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25 de julho, nosso/meu dia

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25 de julho é o Dia da Colona, do Colono, da Agricultora e do Agricultor familiar (também Dia do Motorista), no Rio Grande do Sul - Foto: Wellington Lenon
Felizmente, neste 25 de julho de 2023, comemoramos o retorno de políticas extintas nos últimos anos

Comi bergamotas, também chamadas de ´bergas´ por gaúchas e gaúchos, e laranjas, tiradas direto do pé no último fim de semana. Como legumes e verduras, que levo para meu alimento no refúgio em Porto Alegre, plantadas-os com todo cuidado pelos manos Elma e Marino, e apoio do sobrinho Gabriel e cunhado Ione, na Vila Santa Emília, Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, Brasil.

Comi moranguinhos orgânicos, colhidos no próprio canteiro e plantados com muito amor pelo mano Bruno e cunhada Rejane, professora aposentada, na mesma Santa Emília.

E não saboreio só bergas, laranjas e moranguinhos, legumes e verduras, quando vou à terrinha e caminho pela roça. Há mil outras gostosuras, dependendo da época do ano: goiabas, jaboticabas, figos, cana de açúcar, ameixas, pinhões, maçãs, caquis, uvas, amendoins, chuchus, o aipim, as batatas, os abacaxis, abacates, pêssegos, limas, peras, pipocas, melancias, bananas, maracujás, butiás, mangas, acerolas, tangerinas, cerejas, o milho, a pipoca, melões, mais os limões para a bendita caipirinha, e não sei quantas gostosuras mais.

Sem esquecer, claro, os saborosos churrascos e galinhadas, saídos da produção da família. E há os repolhos, couves, cenouras, rabanetes, cebolas, alhos, beterrabas, abóboras, morangas, brócolis, salsas, pimentas e pimentões, a couve-flor, os nabos, as alfaces, rúculas, o gengibre, ervilhas. Tudo plantado e produzido na mesma propriedade na Vila Santa Emília. Não por nada, aos 72 bem vividos, digo e repito que vou chegar aos 100 inéditos na família.

Sou filho do colono/agricultor familiar Léo Heck e da colona/agricultora familiar Lúcia Hickmann Heck, que geraram e criaram 9 filhos, todos muito vivos e espalhados pelo Brasil, até em Lábrea, no Amazonas.

Sou neto do colono/agricultor familiar José Heck, nascido em 1876, falecido em 1945, que não conheci, e da colona/agricultora familiar Gertrudes Kroth Heck, nascida em 1887, falecida em 1979, que criaram 16 filhos, ainda vivas as tias religiosas Julita e Dácia e tia Tereza, moradora da Vila Santa Emília.

Sou neto do colono/agricultor familiar Guilherme Hickmann e da colona/agricultora familiar Carolina Wagner Hickmann, pais de 4 filhas-os, moradores da antiga Picada Lenz, hoje Linha 17 de Junho, Venâncio Aires, Rio Grande do Sul.

Sou sobrinho de Leonida Heck, a tia Nida, irmã gêmea de papai, colona/agricultora familiar, que morou com a família até seu falecimento em acidente, em 2001.

Com os avôs e as avós, com papai e mamãe, tias e tios, aprendi a falar o dialeto alemão e ler o alemão gótico, a língua do cotidiano da família até o seu falecimento.

A propriedade da família, uma colônia, como eram chamadas, por seu tamanho, as terras distribuídas aos colonos alemães no século XIX, continua intacta. Ao lado de casa, com cozinha de prédio centenário, há um matinho/bosque, com árvores nativas, pinheiros, taquareiras, onde, quando crianças, fazíamos o que chamávamos de piqueniques, almoçando debaixo dos seus galhos e sombras. É onde ficava o poço que garantia a água de casa, junto com a cisterna, esta recolhendo água da chuva, e que ficava, e ainda fica, entre a casa de muitos quartos, que abrigava a família grande, e a ampla cozinha. Nos fundos da propriedade, a mais de 1 quilômetro de distância, está uma mata nativa, até hoje intocada.

25 de julho é o Dia da Colona, do Colono, da Agricultora e do Agricultor familiar (também Dia do Motorista), no Rio Grande do Sul. É feriado em Venâncio Aires, em Mato Leitão, município emancipado de Venâncio, sede da minha paróquia católica, e em muitos outros municípios gaúchos. A data, o 25 de julho, começou a ser celebrada a partir de 1924, nos 100 anos da chegada dos primeiros imigrantes alemães a São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Em 2015, celebraram-se os 150 anos de sua chegada em Santa Emília (Ver ‘Santa Emília, com amor´, artigo de Selvino Heck, www.sul21.com.br, 06.12.2015. E ver o livro ´Colônia de Santa Emília, Venâncio Aires – RS´, de Cláudio Carlos Fröhlich, 2005). (Mais adiante também vieram as-os imigrantes italianas-os, polonesas-es, entre outras-os).        

Orgulho, sim, muito orgulho destas origens e desta história, numa comunidade de muitas colonas e colonos, agricultoras e agricultores familiares, que, até hoje, 2023, plantam produzindo comidas saudáveis e gostosas, e, aos poucos, também orgânicas e com sementes crioulas.

Proclama com razão o dito popular, ´se a colona e o colono, a agricultora e o agricultor familiar não plantam, a cidade não janta´, já que a maior parte dos alimentos que chegam à mesa de milhões de brasileiras e brasileiros vêm do seu trabalho, do seu suor, da sua dedicação, da sua sabedoria e do seu cuidado com a Casa Comum.

Disse João Pedro Stédile, dirigente do MST: “Há 3 modelos de produção que se confrontam: o latifúndio; o agronegócio; a agricultura familiar, esta que se baseia no trabalho familiar, na produção de alimentos, policulturas, agroecologia” (´Para Stédile, embate agrário está entre latifúndio, agronegócio e agricultura familiar´, Brasil de Fato, 15.07.2023).

Felizmente, neste 25 de julho de 2023, também está sendo comemorado o retorno do Plano Safra da Agricultura Familiar, lançado dias atrás pelo governo federal, do PAA, Programa de Aquisição da Alimentos, do reforço do PNAE, Plano Nacional de Alimentação Escolar, das políticas de SSAN, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, da PNAPO, Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, e do PLANAPO, Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, e tantas outras Políticas e Programas extintos nos últimos anos. São fruto da agricultura familiar, enfrentam as mudanças climáticas, e são garantia de futuro e esperança. E, principalmente, alimentam o Brasil e o mundo com alimentos adequados e saudáveis.

As colonas e os colonos, as agricultoras e os agricultores familiares e seus felizes descendentes agradecem e festejam seu/meu/nosso dia. Longa vida, e muita, boa e gostosa comida no prato!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko