Rio Grande do Sul

CINE VICTORIA

Porto Alegre retoma um de seus tradicionais cinemas de calçada no centro da Capital

Inaugurado em 1940, o espaço que estava fechado desde 2018 foi reaberto neste sábado (19) com um coquetel

Brasil de Fato | Porto Alegre |
No último sábado (19), as empresárias Cristiane Brandolt e Diulia Rauber realizaram um coquetel para apresentar a nova proposta para o espaço - Foto: Vini Angeli/Divulgação

Com o valor do ingresso alto, acima dos R$ 30, o cinema acabou virando uma espécie de “luxo” na rotina de quem pode pagar, limitando seu público. O Cine Victoria, espaço localizado na Avenida Borges de Medeiros, 441, no Centro Histórico de Porto Alegre, que estava fechado desde 2018, reabriu suas portas no último mês com a proposta de democratizar o acesso às produções cinematográficas.

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Coquetel no sábado à noite reuniu autores e classe artística no espaço do Cine Victoria / Foto: Vini Angeli/Divulgação

De local de memória afetiva e de entretenimento cultural no centro da capital, o Cine Victória com tempo foi perdendo esse significado. No último sábado (19), as empresárias Cristiane Brandolt e Diulia Rauber realizaram um coquetel para apresentar a nova proposta para o espaço, uma parceria entre a Cult Cinemas com o Edifício Vera Cruz, proprietário da marca Cine Victoria.

“Na medida do possível, buscamos uma interação social entre os nossos cinemas e a sociedade mais vulnerabilizada. Tanto que em Alegrete realizamos uma sessão gratuita do filme Yonlu, com a presença do cineasta alegretense Hique Montanari, diretor do filme. Já, em Ijuí fizemos sessões gratuitas para crianças que residem em lares de adoção. E queremos trazer essa ideia para Porto Alegre, com um retorno social para o universo cinematográfico, pois possibilita o contato e dá visibilidade a obras que muitas vezes não seriam vistas por estes grupos”, afirma Cristiane. A Cult Cinemas aposta nos cinemas de calçada, tendo unidades em Alegrete e Ijuí.


Fechado desde 2018, o Cine Victoria reabriu suas portas no último mês com a proposta de democratizar o acesso às produções cinematográficas / Foto: Vini Angeli/Divulgação

O evento reuniu representantes de vários segmentos sociais ligados à cultura que valorizaram a nostálgica tradição das históricas salas de calçada. “Este é um espaço de referência antiga para o Rio Grande do Sul, no centro da capital gaúcha, que começa a instigar a memória para lembrar momentos. Como é importante o cinema, a cultura, a possibilidade de pessoas mais simples terem acesso às manifestações culturais", reforça o ex-prefeito de Porto Alegre e ex-governador do estado Olívio Dutra

Para Olivio, o Cine Victoria tem uma importância enorme ao estímulo à reflexão, no pensar, no conhecer outras culturas, outras realidades. "Que bom que nós podemos ter de volta um cinema de rua. Uma iniciativa que deve ser incentivada pelo governo nas três esferas, municipal, estadual e federal, para garantir que tenha permanência e conteúdo.”


O ex-governador Olivio Dutra recordou que frequentava o Cine Victoria desde que chegou a Porto Alegre / Foto: Vini Angeli/Divulgação

A Coordenadora do Escritório Estadual do Ministério da Cultura, Mari Martinez, reforçou a importância simbólica da reabertura do Cine Victoria. “Um cinema de bairro, um cinema do centro da cidade histórica e agora sendo reaberto neste mesmo momento que tivemos essa retomada das políticas culturais, desse olhar estratégico pro audiovisual como setor de desenvolvimento econômico social e, também trazer qualidade de vida para que as pessoas tenham acesso à cultura."

Segundo ela, o Ministério da Cultura e a Secretaria do Audiovisual estão trabalhando para trazer de forma descentralizada o acesso à cultura. "Um exemplo, é a Lei Paulo Gustavo que destinou R$ 195 milhões para o estado, grande parte deste recurso que vai para todos os municípios é para abertura de salas de cinema e outra substancial para produções audiovisuais. Estamos vivenciando uma verdadeira primavera da cultura e do audiovisual brasileiro, com produções e salas abrindo como pontos de cultura, pontos de memória em todos os municípios”, afirmou.


