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Eleições e o futuro da integração sul-americana

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Lula preside reunião no primeiro dia da Cúpula da Amazônia em Belém (PA) - Ricardo Stuckert/PR
A eleição de Lula inflexionou o continente sul-americano para retomar a agenda da integração

Os seis anos, somados de governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, no plano da integração sul-americana foram de retrocessos e obliteração das relações entre os Estados da região. A furiosa onda de ascensão das ideias e políticas de direita e de extrema direita acontecida naquele período permitiu que se estigmatizassem negativamente todas as iniciativas de integração sul-americana, ainda mais seus aspectos de afirmação de soberania nacional. Houve um “giro” do centro da política de relações internacionais para uma reaproximação com os Estados Unidos, o que significou um retrocesso nas relações regionais e um congelamento das relações com os países europeus.

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Essa política internacional esteve diretamente relacionada com a política econômica majoritária do período marcado pela “comoditização” da economia brasileira, voltada à exportação de produtos extrativos e agrícolas com baixa geração de emprego e de pouca capacidade de densificação e complexificação dos serviços e novas tecnologias. O resultado foi que o Brasil se reposicionou no cenário global de forma subsidiária, recuando progressivamente em sua capacidade política nas relações internacionais.

Esses dois governos de direita legitimaram sua política externa subordinada através da implosão das políticas que colocavam a ideia de formação de um bloco regional como pilar da estratégia internacional. Foi uma espécie de “joia” cobrada pelo rentismo internacional para essa associação aos países centrais do Ocidente, onde o Brasil acabou por cumprir um papel logístico, abastecendo o grande comércio global com produtos primários e servindo ao rentismo com altas taxas de juros e dividendos financeiros.

A eleição de Lula inflexionou o continente sul-americano para uma expectativa mais forte no sentido de retomar a agenda da integração. Houve expectativa convergente com a eleição de Petro na Colômbia e Boric no Chile, ainda que as necessidades em relação às políticas internacionais de cada um desses países sejam diferentes das do Brasil.

Neste novo ciclo de políticas integracionistas há dois aspectos distintos a serem enfrentados: a fragmentação das relações produzidas entre os países e o tema da reinserção da Venezuela no bloco. O fato é que a base da compreensão do governo brasileiro sobre a integração é, precisamente, a importância da América do Sul agir como bloco econômico e político. Estratégia, esta, que deverá enfrentar vários desafios, inclusive entre governos progressistas e de esquerda. Colômbia e Chile, por exemplo, têm um histórico de relações com os EUA bem distinto das relações do Brasil, para ficar neste relevante tema apenas.

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Efetivamente, o tema da integração se identifica com os governos à esquerda. Enquanto governos à direita o esfriam ou efetivamente rejeitam a integração sul-americana como política. O papel ocupado, muito astutamente, diga-se de passagem, por Lacalle Pou, presidente do Uruguai, é uma evidência deste alinhamento político. Sem deixar de comparecer ou negar as relações e encontros entre os países sul-americanos, o governo uruguaio tem adotado uma política de obstrução suave à integração, sempre interpondo questões críticas, tais como a possibilidade de acordos singulares e a crítica ao governo venezuelano.

Neste sentido, duas eleições, uma já realizada e outra por acontecer, ligam o sinal amarelo para a estratégia de formação de um bloco sul-americano. No Paraguai, Santiago Peña, empossado presidente no último dia 15, afirma que trabalhará pela integração sul-americana. Contudo, sua trajetória política e a composição do governo que assumiu, conservador de direita, fortemente vinculado às políticas de ajuste fiscal e vinculado à burguesia agrária exportadora, podem inflexionar em sentido contrário à sua retórica diplomática.

Na Argentina, a força das candidaturas de direita - Patricia Bullrich, apoiadora de Macri e Javier Milei, apoiado por Bolsonaro - apontam para um cenário muito plúmbico para a formação do bloco. O histrionismo de Milei, próprio da extrema direita e do ultraneoliberalismo, deixou um pouco à sombra a política, também, direitista de Patricia. As propostas de bimonetarismo, que deixariam o dólar estadunidense circular livremente no país, com aumento da autonomia do Banco Central, simplificação das atividades financeiras, reforma trabalhista para diminuir direitos e a centralidade do ajuste fiscal, parecem repetir os passos de Temer-Bolsonaro.

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Ambos tenderão a reduzir, ou mesmo, rejeitar a centralidade da integração regional. O tema da exclusão da Venezuela, economicamente vital para a formação do bloco, voltará à pauta e poderá criar uma situação de impasse na integração. Será uma nova e distinta situação da vivida nos primeiros dois governos de Lula, para quem a integração é de alta importância para sua política econômica e geopolítica.

No Equador, a expectativa é que a candidata à esquerda Luisa Gonzáles, que disputará o segundo turno com o direitista Daniel Noboa, confirme a vitória, e que na Argentina o campo progressista seja capaz de levar Sergio Massa a vencer as eleições presidenciais. Serão resultados importantes, entre as possibilidades concretas, para a consolidação do bloco político sul-americano.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko