Sempre no nosso coração, sempre com nossa comunidade
Em homenagem a Roque Finkler, a meu papai Léo e a todos os papais no seu Dia, e aos sempre confrades franciscanos
Quatro comunidades em especial fazem parte da minha vida, história e formação.
1. Faz e fará parte sempre na minha vida e história a Comunidade São Luiz, na Vila Santa Emília, Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, junto com outras comunidades vizinhas, onde vivi toda a infância, os tempos de férias e descanso, e pude voltar por mais tempo durante a pandemia do coronavírus, sempre acolhido fraternalmente, sempre em casa. Foi onde aprendi quase tudo: o amor da família numerosa, o amor à terra, a saúde dos alimentos adequados e saudáveis produzidos na própria roça da família, o cuidado com a natureza e a Casa Comum, a preocupação com a comunidade todos os dias, com o futebol na Sociedade São Luiz e no Esporte Clube São Luiz, a fé católica envolvida de caridade e de esperança.
2. Em segundo lugar, o Seminário Seráfico dos freis franciscanos, em Taquari, Rio Grande do Sul, onde entrei com 11 anos, em 1963, e fiquei até o final de 1969. Conheci os frades franciscanos, e me embebi pelo resto da vida de seu amor pela vida e pela construção do Reino de paz e justiça já aqui neste mundo, convivendo com centenas de colegas seminaristas, tendo que cuidar da própria cama, aprendendo português, começando a ler, ler, ler, a escrever, escrever, escrever, estudando latim e grego, vivendo o futuro e a esperança.
3. Por terceiro, a Comunidade da Vila Franciscana, dos estudantes franciscanos, de 1971 a 1976, na Rua Frei Germano, 572, bairro Partenon, Porto Alegre, depois de passar 1 ano em Daltro Filho, então município de Garibaldi. Morei na capital dos gaúchos com meu Mestre e professor Dom Cláudio Hummes, com os colegas da Filosofia, Teologia, participando da Pastoral da Juventude e do movimento estudantil, sempre acolhido e reconhecido nas minhas opções de vida, mesmo quando expulso da PUCRS por questões políticas e vendo negada, em 1976, minha ordenação sacerdotal, sonho e preparação de uma vida inteira.
4. Em quarto, e na sequência da história, a vida na Comunidade franciscana na parada 13, Rua São Pedro, 110, Vila São Pedro, Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre e Viamão. Morei com o confrade e primo Frei Arno Reckziegel, onde e quando aprendi a cozinhar depois de (quase) velho), e sendo envolvido nas CEBs, Comunidades Eclesiais de Base, e Pastorais, amparadas pela Teologia da Libertação com Leonardo Boff, Gustavo Gutierrez, Frei Betto Entrei, para nunca mais sair, nas lutas comunitárias, na construção do movimento sindical combativo, ajudando a unir as comunidades das muitas vilas da Lomba, as Associações de Bairros, a criação da União de Vilas da Lomba do Pinheiro, a luta por água, saneamento, educação, saúde, direitos, emprego, salário, o envolvimento político-partidário, o Núcleo do PT da Lomba do Pinheiro, o Orçamento Participativo, educação popular e Paulo Freire na veia: vida em ebulição, mas sempre em comunidade, sempre em comunhão e participação.
Quem vive ou tem no centro da sua vida comunidades como as acima citadas, e tantas outras, sabe o que significam. A comunidade cuida do que é comum, do que une, do que se partilha, constrói a solidariedade, ninguém solta a mão de ninguém, todo mundo lutando e construindo junto, com coragem e unidade, o sonho e a utopia da sociedade do Bem Viver.
Toda vez que se perde inesperadamente, e antes do tempo, um líder comunitário, um amigo, um companheiro, uma companheira, como tem acontecido ultimamente, vai junto um pouco da nossa vida. Mas ao mesmo tempo permanecem seus compromissos, sua fidelidade, seus sonhos e ideais. Estamos em tempos que não andam fáceis. O ódio, a intolerância, a violência estão muitas vezes presentes no cotidiano das famílias e das comunidades.
Por isso, estas minhas palavras - “Immer in unser Herz, immer mit unsere Gemeinde” -, foram ditas por mim há semanas na despedida de Roque Finkler, agricultor agroecológico e líder comunitário, na comunidade São Miguel, Santa Emília, Venâncio Aires, palavras de sentimento e referência ao coração e à comunidade. No Dia dos Papais, vai minha eterna homenagem a papai Léo, que sempre marcou presença na comunidade São Luiz de Santa Emília, e a todos os papais que, além de cuidarem da sua família, cuidam das suas comunidades como se fossem suas famílias. Estão e estarão sempre nos nossos corações. Estão e estarão sempre com nossas comunidades, no cuidado com a Casa Comum.
Não poderia faltar, ao final, um poema do poeta Selvino Heck aos Léos. É dedicado ao Léo que está por nascer, filho da Thaís, Assessora ontem e hoje da CNAPO, Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, e do Renato, nome dado por eles em homenagem ao seu falecido avô Léo. E dedicado ao meu falecido papai Léo, ao papai Roque e aos papais:
“ELE SE CHAMA LÉO. Ao Léo, que vai nascer./ Ele se chamará Léo./ Ele se chama Léo desde já,/ ainda na barriga da mamãe Thais./ Ele será grande,/ ele será forte,/ como papai Renato./Ele se chama Léo./ Da sabedoria,/ do olhar terno,/ do cuidado com a Casa Comum,/ como seu avô Léo,/ como meu papai Léo./ São Léos de todas as cores,/ de todas as etnias,/ de todas as origens,/ Léos de todos os amores./ Ele se chamará Léo,/ com o olhar doce de mamãe Thaís./ Vai cuidar do tempo,/ vai cuidar do amor,/ vai cuidar da natureza,/ agroecologicamente./ Léo vai descobrir a beleza,/ vai andar de mãos dadas com papai e mamãe,/ vai sorrir de felicidade./ Os amigos vão chegar,/ o mundo vai se abrir para seus olhos,/ sempre abertos para seus braços e abraços,/ e algumas saudades de vez em quando./ Viva o Léo que está vindo!/ Viva o Léo e a esperança!/ Viva o Léo da alegria!/ Viva o Léo da vida,/ do prazer/ e do amor!/ Sempre!”
“Immer in unser Herz, immer mit in unsere Gemeinde – Sempre no nosso coração, sempre com nossa comunidade”, como aprendi com papai Léo, como aprendi, e ainda aprendo, nas comunidades. Viva todos os papais no seu dia, e sempre! Viva as comunidades!
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko