As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), células base do compromisso da Igreja Católica no que diz respeito a atuação social expressa pela vivência do Evangelho com radicalidade humanista, estão reunidas em Rondonópolis (MT), desde terça-feira (19) até domingo (23), no seu 15º encontro Intereclesial. “CEBs são Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas”, anunciou o animador responsável por comandar a acolhida do evento que estima receber 1.500 participantes ao longo de quatro dias de atividades.
Dom Maurício da Silva Jardim, bispo de Rondonópolis, declarou a abertura ressaltando “a alegria do Evangelho, como Igreja Missionária, Sinodal e Samaritana, em saída permanente às periferias existenciais e geográficas, despojada de poder e desejosa de uma salutar descentralização”. O celebrante deu boas vindas aos participantes que percorreram as estradas de todas as regiões do país e mesmo os rios no caso dos participantes que vieram do território amazônico.
“Aqui em Rondonópolis chegamos por causa de Jesus Cristo e seu Evangelho, reafirmando a força e a importância das comunidades”, completou. Na sequência os comentadores da celebração reforçaram a acolhida pedindo a todos e todas que estejam unidos na “grande tenda, a casa comum”, firmando o compromisso de “despertar as comunidades do Brasil, da Pátria Grande Latino Americana e do Mundo, a uma esperança corajosa”.
A celebração de abertura foi no Centro de Eventos da Paróquia Santa Terezinha com a presença dos representantes das comunidades vindos de todo o Brasil, assim como representações de povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas. O momento, aguardado com ansiedade pelos militantes das CEBs foi carregado por forte simbolismo de sinodalidade e partilha. Além das caravanas que se deslocaram de todas as regiões do Brasil, também estão presentes no encontro representantes de países da América Latina e Caribe, bem como da África e Europa.
O momento de reflexão foi conduzido pelo Bispo de Juína (MT), Dom Neri José Tondello, partindo das palavras de João no livro do Apocalipse, quando faz referência ao “novo Céu e a nova Terra”. Nas palavras do bispo, “o novo céu começa a partir de uma comunidade de base bem animada, com um povo feliz, uma comunidade cheia de coragem, impregnada de compromisso com a vida dos mais sofridos e abandonados da terra”.
Sociedade pautada na civilização do amor
Na reflexão ele aponta esse “novo” começa com o respeito aos direitos humanos, com o enfrentamento ao racismo e a afirmação da diversidade cultural, com a superação do patriarcalismo e a afirmação de uma sociedade pautada na civilização do amor. “É preciso colocar pão em todas as mesas, alimento sem veneno, saúde que vem da natureza, floresta em pé, direitos indígenas preservados e protegidos., proteção das crianças e vulneráveis, devolver sonhos aos jovens, integração dos refugiados”, enumerou.
“O sistema do novo Céu e da nova Terra precisa vencer o sistema que fabrica pobres, que concentra a riqueza e o capital”, apontou Dom José, citando a necessidade de superar o paradigma da produção ao máximo, que consume tudo em lucro total e se distancia da proposta verdadeira do Evangelho que é a vida em abundância para todos.
Afirmou ainda que que todos devem estar dispostos a promover o acesso acesso igual aos bens da criação, pois isso prove a ajustiça e a paz na terra. “A liberdade e a democracia jamais ficarão fora do novo Céu e da nova Terra.” O bispo motogrossense explicou ainda que para construir ou alcançar “o novo céu e a nova terra com a escuta do grito da terra, o clamor das águas, o sopro das plantas e o sofrimento dos pobres”.
Citando o Papa Francisco, afirmou que esse cenário pelo qual se busca, para onde se quer caminhar, requer uma casa comum organizada, com a economia solidária de Francisco e Clara e uma ecologia integral do cuidado, requer conversão sinodal e correção fraterna, comunhão, missão e participação entre todos os habitantes da “casa comum”. Por fim declarou que é preciso que os inimigos voltem à amizade, os adversários se deem as mãos, que a busca da paz vença os conflitos, que o perdão supere o ódio e que a vingança dê lugar à reconciliação.
A mística de abertura trouxe representações de todos os povos e territórios representados, bem como citou a memória dos 14 encontros intereclesiais anteriores, realizados desde meados da década de 70: 1975 e 1976 em Vitória (ES), 1978 em João Pessoa, na Paraíba, 1981 em Itaicí (SP), 1983 em Canindé (CE), 1986 em Trindade (GO), 1989 em Duque de Caxias (RJ), 1992 em Santa Maria (RS), 1997 em São Luiz (MA), 2000 em Ilhéus (BA), 2005 em Ipatinga (MG), 2009 em Porto Velho (RO), 2014 em Juazeiro do Norte (CE) e 2018 em Londrina (PR).
Padre Alex Klopemburg, da cidade Santana do Livramento no RS, que está acompanhando a atividade e a convite do Brasil de Fato enviando relatos diários, comentou que este momento inicial foi de muita mística, de modo que todos foram contagiados por uma sensação comum de alegria. "Foi um momento lindo, bastante animado, muito forte e que nos anima para as próximas atividades, bem como para já ir pensando no retorno para as nossas comunidades e nos desafios que vamos levar a partir daqui", expressou. Padre Alex valorizou ainda o momento em que está sendo realizado esse 15 Intereclesial de CEBs, depois de cinco anos da edição anterior, numa perspectiva de esperança e esperançar.
No encerramento da celebração teve uma benção proclamada na forma de canto e ao som de um maracá pelo ancião bororo Sebastião Tororeo, da Terra Indígena Tereza Cristina, situada no município de Santo Antônio de Leverger. No geral, o rito pedia para Deus acalmar os corações dos humanos, ajudar em seu dia a dia e proteger a cultura indígena.
O Intereclesial tem a presença de várias outras etnias, como Xavante, Chiquitano, Nambikwara, Guarani e Rikbaktsa. “Que a frágil flor da paz possa brotar dentro de nós, nas nossas relações e no mundo inteiro, fazendo brotar novas relações de justiça, aquela justiça única capaz de fazer surgir a paz verdadeira”, conclamou o comentador da celebração no final do ato, que encerrou com uma ciranda composta por centenas de pessoas.
A 15ª Intereclesial de CEBs por ser acompanhada pelo Facebook, Youtube e Site. Assista abaixo como foi a celebração de abertura:
Edição: Marcelo Ferreira