Parte da programação do 51º Festival de Cinema de Gramado, a estreia de “Um certo cinema gaúcho de Porto Alegre”, no Palácio dos Festivais, na tarde de terça-feira (15), durante a mostra competitiva de longas do estado, fechou um ciclo de sete anos. Boca Migotto, no ano passado, lançou na Serra o livro (homônimo) adaptado da sua tese e, em 2023, exibiu pela primeira vez ao público o documentário com as entrevistas filmadas realizadas para a pesquisa.
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Tanto na obra literária quanto audiovisual, o cineasta e escritor aborda as últimas quatro décadas do cinema produzido no Rio Grande do Sul. Originalmente, seu objeto de estudo seria a Clube Silêncio, produtora cinematográfica de Porto Alegre formada na virada dos anos 1990 para 2000 por quatro sócios: Fabiano de Souza, Gilson Vargas, Gustavo Spolidoro e Milton do Prado. Todos eles dão seus depoimentos no filme.
No entanto, pesquisando, o então doutorando em Comunicação na Ufrgs percebeu que não poderia começar a contar essa história sem antes apresentar a geração anterior, que inspirou os realizadores na Silêncio. Representada pelos realizadores que antigamente formavam a Casa de Cinema de Porto Alegre, essa geração é chamada por ele de “Deu pra ti, anos 70”. No debate sobre o longa, o diretor admite que, ao eleger esse recorte, assumiu riscos, mas que precisava delimitar a pesquisa, do contrário, tanto a tese como o documentário ficariam grandes demais.
Dessa forma, participam como entrevistados ainda Carlos Gerbase, Giba Assis Brasil, Ana Luiza Azevedo, Jorge Furtado e Nora Goulart. A crítica também está representada com os depoimentos de Enéas de Souza, Fatimarlei Lunardelli, Ivonete Pinto, Alice Trusz e Marcus Mello.
Da novíssima geração, participam nomes como Cristiane Oliveira, Davi Pretto, Zeca Brito, Bruno Polidoro, Filipe Matzembacher e Márcio Reolon. Casa Vazia, de Giovani Borba, ainda não tinha ficado pronto quando da época das filmagens, do contrário também teria entrado no recorte, ressalta o autor.
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Interessante também destacar que essas gerações da prática também acabaram passando o bastão da docência para os realizadores da Silêncio, que se tornam professores dos cineastas mais atuais.
“O documentário é singelo, despretensioso na forma e linguagem e ousado em contar esta pequena, mas bastante importante parte do cinema gaúcho”, adiantou Boca Migotto antes da projeção no Palácio dos Festivais. Ele tinha muitas horas de material gravado de entrevistas para editar e transformar em um longa, pois foram 50 entrevistas para o estudo. Nem todas entram na montagem final, assinada por Eduardo Pua. O diretor ainda frisou que a banca do doutorado recebeu o primeiro corte com aproximadamente quatro horas de duração.
“No primeiro recorte, pensei em não abordar Cão Sem Dono (2007)”, que acaba sendo representativo porque seu realizador, Beto Brant, não é gaúcho, e queria muito fazer o filme em Porto Alegre (para a fidelidade da adaptação do romance de estreia de Daniel Galera, “Até o dia em que o cão morreu”). A ideia inicial, inclusive, era que fosse realizado pela Casa de Cinema. “Pensei ainda em abordar somente Ainda Orangotangos (2007), que é o único filme inteiramente da produtora Clube Silêncio”, completa o autor. Mas as leituras, entrevistas e pesquisa apontaram esse caminho do “olhar estrangeiro” como simbólico para os gaúchos e sua capital.
Depoimentos foram gravados no bar Ossip
Com direção de fotografia de Pedro Clezar, são cerca de 50 horas filmadas de depoimentos no bar Ossip, na Cidade Baixa, e seus arredores. O local começou a ser frequentado pelos cineastas nos anos finais da década de 90, e foi um local de encontro daquela geração de realizadores audiovisuais da época.
Sobre a história da pesquisa, Boca relaciona com sua trajetória profissional. Formado em Publicidade, ele tinha ido morar na Inglaterra. Quando retorna, em 2003, monta a produtora Artéria Filmes, “ainda mais efêmera que a Clube Silêncio”, segundo o próprio.
Ele leu uma matéria na Revista de Cinema que comparava a Clube Silêncio com a Casa de Cinema, destacando esses quatro homens tentando fazer cinema. E um artigo de Ivonete Pinto na revista Teorema sobre desconstrução da narrativa clássica também o marcou. “Essas coisas ficaram na minha cabeça. Nesse meio tempo comecei a fazer cinema, fiz mestrado (sobre a Casa de Cinema, na Unisinos) e fui dar aula, e acompanhando o trabalho deles.”
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O pesquisador concluiu, em 2021, a pesquisa com extensão na Sorbonne/Paris 3 (o chamado doutorado-sanduíche). Na capital francesa, finalizou seu primeiro livro de ficção “Na antessala do fim do mundo” – lançado na 66ª Feira do Livro de Porto Alegre (2020). A partir de então, levou a escrita mais a sério e também começou a escrever uma coluna quinzenal para o site Rede Sina. Está com um outro romance pronto para lançar pela editora Bestiário: “A última praia do Brasil”. Como diretor e roteirista, realizou mais de 20 curtas e séries de TV, além dos documentários em longa-metragem “Filme sobre um Bom Fim” (2015) – um dos títulos mais assistidos do cinema gaúcho, Pra ficar na história (2018), Já vimos esse filme (2017) e O sal e o açúcar (2013).
Relatando pontos fundamentais da pesquisa, Boca enfatiza as leituras de Sandra Pesavento sobre a cidade de Porto Alegre, pois o estudo acaba sendo uma reflexão também sobre o local onde esses longas são realizados. Ele definiu seu foco como longas-metragens. No documentário, a exceção são dois curtas da Casa de Cinema que são mencionados, pois marcaram a nossa história: “O Dia em que Dorival encontrou a Guarda” (1986) e “Ilha das Flores” (1989).
Troféu Cidade de Gramado para Ingrid Guimarães na quinta-feira
Em sua 12ª edição, o Troféu Cidade de Gramado será entregue para Ingrid Guimarães, na noite de quinta-feira (17), durante a programação noturna do Palácio dos Festivais. A honraria é dedicada a nomes ligados a Gramado e ao Festival, contribuindo para o crescimento e divulgação da cidade e do evento.
Natural de Goiânia, a atriz iniciou sua carreira nas artes cênicas, ainda nos anos 1980. São mais de 35 anos em que coleciona sucessos no teatro, televisão e, em especial, nas telonas do cinema. Ela fez parte de uma revolução no cinema nacional, promovida a partir dos anos 2000. Suas obras, como a trilogia “De Pernas Pro Ar” (2010-2019) e “Fala Sério, Mãe” (2017), renderam-lhe a alcunha de atriz brasileira mais vista nos cinemas do século.
Sexta-feira será de três homenagens: Alice Braga, Laura Cardoso e Lucy Barreto
A noite desta sexta-feira (18) será de homenagens no palco do Palácio dos Festivais. A produtora Lucy Barreto recebe o Troféu Eduardo Abelin, a atriz Alice Braga será reconhecida com o Kikito de Cristal e a atriz veterana Laura Cardoso recebe o Troféu Oscarito (adiado devido à morte inesperada de Léa Garcia, que também estava na Serra para receber a distinção).
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Antes de cruzar o Tapete Vermelho, Alice Braga participa de uma coletiva de imprensa na Cristais de Gramado, onde tradicionalmente inicia o processo de confecção do próximo Kikito de Cristal - que será entregue no 52º Festival de Gramado.
A produtora Lucy Barreto dará entrevista coletiva no sábado (19), às 11h30min, no Museu do Festival de Cinema.
TVE exibe curtas-metragens gaúchos na programação
Até quinta-feira (17), sempre às 22h30min, a TVE exibe os curtas-metragens gaúchos que participaram da mostra do Prêmio Assembleia. No dia seguinte à exibição, às 17h30min, haverá debates sobre os curtas exibidos no dia anterior, com a presença dos diretores das obras e críticos de cinema.
Além disso, o programa Redação TVE, exibido às 18h30min, conta com entradas ao vivo do Palácio dos Festivais até a sexta-feira. Para encerrar a cobertura, no sábado (19), às 21h, será transmitida ao vivo a cerimônia de entrega dos Kikitos para os longas-metragens em competição, em parceria com o Canal Brasil.
Para assistir, basta sintonizar a emissora pública no canal 7.1 ou acompanhar pelo streaming no site da TVE.
Edição: Katia Marko