Rio Grande do Sul

Julho das Pretas

Julho das Pretas Unificado RS terá ato político cultural na Escola Imperadores do Samba

Ação política e agenda conjunta com organizações e movimento de mulheres negras do Brasil tem sua primeira edição no RS

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"O Quilombo de Quariterê existiu de 1730 a 1795, e a liderança de Tereza de Benguela resistiu até 1770, quando foi presa e morta pelo Estado" - Reprodução

O Julho das Pretas é uma ação nacional destinada ao fortalecimento da atuação política coletiva e autônoma das mulheres negras nas diversas esferas da sociedade. Um mês inteiro com o intuito de celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, Dia Nacional de Tereza de Benguela e Dia Nacional da Mulher Negra.

No Rio Grande do Sul, um coletivo que reúne as mulheres negras gaúchas que têm na sua existência a manifestação do ânimo de luta e todas as pessoas que têm afinidade com a luta feminista e antirracista, vêm somar a este movimento de organização nacional. Estas ativistas de vários segmentos sociais organizaram um calendário unificado de atividades, sendo a primeira edição destas ações articuladas em todo o estado.

O coletivo organizou um ato político cultural para o dia 31 de julho, às 18h, na Imperadores do Samba (Av. Padre Cacique, 1567 - Praia de Belas, Porto Alegre). A atividade gratuita tem em sua programação a apresentação de danças africanas, roda de capoeira, performance de slam e bloco de samba.

Confira a programação completa:

Bloco 1 - 18h
Benção das Yas
Roda de Capoeira 
Apresentação artística da Beta flor - Poeta, escritora 

Bloco 2 - 19h
Performance de Slam/Poesia com Cristina Ribeiro
Apresentação do Grupo de Dança Afro Omodua
Apresentação do Coletivo afoxé às yabás

Bloco 3 - 20h
Performance de Slam/Poesia
Apresentação artística do Donnie Lys (Hip Hop)
Performance da Mana Preta
Apresentação artística do Orum
Performance Aquilombaí

Bloco 4 - 21h
Apresentação artística do Grupo Brazil Estrangeiro
Apresentação do Bloco das Pretas

Confira o manifesto do coletivo que organiza o evento:

Chegamos a mais um Julho das Pretas, o 11° Julho das Pretas em 2023.

E pela primeira vez temos um Julho das Pretas Unificado no estado do Rio Grande do Sul RS!

Já somamos onze edições nacionais mostrando a força dos movimentos de mulheres negras de ponta a ponta do Brasil. Neste mês, onde fazemos referência ao Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latino-Americana e Caribenha - celebrado em 25 de Julho, potencializamos ainda mais nossas ações sociais, educativas, culturais e de incidência política. O Julho das Pretas é nosso! Tem a nossa cor, nosso jeito, nosso Axé! Nasceu em 2013, fruto da inquietação das mulheres negras baianas do Odara - Instituto da Mulher Negra, mas ganhou o Nordeste e atravessou o Brasil. O tema que norteia as ações desta 11ª edição é “Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver”, fazendo referência à construção da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que acontecerá em 2025.

Aqui no Rio Grande do Sul, nosso coletivo que reúne as mulheres negras gaúchas que têm na sua existência a manifestação do ânimo de luta e todas as pessoas que têm afinidade com a luta feminista e antirracista, vêm somar a este movimento de organização nacional. Visualizamos que lutar pelo respeito e reconhecimento da mulher negra brasileira é:

- garantir o acesso a habitação de qualidade, como a maioria das mães solo brasileiras são mulheres negras a garantia desse direito trará dignidade,  segurança e bem viver para milhares de núcleos familiares;
- viabilizar a proteção das mulheres vítimas de violência doméstica, através da articulação das diferentes políticas públicas, visto que atinge em maior número, as mulheres negras, por isso almejamos uma política  capaz de combater e enfrentar de forma adequada, visando a equidade de direitos;
- fomentar e respaldar a presença de mulheres negras no direito e no poder judiciário, possibilitando que essas profissionais sejam respeitadas na sua atuação ,e protegendo-as das abordagens racistas e sexistas que ocorrem sistematicamente;
- instituir intersetorialmente mecanismos de garantia da segurança alimentar e do combate à fome;
- desvincular o corpo negro do lugar de servidão, atribuído a pessoas pretas que desenvolvem trabalhos ditos domésticos, o que remonta uma.perspectiva colonial. Urge a construção de ações articuladas no sentido de enfrentarmos as posturas escravistas existentes na sociedade,  haja visto, o alto índice e normalização dos casos de trabalho análogo à escravidão ou a chamada escravidão noderna;
- combater a precarização do trabalho, agravada pela má gestão da pandemia do covid-19, em especial, as mulheres negras que hoje assistem sua criatividade para driblar as dificuldades cotidianas de sobrevivência serem comparadas ao empreendedorismo com glamour, ignorando os dados de baixo acesso a concessão de crédito, oportunidades e fomento para suas iniciativas;
- consolidar e garantir a implementação e execução pelos municípios das Lei 10639/2003 e 11645/2008 e da Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional, com penalidades para o municípios que descumprir a legislação;
- lutamos por uma sociedade mais inclusiva com acessibilidade para as mulheres negras PCDs, desde o acesso à educação com as garantias da legislação vigente, o que consequentemente impulsiona o acesso a diversidade de carreiras;
- garantir a implementação da Política Nacional da Saúde Integral da População Negra, nas três esferas de governo, visto que há municípios onde inexiste qualquer ação.

Esta agenda coletiva demonstra que nós, Mulheres Negras Brasileiras, honramos nossas ancestrais e seguimos em Marcha contra o Racismo, as diversas formas de Violências, por Reparação e Bem Viver. 

Preparamos um dia de atividades e um calendário de ações articuladas em todo o estado durante o mês de julho.

Acompanhe nossa programação e vamos juntas marchar, pensar e construir a sociedade que queremos, que valorize as vidas negras, indígenas, das mulheres, das LGBTQIA+ e da juventude. Vamos juntas cobrar a parte que nos cabe na riqueza da nação! Vamos ocupar coletivamente todos os espaços de poder! Seguimos em marcha, por reparação e bem viver!


Edição: Katia Marko