Uma carta assinada por mais de 30 entidades foi enviada a cada um dos artistas escalados para participar do Festival Turá, que será realizado nos dias 18 e 19 de novembro, contando o que tem acontecido no Parque Harmonia devido às obras da empresa GAM3 Parks e pedindo aos músicos que não participem do evento.
Entre os artistas estão nomes como Caetano Veloso, Emicida, Alceu Valença, Bacu Exu do Blues, Duda Beat, Fresno, Pitty, Império da Lã e Bloco da Laje, entre outros. A carta foi enviada no último domingo (23).
“Nós cidadãos porto-alegrenses, de forma autônoma e através de coletivos, movimentos e entidades socioambientais, estamos protestando e exigindo dos órgãos competentes, ações para frear a destruição deste importante parque da cidade, recentemente concedido pela prefeitura de Porto Alegre para a exploração comercial da empresa GAM3 Parks por longos 35 (trinta e cinco) anos!”, diz o trecho inicial da carta.
O documento conta um pouco da história do Parque Harmonia e explica a polêmica obra em curso na capital gaúcha, com destaque para o patrimônio natural da área, que possuía mais de 80% de vegetação de campos e árvores, sendo berçário e casa de inúmeras espécies dos biomas Mata Atlântica e Pampa. O texto destaca a presença de 85 espécies de aves, estando em primeiro lugar no ranking entre 7 parques urbanos de Porto Alegre neste aspecto.
“A área abriga, ou abrigava antes da destruição atual (vide fotos), anfíbios, répteis (tartarugas que depositam seus ovos no local) e mamíferos silvestres (gambás, preás, etc.). Nas atuais obras sobre o parque nada disso foi avaliado, não tendo ocorrido nenhum licenciamento ambiental que não o restrito à impressionante autorização por parte da prefeitura de corte de 1/3 (um terço) de árvores (432 solicitadas ao corte/1.253 existentes)”, diz outro trecho da carta.
Os signatários afirmam que o governo do prefeito Sebastião Melo se aproveitou da pandemia de covid-19 e, em março de 2021, num dos momentos mais graves da crise sanitária mundial, concedeu o trecho 1 da Orla do Guaíba e o Parque Harmonia por 35 anos à empresa GAM3.
“Desconsiderando os interesses da população, o Parque Harmonia atualmente está sendo devastado e modificado para receber um parque de diversões e estacionamento, em absoluto desacordo com o que previa o Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU) aprovado pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA) de Porto Alegre”, afirma o documento.
Os autores da carta ainda destacam a denúncia feita pelos próprios arquitetos de que o projeto original aprovado sofreu alterações significativas, como o aumento do corte de 80 árvores para até 432 árvores; e a construção de edificações com no máximo 12 metros de altura que passou para até 25 metros.
Mostrando imagens do parque antes e depois do início das obras, a carta faz o pedido: “Portanto, te convidamos para que olhe para a paisagem do Parque Harmonia antes e depois das intervenções da empresa concessionaria GAM3 e se posicione contra a destruição ambiental para exploração comercial do Parque Harmonia!”.
O documento encerra com o pedido explícito para que os artistas revejam sua participação no Festival Turá.
“Contamos com teu apoio para lutar pela preservação do Parque da Harmonia, valorizando as áreas e parques públicos como espaços de qualidade ambiental para todas as formas de vida e para usufruto de toda coletividade. Considere não participar do Festival Turá no Parque Harmonia! Ficaremos muito felizes com a sua presença em nossa cidade como um aliado na defesa pela integridade dos nossos parques, praças e espaços públicos!”
Leia a carta na íntegra
Outro lado
Em resposta à carta de ambientalistas que pede para que os artistas desistam de participar do Festival Turá, a GAM3 Parks se manifestou reiterando seu compromisso com o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Parque Harmonia.
Leia a íntegra da nota:
“A GAM3 Parks, empresa responsável pela concessão do Parque Harmonia e Trecho 1 da orla, tem como compromisso a preservação do meio ambiente e sustentabilidade, e deseja assegurar a todos que seguimos rigorosamente todas as leis e regulamentos ambientais estabelecidos pelas autoridades competentes.
A decisão de realizar a revitalização do parque foi tomada após um criterioso estudo de impacto ambiental, no qual foram avaliados diversos aspectos para minimizar ao máximo os danos. A ação foi pautada em critérios técnicos e visou a segurança e o bem-estar dos frequentadores do parque.
Salientamos que estamos constantemente em consonância com órgãos fiscalizadores e ambientais, com o intuito de garantir que todas as práticas adotadas estejam em conformidade com as exigências legais.
Além disso, investimos em projetos de reciclagem, programas de educação ambiental e outras iniciativas que promovem a conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente.
Deste modo, a GAM3 Parks reitera seu compromisso de que todas as atividades realizadas no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho estão dentro da legalidade.”
Edição: Sul 21