Tem previsão de início para o dia 26 de agosto a obra de restauro do Castelo localizado no município de Pedras Altas, na região da Campanha do RS, patrimônio construído pelo diplomata Joaquim Francisco de Assis Brasil.
Em entrevista ao jornal Tribuna do Pampa, a gestora cultural Cristina Schneider explicou que a obra está organizada por etapas, sendo a primeira, de quase R$ 2 milhões, com recursos do projeto Pró-Cultura RS. A captação de recursos segue aberta, já contando com patrocínios confirmados de Supermercados Rede Super, Plasbil Revestimentos, Podal Distribuidora de Alimentos e Postos Santa Lúcia.
Empresas interessadas em patrocinar a obra podem creditar 100% na apuração do ICMS, do valor repassado ao projeto mediante investimento de 5% do valor patrocinado, ou destinando ao Fundo de Apoio a Cultura (FAC) através de guia de arrecadação. A realização é da Associação Castelo de Pedras Altas, financiado pelo Pró-Cultura RS, Secretaria da Cultura e governo do estado do Rio Grande do Sul através da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).
A obra
O projeto da obra de restauro foi aprovado em dezembro de 2022 e prevê a impermeabilização e pavimentação da laje de cobertura nos locais de maior acesso e, no andar superior, a remoção e execução dos revestimentos internos, instalações elétricas e restauro da pintura das janelas metálicas, questões consideradas mais urgentes.
Posteriormente deverá ser realizada a recuperação da mobília e acervo da biblioteca histórica. O resultado, a longo prazo, no total das quatro etapas, será a implantação de um ecomuseu com o objetivo de valorizar o território, a paisagem cultural e a memória do lugar, perspectiva que reúne a história social ancorada em seus referenciais arquitetônicos e paisagístico, uma importante contribuição cultural para o estado do Rio Grande do Sul.
Os proprietários
Cabe lembrar que a família Segat oficializou a compra do castelo recentemente. O monumento passou a levar os nomes de Rafael, Gabriela e Kamilla Trindade Pacheco Segat. O responsável pela compra foi o pai dos novos proprietários, o advogado Luiz Carlos Segat, que na ocasião relatou que a aquisição foi efetuada pelo interesse da família no local, contando com o trabalho do corretor de imóveis João Iris Silva Moreira e dedicação dos advogados das partes envolvidas na negociação.
O Castelo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE) em 1999 e estava sob responsabilidade de herdeiros de Assis Brasil, mas sofria com a ação do tempo, ocasionando além de arrombamentos, invasões e furtos, a deteriorização da estrutura.
Luiz Carlos Segat disse ao Tribuna do Pampa que “a família já possui um vínculo emocional com o lugar, por sua história e arquitetura, mas hoje não é só a família envolvida nesse projeto, mas sim uma associação que mobiliza todo um grupo de atores importantes na concretização desse projeto”. Já está programado um evento no Castelo no dia 14 de dezembro, incluindo um seminário idealizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
Festejos Farroupilhas
O “Centenário da Revolução de 1923” foi o tema escolhido no estado para a identidade visual dos festejos farroupilhas de 2023. Os lenços, branco e vermelho, simbolizam um período da história do Rio Grande do Sul em que houve antagonismos e rivalidades políticas. Na época da revolução, os Chimangos, que apoiavam o governo central, usavam o lenço branco; os Maragatos, contrários à política exercida pelo governo federal, exibiam o vermelho.
Segundo a comissão, os lenços entrelaçados representam a pacificação da revolução, o fato de que, apesar de todas as divergências políticas da época, os gaúchos seguiram unidos. Além disso, ilustram a relevância da inclusão e do respeito à diversidade de pessoas e ideais. O Castelo de Pedras Altas foi palco de um importante momento da revolução. Entre suas paredes foi assinado o Pacto de Pedras Altas, acordo que colocou fim a Revolução de 23, do qual Assis Brasil fazia parte do lado dos maragatos.
O castelo
A Granja de Pedras Altas foi o grande projeto pessoal de Joaquim Francisco de Assis Brasil, político, diplomata, produtor rural e intelectual gaúcho. Pretendia provar que um pequeno pedaço de terra poderia ser tão produtivo quanto uma grande propriedade, se fossem usadas técnicas modernas e racionais. Para desfazer o mito da rusticidade da vida no campo, construiu uma moradia confortável, em forma de castelo medieval, com pedras de granito rosado gaúchas talhadas por canteiros espanhóis, inaugurada em 1913. Além dos 44 cômodos, possui uma grande biblioteca de obras raras e diversificadas. É um exemplo no uso de técnicas pioneiras no sistema construtivo e na infraestrutura dos prédios, como iluminação a gás, captação e águas pluviais para abastecimento e preocupação com conforto térmico.
Em termos paisagísticos, salientam-se a implantação do conjunto e sua riqueza plástica, incluindo-se o castelo, as edificações e instalações rurais, potreiros, acessos, jardins e alamedas. Os espaços contêm mobiliário e objetos de época, trazidos por Assis Brasil principalmente de Lisboa, Paris, Washington e Buenos Aires, locais em que viveu com a família quando exercia atividade diplomática. Dentre os bens está uma importante biblioteca, o maior acervo cultural familiar do Estado do Rio Grande do Sul e a maior biblioteca particular da América Latina. Possui aproximadamente 15.000 obras em latim, inglês e português, além de volumes da maior enciclopédia do mundo, Diderot e d’Alambert de 1.751.
Assis Brasil
Na política, Assis Brasil foi quem defendeu e concretizou o direito ao voto para os cidadãos de uma forma geral, pois até então só podia votar quem fosse proprietário de grandes frações de terras. Dessa forma serviu de inspiração para o código eleitoral de 1932 e é conhecido como pai do direito eleitoral. Na agricultura e pecuária introduziu no Brasil o gado Jersey, o gado Devon e a ovelha Karakul, tendo participação importante na introdução do cavalo árabe e no melhoramento do horoughbred, o puro sangue inglês. Joaquim Francisco de Assis Brasil, foi escolhido como patrono da agricultura no Rio Grande do Sul. Inclusive o nome dado ao local em Esteio onde se realiza a Expointer (Parque Assis Brasil), foi uma homenagem ao seu relevante trabalho para a agropecuária brasileira.
* Matéria da repórter Silvana Antunes para o jornal Tribuna do Pampa, de Candiota (RS), cedida gentilmente para o Brasil de Fato e Instituto Cultural Padre Josimo.
Edição: Marcos Corbari