunidade relataram a presença de homens armados no local, que realizaram disparos contra a retomada, por volta das 2h da madrugada, causando tensão e medo.
Não houve feridos, mas a comunidade está apreensiva e pede providências ao Ministério Público Federal, e patrulhamento da região pela Polícia Federal. Conforme Roberto Liebgott, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, a entidade está acompanhando o caso e, assim como os indígenas, cobra medidas que garantam a segurança do grupo e o início dos estudos de demarcação do território.
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Os Xokleng da Retomada Konglui vivem nas margens da RS 484, em frente à Floresta Nacional (Flona) de São Francisco de Paula, na Serra gaúcha. Inicialmente, em dezembro de 2020, a retomada ocupou área na Flona, mas a Justiça decidiu pela reintegração de posse, levando à retirada voluntária para evitar violência. A comunidade reivindica a Floresta, atendendo ao chamado de seus ancestrais para a proteção do território, ameaçado pela privatização e entrega à exploração econômica.
"Enorme vulnerabilidade"
O indigenista destaca a "enorme vulnerabilidade" e sofrimento aos quais a retomada está submetida, ao longo dos últimos anos, vivendo na beira da estrada. “Chuvas, vendavais, ciclones, frio intenso, falta de saneamento, de água potável e de comida, além de um precário atendimento em saúde”, relata Roberto.
“Juízes, desembargadores, integrantes do governo federal, MPF, AGU [Advocacia-Geral da União], todos, sem exceção, conhecem nossa realidade, mas nada têm feito para assegurar nossos direitos. Com rigor enfrentamos no cotidiano a violenta falta de humanidade”, alerta a comunidade Xokleng Konglui.
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Para Roberto, essa condição não é mero acaso. Ele lembra que as florestas estão sendo privatizadas para a iniciativa privada. “Tudo vira ‘bioeconomia’, enquanto as ‘bioexistências’ dos indígenas acabam, dramaticamente aniquiladas”, critica.
Em julho de 2021, o governo federal realizou o edital de concessão da Floresta Nacional. O consórcio vencedor reúne as empresas STE Engenharia e a Urbanes, que devem investir mais de R$ 72 milhões em um centro de visitantes, serviços de alimentação e outras implementações que serão realizadas no local. As empresas serão responsáveis por todos os serviços ligados à visitação.
“É preciso dar um basta nos crimes contra os originários filhos destas terras. Demarcação já, não ao marco temporal”, cobram os indígenas.
* Com informações do Conselho Indigenista Missionário
Edição: Marcelo Ferreira