O Levante Popular da Juventude RS realizou, neste final de semana, junto da 29ª Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop), em Santa Maria (RS), seu primeiro encontro estadual da Frente Territorial, com debates, atividades culturais, oficinas e ato político. A Feicoop, que acontece anualmente na cidade gaúcha do centro do estado, já é um espaço tradicional de acolhimento das atividades do movimento.
O tema do encontro foi em torno da educação pública, expresso no lema "Juventude da periferia pela educação: da ponte pra cá antes de tudo é uma escola". O lema traz o objetivo de refletir sobre a importância das escolas para os jovens das periferias e apresenta uma referência à letra da música "Da Ponte Pra Cá", dos Racionais MCs.
De acordo com a militante do Levante Aléxia Prestes Aires, reuniram-se cerca de 100 jovens, entre estudantes de escolas públicas, de escolas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e alunos dos cursinhos populares organizados pelo Levante. Além destes, diversos militantes ajudaram na organização, além de jovens de outros movimentos, como o MST e o MTD.
"A luta por uma educação transformadora perpassa diferentes sujeitos e acontece no coletivo. A gente aposta no potencial da juventude enfrentar os desafios que estão colocados pra nós enquanto jovens de periferia", disse Aléxia. Segundo ela, o Levante, enquanto movimento, projeta que esse espaço também ajude a aproximar esses jovens e fortalecer o trabalho nos territórios onde está inserido.
Além dos espaços formativos e lúdicos, ao final do primeiro dia de encontro, os jovens reunidos realizaram um ato político em defesa da educação. Foi realizada uma marcha que saiu por algumas ruas da cidade de Santa Maria e retornou, saudando a Feicoop.
Debater para agir
A manhã do sábado (8) foi reservada ao debate sobre o cenário da educação pública no Brasil e os desafios da juventude. Após alguns convidados fazerem falas para ilustrar e analisar o tema, os jovens se dividiram em grupos menores, com o objetivo de discutir os pontos apresentados, de forma a estimular a reflexão.
Segundo Arnaldo Drummond, militante do Levante e educador popular, essa metodologia de debate visa instigar os presentes a pensar com a própria cabeça diferentes formas de incidir na realidade que está sendo discutida.
"A análise de conjuntura serve para a gente identificar quais são as movimentações que estão acontecendo na sociedade. A partir disso, a gente busca entender qual vai ser o curso da nossa própria ação, considerando esse cenário da educação brasileira que a gente desenhou", explicou Arnaldo sobre a metodologia de reflexão adotada por diversos movimentos populares.
De acordo com os organizadores, as ideias apresentadas trouxeram sugestões de maior envolvimento com o cotidiano das escolas, contando com o apoio de professores e comunidade para fazer melhorias nas escolas. Foi também um momento de reforçar o diálogo com os colegas e estudantes de outras escolas, aproveitando da articulação com grêmios estudantis, movimentos e entidades.
Houve o consenso que os estudantes precisam se organizar para impedir a implementação do Novo Ensino Médio, considerado um retrocesso e um prejuízo para a educação dos jovens da classe trabalhadora. Foi dito pelos presentes que é um objetivo trazer mais estudantes para essa luta, em conjunto com grêmios estudantis, outros movimentos e entidades.
"A partir do quadro que a gente discutiu em conjunto, a proposta é que os jovens formulem propostas de intervenção nas suas realidades, para a gente poder garantir conquistas locais, mas também acumulem forças para termos vitórias mais gerais", frisou Arnaldo.
O educador ressaltou que a ideia é fomentar as propostas para que os jovens do movimento multipliquem essas ações nos diversos espaços em que estão inseridos, sejam em escolas públicas ou cursinhos populares.
"A crise na educação brasileira não é pontual, ela é um projeto. Por isso que nós tentamos organizar essa indignação. Precisamos debater o que foi essa reforma no Ensino Médio e propor lutas para combater e barrar o Novo Ensino Médio. Assim a gente acredita que pode incentivar a própria organização popular não somente enquanto estudantes ou juventude, mas também enquanto classe."
Em defesa da educação pública
Os organizadores do encontro pretendem que as discussões ajudem a organização de uma jornada de lutas em defesa das escolas públicas, que deve acontecer ainda este ano.
Segundo Eduíno do Nascimento, outro militante do Levante, o movimento entende que as escolas do estado estão sucateadas na sua estrutura, com falta de investimento e atenção.
"Inclusive, a importância das escolas vem sendo atacada por uma onda fascista. Precisamos reconstruir os laços da escola com a comunidade", destaca Eduíno. Ele acredita que está em curso no país "o projeto político das elites" que quer diminuir a qualidade do ensino público "para que os estudantes da classe trabalhadora fiquem prejudicados em sua construção de futuro".
"Já realizamos diversos encontros naquele espaço. Ao longo dos anos a gente percebe que a estrutura da escola decaiu muito. Apesar de existir uma parcela da juventude que não vai à escola, é nesse local onde ainda se encontra a maior parte dos jovens", contou.
Escola pública enfrenta diversos desafios
Por sua vez, Mariana Dambroz, que também milita no Levante, acrescenta que o ambiente da educação vive também uma onda de violência em escolas agravada nos últimos anos.
Ela lembra também que a implantação do Novo Ensino Médio se encontra em um impasse, paralisada de certa forma. Nesse sentido, acredita que os jovens precisam incidir no debate sobre parar de vez essa implementação e propor um projeto construído junto dos estudantes.
"É uma mentira que o estudante vai poder escolher o que vai estudar. A maioria das escolas no RS não tem condição de oferecer essas escolhas. Os professores estão totalmente sobrecarregados", ressaltou Mariana.
"Muitos estudantes não se sentem mais pertencentes ao espaço da escola. Queremos ajudar a organizar essa juventude das escolas para pautar essa desestrutura", completou.
O Levante Popular da Juventude é um movimento social formado por jovens, que se organizam em células, estas dividas em "frentes" de trabalho: a Territorial busca organizar os jovens da classe trabalhadora que vivem nas periferias e comunidades.
* As informações são da equipe de comunicação do Levante RS.
Edição: Marcelo Ferreira