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Lançamento

'Realmar a Economia': livro coloca em evidência as propostas da Economia de Francisco e Clara

Desafio do Papa Francisco inspira os textos da obra e convida a impor à economia os valores do cuidado e do amor

Brasil de Fato | Santa Maria (RS) |
Livro já está disponível para aquisição através do site da Editora Paulus ou nas principais livrarias do país - Corbari/Brasil de Fato

Entre as atividades de formação realizadas concomitantemente à Feira Internacional de Cooperativismo e Economia Solidária (Feicoop) em Santa Maria (RS), na última semana, esteve o lançamento do Livro “Realmar a Economia: A economia de Francisco e Clara”. A atividade, realizada no palco principal do evento no sábado (8) deixou claro o sentido da publicação e o seu alinhamento concreto com o desafio do Papa Francisco de, assim como diz o título do livro, realmar a economia.

“O capitalismo e, mais especificamente, sua versão mais agressiva, o neoliberalismo, transformaram a convivência entre humanos, numa guerra de todos contra todos. Para salvar desse caminho que tem como único destino possível o sofrimento e extinção definitiva, o papa Francisco convida a repensar a forma com que se cuida a casa comum, propondo uma economia refundada nos valores do cuidado e do amor: a Economia de Francisco e Clara”, aponta o texto de divulgação da Editora Paulus em seu site.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo da Arquidiocese de Belo Horizonte, é quem assina a apresentação do livro e afirma: "Esta obra, elaborada pelas mãos de uma juventude sensível à convocação do papa Francisco, estimula a imprescindível reflexão para que sejam encontradas soluções: não é possível existir uma humanidade saudável em um mundo adoecido". O religioso, que atualmente preside Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apela para que os textos reunidos na publicação "sejam sementes para uma nova compreensão sobre o papel de cada pessoa na sustentabilidade do planeta, inspirando atitudes alicerçadas em Deus, no horizonte do amor".

O prefácio, assinado pelo bispo catequista Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, reflete de modo particular a realidade enfrentada pelo povo brasileiro no último período. "No Brasil, que no fim de 2022, foi renovado em sua esperança, que significa indignação e ação, ao derrotar, nas urnas, o fascismo emergido do pior esgoto da história humana, a Economia de Francisco e Clara foi acolhida pelo entusiasmo e pela esperança de jovens de diversas regiões do país", diz o texto.

Para o religioso, que está a frente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, estes jovens "souberam, com acuidade e dinamicidade, construir uma articulação que se tornou um espaço conjunto para compreender, tatear experiências e focalizar esforços na construção de novos pactos econômicos, que passem pela sociedade, pelas necessidades das pessoas, dos vários povos brasileiros e não apenas do mercado".


"Deus é pai e não patrão", afirma o articulador que assina um dos textos do livro / Divulgação Feicoop

Textos são respostas dos jovens brasileiros ao Papa Francisco

Questionado pela jovem Iasmin Caroline de Almeida Veeck, o articulador da Economia de Francisco e Clara, Andrei Thomaz Oss-Emer, apresentou um panorama sobre os diversos temas tratados nos artigos e os objetivos do material que se destina à formação e reflexão tanto para indivíduos quanto para coletivos. “Procuramos contar um pouco da trajetória da articulação brasileira em diálogo com a articulação internacional de jovens empreendedores, ativistas, estudantes, pessoas que já colocam em prática essa outra economia, seja nos seus empreendimentos, negócios, cooperativas, como nos seus estudos e nos movimentos sociais em que atuam”, explicou.

“Essa é a economia que faz viver e não mata, que cuida da casa comum e não a devasta, é uma economia que tem alma, que tem rosto de pessoas, que tem olhares, mãos e pés, uma economia que já acontece através da economia popular e solidária”, acrescentou Andrei, que juntamente com os articuladores Elis dos Santos e Bárbara Borum-Krem assina o "Territórios e ecologia integral, caminhos de bem viver".

“A economia de Francisco e Clara nasce como uma proposta feminina, feminista, circular, um projeto comum que busca novos horizontes desde o chão sagrado das nossas realidades, dos nossos territórios”, detalha o articulador. Para ele o espaço aberto dentro da programação da Feicoop – assim como está previsto acontecer em diversos outros espaços ao longo de todo Brasil nas próximas semanas – é uma oportunidade de divulgar a publicação que foi construída como uma resposta coletiva de diversos jovens que juntos caminham, escrevem e compartilham o rumo à novas economias.

Andrei frisou ainda a importância daquele espaço simbólico onde a atividade aconteceu, associando as propostas da Economia de Francisco e Clara ao trabalho executado por Dom Ivo Lorscheiter e Irmã Lourdes Dill. Bem como as ações precursoras de agroecologia desenvolvidas junto à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) pela saudosa professora Ana Maria Primavesi.

“O caminhar coletivo já acontecia, ainda hoje acontece e continuará acontecendo na medida que formos capazes de reconhecer suas raízes, os seus frutos, a sombra de suas árvores e também sermos semeadores de esperança, concretizando essas realidades em nossas vidas”, pontua Andrei, relembrando a forma como o Papa Francisco deu significado ao termo grego “Oikonomos”, que significa “a boa norma da casa”. E que normas seriam essas? Que casa seria essa? A casa é a “casa comum” e as “normas” dizem respeito a economia, ecologia e ética.

“Economia são as leis da casa, ecologia são os cuidados da casa, ética é o modo como nós habitamos a casa, são conceitos que estão profundamente imbricados com a justiça social, com justiça agroecológica, com processos que concretizem modos de vida que cuidam da nossa casa comum”, aponta Andrei.

“Santa Clara e São Francisco são nossos grandes inspiradores, eles foram precursores de um caminho de paz, de cuidado com a criação, de justiça social e de concretização dessa grande fraternidade universal, na qual somos filhos de um mesmo pai”, reflete o articulador, acrescentando: “Entender que a Economia de Clara e Francisco é uma economia da providência pressupõe entender que Deus é pai e não patrão, portanto nos cuida, está próximo a nós e caminha conosco neste horizonte rumo ao bem-viver”.

O livro “Realmar a economia: a economia de Francisco e Clara” foi publicado pela Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, através da Editora Paulus. A publicação pode ser obtida diretamente no site da editora ou nas livrarias físicas católicas, também estando disponível nas principais livrarias virtuais.

A organização ficou a cargo de Eduardo Brasileiro e o coletivo de autores é formado por: André de Souza Ricardo, Andrei Thomaz Oss-Emer, Ana Carolina Fernandes Alves, Augusto Luís Pinheiro Martins, Bárbara Nascimento Flores BorumKren, Bruna Matos de Carvalho, Celio Turino, Douglas Felipe Gonçalves de Almeida, Eduardo Brasileiro, Elis Alberta Ribeiro dos Santos, Fátima Lessa Ribas, Marx Rodrigues, Frederico Santana Rick, Gabriela Consolaro Nabozny, Guilherme Cavalli, Giovana Figueiredo Rossi, Lucas Prata Feres, Izadora Gama Brito, Kelli Mafort, Marcela Vieira, Marina Paula Oliveira, Ramon Jung Pereira, Ricardo Pereira Alves Nascimento, Roberto Jefferson Normando, Peterson Prates, Pe. Vilson Groh, Silvana Bragatto.

Confira uma a apresentação do livro e parte do seu conteúdo na amostra disponibilizada gratuitamente pela editora. Para saber mais sobre a Economia de Francisco e Clara acesse o site da articulação brasileira.


Edição: Marcelo Ferreira