A CUT, nos seus 40 anos, continua lutando por direitos, por democracia, por emprego e salários
O final dos anos 1970 e o início dos anos 1980, em plena ditadura militar, foram anos e tempos de efervescência em todos os níveis: greves, ocupações urbanas e rurais, mobilização social, trabalho de base, formação, conscientização e educação popular.
Foram anos e tempos das grandes greves dos Metalúrgicos no ABC, com repercussão em todo Brasil. Na Lomba do Pinheiro, por exemplo, foi organizado um Fundo de Greve em seu apoio, com arrecadação de alimentos e tudo mais. A greve dos bancários em Porto Alegre marcou época. Assim como a greve dos trabalhadores da construção civil em Porto Alegre, com uma caminhada de mais de 10 quilômetros do início da Avenida Protásio Alves até o estádio dos Eucaliptos do Internacional, para uma Assembleia com milhares de participantes. Foram anos e tempos da mítica Santarém no Pará, entre outros tantos exemplos de luta por todo Brasil.
Aconteceram as primeiras ocupações no campo, as fazendas Macali e Brilhante em 1979, o Acampamento da Encruzilhada Natalino, os agricultores familiares e camponesas mostrando sua força e sua mobilização, Ronda Alta sendo conhecida em todo Brasil, o surgimento do MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Resultado e necessidade das lutas, surgiu a ANAMPOS, Articulação nacional dos Movimentos Populares e Sindical, com seu primeiro Encontro em João Monlevade, MG, depois em Taboão da Serra, SP, em seguida em Vitória, ES, mais adiante Recife, PE: movimento sindical, movimentos populares, Pastorais, campo e cidade juntos no debate, na articulação, lutas, trabalho de base e formação política.
Sempre lembrando das condições de então, início dos anos 1980: Olívio Dutra, João Pedro Stédile e eu indo e voltando de ônibus a São Paulo e outros lugares. Na sequência, em Praia Grande, SP, aconteceu a CONCLAT, Conferência Nacional da Classe trabalhadora, primeiro Encontro nacional da classe trabalhadora, ainda em tempos de ditadura militar.
Foram anos e tempos de surgimento do sindicalismo combativo, das Oposições Sindicais, por exemplo, a dos metalúrgicos de Porto Alegre, a do SINPRO, Sindicato dos Professores particulares do Rio Grande do Sul, dos metalúrgicos de São Leopoldo, as lutas dos sapateiros de Sapiranga e região, assim como dos agricultores familiares e camponeses no Norte Rio Grande do Sul, Palmeira das Missões e região, Aratiba e região e as lutas dos atingidos por barragens, Oeste de Santa Catarina, Chapecó e arredores, Sudoeste paranaense, Francisco Beltrão e região.
Foram anos e tempos de movimento comunitário em crescimento, com a FRACAB, Federação Riograndense de Associações Comunitárias e de Bairros, a criação da União de Vilas da Lomba do Pinheiro, das lutas da Grande Cruzeiro em Porto Alegre, das ocupações em Canoas, com o surgimento da vila Santo Operário, da organização comunitária na Vila Fátima em Cachoerinha e em muitos outros lugares.
Foram anos e tempos de ONGs, Organizações Não Governamentais, no apoio à luta popular e sindical, no trabalho de base e formação política, como a FASE, Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, em Porto Alegre, do CECA, Centro Ecumênico de Capacitação, em Caxias do Sul, depois em São Leopoldo, a fundação do CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, em março de 1983 em Porto Alegre.
Foram anos e tempos de surgimento da Teologia da Libertação na América Latina, que completa 50 anos em 2023, das Pastorais Sociais e Populares, na luta popular, ligando fé e política, fazendo formação e organização popular: as CEBs, Comunidades Eclesiais de Base, a CPT, Comissão Pastoral da Terra, a PO, Pastoral Operária, o CIMI, Conselho Indigenista Missionário, a PJ, Pastoral da Juventude, o COM, Centro de Orientação Missionária em Caxias do Sul, a JOC, Juventude Operária Católica, as Romarias da Terra.
Foram anos e tempos de fundação do PT, Partido dos Trabalhadores, e seus Núcleos de Base como o da Lomba do Pinheiro, a participação nas eleições de 1982 (o PT elegeu um único vereador em todo Rio Grande do Sul), a mobilização das Diretas-Já e a preparação de uma Constituinte livre e soberana.
Foram anos e tempos de muito trabalho de base, mobilização social, formação, tudo ao mesmo tempo. Era preciso marcar presença e participar em tudo e de tudo: das greves, da luta de bairro, da organização sindical, das ações de formação, dos Grupos de Reflexão, das ocupações urbanas e rurais.
Neste contexto e com esta base social, surgiu a proposta de criar uma Central de Trabalhadores, a CUT, Central Única das Trabalhadoras e dos Trabalhadores, fundada em grande Assembleia no Colégio Rosário em Porto Alegre em agosto de 1983 e, no mesmo agosto de 1983, foi fundada a CUT em nível nacional, em São Bernardo do Campo, SP.
Foram anos e tempos de muito trabalho de base, mobilização social, formação e organização popular, as lutas todas, campo e cidade, movimento sindical e comunitário, ação partidária em sintonia e diálogo permanente. A CUT surgiu e foi construída comprometida com o conjunto da classe trabalhadora, lutando por direitos, por democracia, por Diretas-Já, por igualdade justiça social e soberania.
Foram anos e tempos de solidariedade. Assim como acontece hoje, quando a CUT/RS, nos seus 40 anos bem vividos, continua lutando por direitos, por democracia, por emprego e salários. E, mantendo fidelidade às suas origens, em 2023 organiza os Comitês Populares de Luta, os Comitês Populares contra a Fome, as Cozinhas Comunitárias e Solidárias. E está presente em todos os espaços onde as trabalhadoras e os trabalhadores se organizam e lutam. Em 2023, a CUT/RS realiza seu 16º Congresso, com tema mais que atual e coerente com sua história de 40 anos: Luta, Direitos e Democracia que Transformam Vidas.
Viva a CUT/RS, viva a CUT nacional e seus 40 anos! Na boa luta, ESPERANÇAR.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko