Rio Grande do Sul

CINEMA

Ministra da Cultura é presença confirmada na abertura do 51º Festival de Gramado

Margareth Menezes participa de cerimônia com Orquestra da cidade na Sociedade Recreio

Brasil de Fato | Gramado |
A abertura oficial do tradicional evento na Serra Gaúcha ocorre neste sábado (12) - Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto

A cerimônia da abertura oficial do 51º Festival de Cinema de Gramado está marcada para as 10h deste sábado (12), na Sociedade Recreio Gramadense (Rua Garibaldi, 328), sede da Secretaria do evento. A solenidade conta com a já clássica apresentação da Orquestra Sinfônica de Gramado, interpretando um repertório que remete aos clássicos do cinema nacional e internacional, complementado por uma homenagem aos 150 anos do inventor Alberto Santos Dumont.

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A troca de local, previamente agendado para ocorrer no Tapete Vermelho, na Rua Coberta da cidade, acontece a partir da previsão de instabilidade para a região. Deve fazer muito frio neste fim de semana em Gramado, agradando os turistas que sobem a Serra gaúcha em busca das temperaturas mais baixas.

Entre as presenças confirmadas na ocasião, estão a ministra da Cultura, Margareth Menezes, e a secretária do Audiovisual, Joelma Oliveira Gonzaga, assim como autoridades da prefeitura, Gramadotur e governo estadual.

A exibição dos filmes concorrentes já se inicia na sequência, a partir das 13h, no Palácio dos Festivais. Já será a 20ª edição do Prêmio Assembleia Legislativa de Cinema - Mostra Gaúcha de Curtas. O "Gauchão" tem 23 títulos. A competição será concluída no domingo, também a partir das 13h e com entrada franca.

Na noite de domingo (13), às 22h30min, serão conhecidos os vencedores do Prêmio Assembleia Legislativa de Cinema - Mostra Gaúcha de Curtas e a entrega do Troféu Sirmar Antunes (para Vera Lopes), e dos Prêmios Leonardo Machado (para Clemente Viscaíno) e O Futuro Nos Une (para Valéria Barcellos, Glênio Póvoas e Jorge Henrique “Boca”). A premiação terá transmissão pela televisão e pelo site do Festival. Os gaúchos poderão acompanhar a cerimônia pela TV Assembleia e, também, pela TVE-RS.

Os ingressos para a sessão noturna dos dias 12 e 19 de agosto - noite de premiação, estão esgotados. O público interessado em acompanhar a exibição dos filmes em competição e as homenagens pode adquirir os ingressos para os demais dias do evento presencialmente, na Sociedade Recreio Gramadense ou no site do evento

Os ingressos não são numerados, prevalecendo a ordem de chegada. Também não há distinção entre plateia e mezanino. Para as sessões de 13 a 18 de agosto, o ingresso custa R$ 100,00, com opção de meia entrada para os grupos que se enquadram na Lei Federal nº 12.933/2013.

Longa gaúcho tem pré-estreia na Serra

Com estreia comercial nos cinemas marcada para o dia 24, o longa O Acidente, rodado em Porto Alegre em 2019, foi selecionado para a Mostra de Longas Gaúchos do Festival de Cinema de Gramado e tem sessão na quarta-feira (16), às 14h, no Palácio dos Festivais (Borges de Medeiros, defronte à Rua Coberta, do lado da Igreja São Pedro.

Seu diretor é o realizador porto-alegrense de 35 anos Bruno Carboni, reconhecido montador do cinema do estado. Ele assina a montagem de um outro título gaúcho atualmente em cartaz, Depois de Ser Cinza.Premiado curta-metragista, o cineasta estreia na direção de longas com O Acidente.

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Na trama, a ciclista Joana sofre um atropelamento na Perimetral. Ela é carregada no capô de um carro após confrontar uma motorista que a cortou no trânsito. A jovem sai pouco machucada e, de início, decide esconder o ocorrido de sua parceira, temendo que isso afete os planos do casal. No entanto, um vídeo viral aparece, obrigando-a a registrar ocorrência policial.


Na trama, a ciclista Joana sofre um atropelamento na Perimetral / Foto: Tuane Eggers

A produção conta com a direção de arte de Richard Tavares, direção de fotografia de Glauco Firpo, trilha sonora de Maria Beraldo, e figurino de Gabriela Guez. Carboni conta mais sobre esse grande projeto na entrevista a seguir:

Brasil de Fato RS - Como surgiu a ideia de trazer essa narrativa, com essas personagens, abordando esses temas. O argumento tem uma inspiração em um fato local verídico?

