Rio Grande do Sul

PELA EDUCAÇÃO

Estudantes protestam contra Novo Ensino Médio e aumento de tarifa do transporte intermunicipal em Porto Alegre

Diversas escolas da Capital também reivindicaram mais verbas para a educação em nível federal  

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Movimento teve como principal objetivo reivindicar a revogação do Novo Ensino Médio - Foto: Juliano Silva

O Dia do Estudante, celebrado nesta sexta-feira (11) em todo o país, serviu como um fator de mobilização para os centenas de alunos que participaram do protesto realizado no final da manhã em Porto Alegre. O movimento teve como principal objetivo reivindicar a revogação do Novo Ensino Médio, que de acordo com os estudantes e professores, está trazendo graves prejuízos para o aprendizado e reduzindo as oportunidades de acesso ao ensino superior. 

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Além disso, também esteve na pauta a contrariedade com relação ao recente aumento na passagem de ônibus coletivo intermunicipal comum da Região Metropolitana de Porto Alegre – cujo maior crescimento ocorreu nas modalidades direto, semidireto, executivo e seletivo: 24,09%. Outro tema que integrou as demandas diz respeito às condições estruturais precárias das instituições de ensino gaúchas. 

O protesto iniciou por volta das 9h, em frente ao Colégio Estadual Júlio de Castilhos, no bairro Santana. Além de alunos do Julinho, também contou com estudantes das escolas Inácio Montanha, Emilio Massot, Escola Técnica Estadual Parobé e Escola Técnica Estadual Ernesto Dornelles. 

Portando faixas e cartazes e entoando palavras de ordem, o grupo decidiu realizar uma caminhada pelas ruas da Capital para reforçar a denúncia contra os retrocessos nas políticas públicas que prejudicam a vida do estudante. Escoltados pela Fiscalização de Trânsito e Brigada Militar (BM), eles seguiram pela Av. João Pessoa, passando pelo Centro até chegar no Largo Zumbi dos Palmares, no bairro Cidade Baixa.  

Segundo o líder estudantil e representante do movimento Ocupe Matheus Vicente, a revogação do Novo Ensino Médio é uma luta que deve envolver os estudantes e a sociedade como um todo – especialmente os filhos de trabalhadores que buscam oportunidades reais de trabalho e de formação educacional.

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“A reforma do Ensino Médio foi aprovada pelo governo Temer, em 2016, e implantada pelo governo de Bolsonaro em 2022, e agora o Lula quer maquiar. Então a gente está nas ruas para dizer ao presidente que, se ele manter o Novo Ensino Médio será um estelionato eleitoral”, destaca Matheus.   

Para a representante do Grêmio Estudantil do Inácio Montanha Carla Monteiro, a manifestação é um recado que deve ser ouvido pelos gestores políticos, dado por aqueles que vivenciam essa realidade cotidianamente. Ela comenta a importância de buscar a adesão de mais jovens em torno do movimento. 

“O Novo Ensino Médio quer que não tenhamos controle de nosso próprio futuro. Esse modelo não contou com o voto do estudante e é um sistema que não condiz com a realidade. Queremos que a nossa voz seja ouvida para mudarmos isso, e gritamos bem alto para nossos governantes e o prefeito Melo”, afirma a jovem. 


Outro tema que integrou as demandas diz respeito às condições estruturais precárias das instituições de ensino gaúchas / Foto: Juliano Silva

Burocratização do Tri Escolar e do cartão TRI

Outra demanda considerada urgente passa pelo transporte de estudantes de cidades da Região Metropolitana e da Capital. O recente aumento na tarifa do transporte intermunicipal e a burocratização dos processos de inscrição para obtenção de gratuidades, como o cartão TRI, o Vou à Escola – são fatores que intensificam a atual crise do sistema na Capital. 

Segundo a EPTC, em 2019, no início da gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB), eram 101.015 estudantes que utilizavam o cartão TRI, número que caiu para apenas 23.256 em 2022, o que representa uma redução de 77%.  

Para Matheus Vicente, isso reflete o estado catastrófico pelo qual o transporte público passa atualmente, aumentando as dificuldades de deslocamento para os estudantes. Nesse sentido, ele aponta que é fundamental a manutenção das gratuidades existentes e redução da burocracia para o registro mais fácil do passe livre-estudantil. 

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“Tem muitos estudantes que pegam ônibus intermunicipal e estão sofrendo com o aumento da passagem executada pelo governador Eduardo Leite. Já o passe-livre estudantil, o Vou à Escola, tem sofrido ataques que visam burocratizar o acesso a esse direito conquistado com muita luta dos estudantes. A gente quer passe-livre para todos, não somente meia-passagem. Estamos também em defesa do Tri Escolar, em nível municipal, que sofre os mesmos ataques”, argumenta. 

Saiba quais são as principais mudanças do Novo Ensino Médio

• O novo modelo prevê a obrigatoriedade de apenas duas disciplinas – Português e Matemática –, que fazem parte de um currículo integrado que sintetiza todo o conjunto de matérias em quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

• Assim, as demais matérias antes individualizadas – Arte, Educação Física, Língua Inglesa, Biologia, Física, Química, Filosofia, Geografia, História e Sociologia – foram divididas em apenas duas áreas de conhecimento. Na visão de professores e de alunos, a retirada de matérias de formação intelectual e humana empobrece a capacidade de aprendizado.

• Outro motivo de crítica é a redução da carga horária de aulas presenciais de 2,4 mil horas anuais para 1,8 mil obrigatórias e 1,2 mil eletivas.

• A oferta de disciplinas eletivas retira a formação do senso crítico e foca em formação profissional para atividades precarizadas, de acordo com os sindicatos e entidades estudantis. 


Edição: Katia Marko