Rio Grande do Sul

CINEMA

A experiência das mulheres será o destaque do Festival de Gramado em 2023

Lucy Barreto, Laura Cardoso, Léa Garcia, Ingrid Guimarães e Alice Braga são as homenageadas desta edição

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Atriz Léa Garcia receberá Troféu Oscarito no 51º Festival de Cinema de Gramado - Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto

Neste ano, todas as homenagens do Festival de Cinema de Gramado serão destinadas a mulheres. A 51ª edição ocorre de 11 a 19 de agosto, na Serra Gaúcha. Esta será a primeira vez que todos os troféus do evento terão donas do sexo feminino. São cinco nomes de mulheres de incontestável marca e contribuição para o audiovisual brasileiro.

O ineditismo também se dará em uma entrega dupla do Troféu Oscarito, que é a homenagem mais antiga do festival e destaca as trajetórias históricas na interpretação. O primeiro agraciado, por exemplo, em 1990, foi o próprio Grande Otelo, grande parceiro de cena do ator que dá nome à distinção. Esta será a pioneira oportunidade em que a honraria será entregue para dois nomes: Léa Garcia e Laura Cardoso. 

Troféu Oscarito para Léa Garcia

Léa Garcia possui uma história antiga com Gramado, tendo conquistado Kikitos com o longa Filhas do Vento (grande vencedor da edição de 2004) e os curtas Hoje tem Ragu (2008) e Acalanto – um filme maranhense ganhador da edição de 2013. 

Aos 90 anos, a veterana possui no currículo mais de 100 produções, incluindo teatro e televisão. Com uma célebre trajetória nas artes, foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes em 1957 por sua atuação em Orfeu Negro (que, em 1960, ganharia o Oscar de melhor filme estrangeiro, representando a França). 

A atriz teve papéis marcantes em produções como Selva de Pedra, Escrava Isaura e Xica da Silva. Léa segue na ativa: em 2022, atuou nos longas Barba, Cabelo e Bigode, Pacificado e O Pai da Rita, trabalhando novamente, neste último, com o cineasta Joel Zito Araújo, o diretor de Filhas do Vento e que recebeu no ano passado o Troféu Eduardo Abelin. 


A atriz Laura Cardoso brilhou no último capítulo de "O outro lado do paraíso" / Reprodução

Troféu Oscarito para Laura Cardoso

Laura Cardoso é uma das atrizes mais premiadas do país e a que mais estrelou telenovelas, totalizando mais de 80 trabalhos. Já recebeu diversos prêmios, incluindo três Grande Otelo, quatro Prêmios APCA, dois Troféus Imprensa e dois Prêmios Shell. Em 2002, foi laureada com o Troféu Mário Lago pelo conjunto da obra e, em 2006, foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural. 

Com 95 anos e mais de sete décadas dedicadas ao ofício, Cardoso foi pioneira na televisão, estreando em 1952 na TV Tupi. Seus últimos trabalhos no cinema foram no curta Jadzia e no longa De Perto Ela não é Normal, ambos de 2020, mas ela quer continuar filmando.

Kikito de Cristal para Alice Braga

Neste ano, um fato diferente também no Kikito de Cristal. Como a distinção é destinada a profissionais reconhecidos na esfera internacional do cinema, nos últimos anos, a grande maioria dos agraciados foi de países vizinhos (Cecilia Roth, Soledad Villamil, Leonardo Sbaraglia e Jean Pierre Noher). Já aconteceu de diretores nacionais receberem, como Eduardo Coutinho (o primeiro, em 2007) e Ruy Guerra, mas é a primeira vez que uma brasileira é convidada para vir à Serra Gaúcha confeccionar o prêmio, ajudando a esculpir a escultura na Cristais de Gramado.

Alice Braga consolidou seu nome em Hollywood e já foi bastante premiada no Brasil e fora dele. Ela já participou de mais de 30 produções, atuando ao lado dos principais atores e sob a batuta de grandes diretores da atualidade da sétima arte.