Bruno Carboni - Posso dizer que o embrião desta ideia veio a partir de um vídeo com o qual me deparei nas redes sociais, por volta de 2016. Nele, via-se justamente uma ciclista sendo carregada no capô de um carro e, ao fim do vídeo, notava-se que quem dirigia o veículo era outra mulher e que tinha sua filha adolescente junto com ela.

BdF RS - O fato de serem duas mulheres os lados opostos desse incidente foi determinante para ele ser contado/recriado?

Carboni - Tal vídeo vinha acompanhado de um depoimento da ciclista, que se mostrava chocada, mas também moralmente intrigada com a situação, pois não gostou da maneira violenta como a polícia tratou a outra mulher. Diria, então, que foi determinante essa inspiração e que nela tinha esse contexto do choque entre as duas mulheres e as complexidades que surgiram disso. A partir daí, compartilhei essa situação com a roteirista Marcela Bordin e a ficção foi tomando conta das nossas cabeças e os personagens criando vida própria.

BdF RS - Quanto tempo O Acidente tem de trajetória até chegar ao circuito comercial agora em agosto de 2023?

Carboni - Essa jornada entre a ideia até o filme em cartaz costuma ser muito longa na prática de se fazer cinema no Brasil, mas foi a pandemia que realmente prolongou o percurso até as telas. Posso dizer que a ideia surgiu por 2016, mas foi em 2018 que recebemos um fundo da Ancine para viabilizá-la e, nesse ano também, fomos selecionados para um prestigiado laboratório de roteiro do festival de Turim (Itália), chamado Torino Scriptlab, que foi criativamente fundamental para o filme.

Em 2019, rodamos e já entramos em um intenso processo de edição, que acabou sendo freado em 2020, com o início da pandemia da covid-19. O longa acabou sendo meu companheiro naqueles dias tão tristes de reclusão social e trabalhei nele pacientemente, esperando para finalmente mostrá-lo em 2022, nas salas de cinema, onde tenho certeza que a experiência do espectador com ele é muito mais potente.


O diretor porto-alegrense de 35 anos Bruno Carboni é um reconhecido montador do cinema do estado / Foto: Tuane Eggers

BdF RS - Na tua estreia na direção de longas, chamas alguém pra dividir contigo a montagem. Podes explicar isso, como funciona essa necessidade de ter o olhar de um outro profissional pra decidir sobre os cortes, já que este é o “teu chão”?

Carboni - Justamente por ter essa trajetória como montador, foi natural para mim observar em volta que as pessoas que dirigiam os filmes tinham muita dificuldade em montar o próprio material. É uma função que muitas vezes exige forte desapego de ideias queridas no roteiro, por conta de dificuldades na filmagem, e também criatividade para construir novas ideias.

Nisso, é muito saudável ter alguém para debater constantemente e tive o privilégio de ter meu ao meu lado o amigo, e grande montador, Germano de Oliveira, que foi fundamental para a forma que o filme tomou. Mas, por minha proximidade com a função, admito que também foi muito difícil não ir testando coisas na edição por conta própria, e como disse anteriormente, a pandemia acabou me dando bastante tempo para ir ajustando a montagem.

BdF RS - Podes falar também sobre a parceria com a Marcela Bordin (curta Princesa Morta do Jacuí) no roteiro? Houve a preocupação com uma perspectiva feminina do cotidiano contemporâneo?

Carboni - A parceria de roteiro com a Marcela Bordin já nasceu em O teto sobre nós (2015), curta que dirigi. Depois disso, colaboramos seguidamente nos projetos um do outro. A Marcela é uma grande conhecedora da literatura feminista, tanto na forma de romance, quanto teórica, então sem dúvida ela foi fator fundamental para que essa perspectiva estivesse no filme e que fosse tratada sob um olhar contemporâneo.

Mas devo acrescentar que as produtoras Paola Wink e Jessica Luz também sempre contribuíram para essa ótica e, posteriormente, as conversas com as mulheres do elenco, como a Carol Martins, Gabriela Greco e Carina Sehn também contribuíram fortemente com diversos detalhes que alteraram o roteiro do filme.

BdF RS - Os nomes que aparecem em cena são do teatro de Porto Alegre, não tem nenhum ator muito “conhecido”. Como foi a composição do elenco? Testes foram necessários?

Carboni - É notório que a cena de teatro de Porto Alegre tem inúmeros profissionais de muita qualidade, que dedicam sua vida a estudar dramaturgia e que também poderiam contribuir muito para o cinema local. Infelizmente, nossa produção audiovisual ainda é baixa e não consegue criar um fluxo de produção que dê oportunidades para que muitos apareçam e aprendam as técnicas específicas da área.

