Sem energia elétrica desde a passagem do ciclone extratropical, moradores de Morro Redondo e Capão do Leão, no Sul do Rio Grande do Sul, montaram uma barreira no sábado (22) no quilômetro 31 da BR-293. Foi mais uma amostra de insatisfação diante da qualidade do serviço prestado pela CEEE Equatorial, nome que adquiriu a antiga estatal após ter sido comprada pela Equatorial Energia em março de 2021.
Os manifestantes queimaram pneus para impedir a circulação dos carros, organizando bloqueios de maneira alternada nos dois sentidos da estrada.
“O que tinha no freezer foi jogado fora”
“Não se tem resposta, só mandam a gente aguardar. Está todo mundo exausto, esgotado. Não tem água. O que tinha no freezer foi jogado fora. Ninguém gostaria de estar aqui, mas é o único meio que temos de chamar a atenção. A situação é muito crítica”, disse a costureira Camila Neves. Depois do protesto, a Equatorial enviou uma caminhonete para realizar o conserto da linha.
O presidente do Sindicato dos Eletricitários/RS (Senergisul) vincula as dificuldades ao fato de que a Equatorial “se livrou de mais de mil trabalhadores, quase todos eletricistas, e hoje restam somente uns 600 oriundos da antiga empresa pública.
Ministério Público abriu inquérito
Hoje, em vez dos servidores, quem cumpre suas tarefas são empresas terceirizadas. “Não é à toa que os serviços pioraram, como mostra essa longa falta de luz em milhares de residências gaúchas após temporais e ciclones”, opinou Antonio Silveira. Na visão do sindicalista, a situação não é muito diferente nos demais estados onde a Equatorial está, casos do Maranhão, Pará, Piauí, Amapá e Goiás.
O Ministério Público já abriu inquérito para apurar as causas da demora no restabelecimento da energia elétrica por parte do grupo Equatorial. Os procuradores querem saber se as avarias causadas pelo ciclone são o real motivo da demora no serviço. Para a investigação, o MP pede aos consumidores prejudicados que relatem seus casos no link: mprs.mp.br/atendimento/denuncia/
O braço de distribuição de energia da companhia estadual, a CEEE-D, foi arrematado em leilão por R$ 100 mil mais dívidas por decisão do governo Eduardo Leite (PSDB).
Equatorial pede desculpas
Ontem (23), o presidente da Equatorial, Raimundo Bastos, pediu desculpas aos moradores há tanto tempo sofrendo as consequências do super apagão. Ele se reuniu com 12 prefeitos do Sul do estado e prometeu que a concessionária reverá processos e ações para evitar a repetição do fato.
Presente no encontro e fiador do processo de privatização, o governador reparou que o estado é “o regulador desta concessão”. Advertiu que cabe à agência reguladora apurar o que aconteceu “e até estabelecer, se for o caso, sanções à companhia, que podem chegar inclusive à cassação em caso de recorrência no descumprimento das obrigações”.
Ao adquirir a CEEE-D, a Equatorial tornou-se responsável pelo atendimento de 1,8 milhão de pessoas em 72 municípios.
Edição: Katia Marko