A coordenadora do MinC RS, Mari Martinez, reforçou a importância simbólica da reabertura do Cine Victoria / Foto: Vini Angeli/Divulgação

Conforme destacou a secretária de Cultura do RS, Beatriz Araujo, o Executivo estadual tem investido no centro histórico da capital especialmente nas instituições ligadas à cultura. “E no momento em que a gente percebe que o empreendimento também na área privada acontece voltado à fruição da arte, como um cinema de calçada, um cinema que está sendo devolvido para a sociedade, para a comunidade a gente fica muito feliz. Nós acreditamos fortemente que a cultura na capital gaúcha transforma a cidade. Porto Alegre pode ser a capital da cultura”, avalia Beatriz.


"Nós acreditamos fortemente que a cultura na capital gaúcha transforma a cidade. Porto Alegre pode ser a capital da cultura”, avalia Beatriz / Foto: Vini Angeli/Divulgação

Na avaliação da secretária, Porto Alegre tem tantos equipamentos “bacanas” que funcionam e funcionam muito bem. “Agora a gente percebe que o centro histórico passa a ser povoado com essas iniciativas que até um determinado momento eram isoladas, mas que aí tu percebe que é um conjunto de ações que faz com que as pessoas circulem pelo centro histórico nos finais de semana também”, pontua Beatriz.

“Em um país que nós sabemos não trata a cultura com a dimensão e a relevância que deveria ter historicamente, a abertura desse espaço é significativo. Quando nós testemunhamos a abertura de um espaço cultural, seja qual for, mas em especial uma sala de cinema como essa, com tanta tradição, com tanto significado, com tanta história, isso deve receber de todos nós o aplauso entusiasmado e o apoio indispensável para que tenha êxito”, destacou o secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos de Porto Alegre, Cezar Augusto Schirmer, que representou o prefeito Sebastião Mello (MDB). Em sua fala destacou as ações culturais que estão sendo feitas pelo Executivo municipal. 


O diretor de cinema Henrique Freitas de Lima destacou a trajetória do cineasta, fotógrafo e jornalista Ivo Czamanski,que faleceu na madrugada de sábado (19) / Foto: Vini Angeli/Divulgação

O diretor de cinema Henrique Freitas de Lima destacou a trajetória do cineasta, fotógrafo e jornalista Ivo Czamanski,que faleceu na madrugada de sábado (19). “Perdemos um grande personagem, mas tenho certeza que ele está aqui conosco comemorando a reabertura desse espaço”, afirmou. Henrique ressaltou a importância do Cine Victoria para a cultura do Rio Grande do Sul. “É nesse cinema, na época com mil lugares, que Vítor Matheus Peixeira pagava seus filmes. O Teixerinha botava 600 mil pessoas no auditório”, relembrou o cineasta. 


O Cine Victoria surgiu em 1940 com o nome de Cine Teatro Vera Cruz, nome do prédio que o abriga / Foto: Vini Angeli/Divulgação

O Cine Victoria surgiu em 1940 com o nome de Cine Teatro Vera Cruz, nome do prédio que o abriga. Na época, exibiu um dos clássicos de Frank Capra, A Mulher Faz o Homem (1939). Na retomada do espaço, o cinema terá ingressos com preços populares, sendo R$ 20 reais a inteira e R$ 10 a meia. Na programação, o foco serão os blockbusters. Inicialmente apenas uma das duas salas está em funcionamento. A sala em atividade tem espaço para 190 pessoas. A segunda sala deverá estar em funcionamento dentro de seis meses, para 150 pessoas. 


A produtora cultural Silvia Abreu foi a responsável pela organização do evento de inauguração, com a parceria do produtor Thiago Valentini / Foto: Vini Angeli/Divulgação

 O Cine Victoria vem se somar com os outros cinemas de calçada da Capital como a Cinemateca Capitólio e a Sala Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana.


Edição: Katia Marko