No caso de O Acidente, escrevemos o filme sem imaginar nenhum ator particular nos papéis, então os testes foram necessários, até para que pudéssemos conhecer diferentes atrizes e atores e sentir aqueles que tinham características mais parecidas com os rostos que imaginávamos.

BdF RS - Houve preparador de elenco na produção? Tu te consideras um bom diretor de atores?

Carboni - Depois da seleção, o alagoano René Guerra fez um incrível processo de preparação com o elenco e me ensinou muitas ferramentas para que eu pudesse dirigir os atores. Como trabalho principalmente na parte da montagem, longe das filmagens, este aspecto de contato humano da produção é realmente um desafio para mim e foram fundamentais as conversas com o René e o tempo de ensaio como os atores, para que pudéssemos estabelecer uma dramaturgia similar entre todo o elenco.

BdF RS - A Porto Alegre do longa é muito realista e contemporânea, ela não é apenas pano de fundo. Essa busca do naturalismo era uma intenção do filme?

Carboni - Trabalhando em diversas produções, e também como consumidor da cinematografia local, sentia falta de ver dramas urbanos ambientados em Porto Alegre, que trouxessem essas particularidades das relações sociais da cidade. Um pouco inspirado nos contos morais do cineasta Eric Rohmer, acreditava que isso também era possível de se fazer aqui e então diria que busquei um certo naturalismo de roteiro para mostrar isso, muito embora também tenha buscado me afastar do naturalismo nas escolhas de enquadramento de câmera e em certos momentos da dramaturgia.

BdF RS - Como foi a escolha das locações? Elas já estavam no roteiro original ou teve alguma situação de logística de produção que precisou mudar os planos?

Carboni - Sobre as locações, diria que foram fruto do que encontramos no processo de pré-produção e que eram possíveis dentro do nosso orçamento, mas sempre neste foco de mostrar outras partes de Porto Alegre, que não os cartões postais mais reconhecidos.

BdF RS - Às vésperas da estreia em sala comercial, O Acidente será exibido em Gramado na mostra competitiva de longas gaúchos. Porém, em 2022, as estreias internacional e nacional foram também em festivais. Como foi a repercussão? O título não foi inscrito para Gramado em 2022?

Carboni - O filme foi inscrito na mostra nacional de Gramado em 2022, mas acabou não sendo selecionado naquele ano, assim como nenhum outro longa gaúcho. Felizmente tivemos nossa janela de exibição logo em seguida no Cine Ceará e, quase que simultaneamente, na mostra Novos Rumos do Festival do Rio de Janeiro, que nos permitiu mostrar esse trabalho, fruto de tantos profissionais, para o cenário nacional. Dali já recebemos ótimas críticas e pudemos ver que o filme cria forte conexão afetiva com muitas pessoas do público.

Mas diria que os retornos mais inusitados vieram da carreira internacional, como o Festival de Tallinn (Estônia), de Turim (Itália), e de Pequim (China), pois neles se pode notar contrastes culturais muito evidentes e que rendem ótimos debates. Na China, inclusive, a bicicleta é muito popular (não há tanto esse embate de espaço no trânsito) e o governo não financia filmes com temática LGBT, então o olhar deles sobre o filme era completamente outro e foi realmente um privilégio poder vivenciar essa troca cultural lá.

Programação do dia da abertura

12 de agosto (Sábado)

10h | Abertura oficial | Orquestra Sinfônica de Gramado
Local: Sociedade Recreio Gramadense 

13h | Palácio dos Festivais | MOSTRA CURTAS GAÚCHOS 

Messi, de Henrique Lahude e Camila Acosta

Fitoterapia, de Eduardo Piotroski

Tremendo Trovão, de Rubens Fabricio Anzolin

Fiar o vento, de Mari Moraga

Os Féders vão dormir, de Eder Ramos

Flora, de Ana Moura

Glênio, de Luiz Alberto Cassol

Colapso, de Lucas Tergolina e Matheus Melchionna

Concha de água doce, de Lau Azevedo e João Pires

Livra-me, Felipe da Fonseca Peroni

Carcinização, de Denis Souza

O tempo, de Ellen Correa

17h30 | Palácio dos Festivais

Longa-Metragem de Abertura | Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho

Mostra competitiva

YÃMÎ YAH-PÁ, de Vladimir Seixas

Deixa, de Mariana Jaspe

Ângela, de Hugo Prata


Edição: Katia Marko