A atriz esteve em Cidade de Deus em 2002. Depois, protagonizou o triângulo do forte Cidade Baixa (2005), com Wagner Moura e Lázaro Ramos. Quando estava começando, era chamada de “a sobrinha de Sônia Braga”, relacionando sua guinada para o mercado internacional.

Participou de grandes produções como Ensaio sobre a Cegueira, Eu Sou a Lenda, O Ritual, Novos Mutantes e Esquadrão Suicida. Entre 2016 e 2021, protagonizou a série Queen of the South, baseada no romance La Reina Del Sur. No Brasil, mais recentemente, protagonizou o longa Eduardo e Mônica (2022) e ganhou o Prêmio APCA de Cinema. 

Troféu Eduardo Abelin para Lucy Barreto

A produtora Lucy Barreto, aos 90 anos, receberá o Troféu Eduardo Abelin (honraria que leva o nome de um dos pioneiros do cinema gaúcho), concedida a realizadores e entidades pelo trabalho feito em benefício do audiovisual brasileiro. Mineira de Uberlândia, Lucy se dedica à carreira cinematográfica desde o final da década de 1960. 

Começou como assistente de cenografia de Cacá Diegues, em Os herdeiros (1968). Estreou como produtora em O Homem das Estrelas, de Jean-Daniel Pollet (1971). Entre os anos 1970 e 2000, trabalhou com os principais diretores de nossa cinematografia e produziu importantes obras, como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), vencedor de três Kikitos, Bye Bye Brasil (1980), O Quatrilho (1995), O Que é Isso, Companheiro? (1997) e Flores Raras (2013). 

Sua atuação também ficou marcada na L.C. Barreto Produções Cinematográficas, ao lado do marido, Luiz Carlos Barreto, e dos filhos, Bruno e Fábio Barreto.

Troféu Cidade de Gramado para Ingrid Guimarães

Chamada de “atriz brasileira mais vista nos cinemas deste século”, por ter feito parte de produções nacionais com muito retorno de bilheteria, Ingrid Guimarães tem mais de 35 anos de carreira e coleciona sucessos no teatro, televisão e, principalmente, no cinema. 

Conhecida pelas comédias, Ingrid fez parte de uma revolução no cinema nacional, promovida a partir dos anos 2000. Entre seus mais de 20 longas, estão a trilogia De Pernas Pro Ar (2010-2019) e Fala Sério, Mãe (2017). A atriz se prepara para o lançamento de Minha Irmã e Eu, estrelado ao lado de Tatá Werneck, previsto para janeiro de 2024.

Mostras competitivas

Confira todos os filmes selecionados para esta edição (entre longas nacionais, documentais e gaúchos e curtas brasileiros e gaúchos) no site do evento: https://festivaldegramado.net/. A programação completa foi divulgada nesta terça-feira (25) e também está disponível.

As mulheres ainda ocupam uma parcela bem menor no cargo de direção desses títulos do que os homens, mas as funções dentro das equipes seguem aumentando. A expectativa é que esse cenário, em breve, seja mais equilibrado.

A boa notícia para o RS é que a mostra que tem mais nomes femininos assinando as obras é a dos curtas gaúchos, que normalmente traz os novos realizadores do estado. Então, a perspectiva para o futuro não é negativa. A entrega dos Troféus Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Curtas ocorrerá no domingo, dia 13 de agosto, e terá transmissão pela TVE e TV Assembleia.

A premiação final, que será ao vivo direto do Palácio dos Festivais, também poderá ser acompanhada pela TV no sábado, dia 19. Por mais um ano, o Canal Brasil transmite a tradicional cerimônia com a entrega dos Kikitos.

* A jornalista Carol Zatt fará a cobertura do Festival de Cinema de Gramado para o Brasil de Fato.


Edição: Katia Marko