Rio Grande do Sul

VISITA OFICIAL

Com exaltação ao SUS, Lula encerra sua visita ao Rio Grande do Sul 

Durante o evento, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, assinou duas portarias destinando recursos para hospitais do RS

Brasil de Fato | Porto Alegre |
É a primeira vez na história que um presidente da República visita o Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Foto: Ricardo Stuckert

Com gritos de viva o SUS, encerrou, no final da tarde desta sexta-feira (30), a visita do presidente República, Luiz Inácio Lula da Silva, na inauguração dos blocos B e C do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Antes, ele almoçou com o governador do estado, Eduardo Leite, e ex-governadores no Palácio Piratini, e pela manhã entregou um conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida em Viamão. É a primeira vez na história que um presidente da República visita o hospital. 

Os blocos ampliaram em 70% a estrutura física da instituição, chegando ao total de 230 mil m². O valor total investido na expansão foi de R$ 555,5 milhões, com recursos exclusivos do Ministério da Educação (MEC), que priorizou a verba no Plano Plurianual – em 2011 e 2012 –, na gestão da presidenta Dilma Rousseff. As verbas aplicadas são do MEC porque o HCPA é uma instituição universitária. 


“Quando o SUS foi promulgado, a gente estava fazendo uma coisa que nenhum país do mundo, com mais de 100 milhões de habitantes, conseguiu fazer, tentar universalizar a saúde" / Foto: Ricardo Stuckert

A conclusão da obra ocorreu no final de 2019, mas o planejamento de ocupação foi postergado para que a estrutura fosse utilizada emergencialmente no enfrentamento da pandemia da covid-19, consolidando o HCPA como o maior centro de referência no tratamento de alta complexidade da doença no Rio Grande do Sul. De acordo com a assessoria da entidade, passados os momentos mais graves, a ocupação ocorreu gradualmente. Recentemente, foi migrado o Bloco Cirúrgico, que funciona atualmente com 13 salas, mas tem capacidade de ampliação para 40. Futuramente, os blocos B e C devem abrigar novas áreas de Hemodiálise, Endoscopia, Centro de Infusões e Centro Integrado de Oncologia, entre outras.

No almoço o governador e o presidente trataram da estiagem que atingiu o estado, de projetos de irrigação para a agricultura gaúcha, do projeto do gasoduto de Vaca Muerta, na Argentina (que pode ter como porta de entrada para o Brasil o município de Uruguaiana) e outros temas prioritários, como os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).


Lula e a estudante de Medicina Marilza Vallejo Belchior / Foto: Ricardo Stuckert

Ineditismo e reconhecimento da saúde, educação e ciência 

A fala da estudante de Medicina Marilza Vallejo Belchior, mulher negra  emocionou o presidente e o público presente. "Sou uma mulher preta, oriunda da escola pública e no final do curso de Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul cujo hospital escola é o Hospital de Clínicas. Há três motivos para que eu esteja aqui hoje, o primeiro é o meu esforço e dedicação para alcançar meus sonhos. O segundo é o esforço de meus pais e o terceiro e muito determinante foram as ações afirmativas. Eu sou cotista por escola pública e étnica, e eu posso dizer que deu certo. Eu e quem eu represento, estamos chegando lá”, afirmou a estudante. 


Representante dos funcionários no Conselho do HCPA, André Tiago Tartas, que trabalha na área da segurança, lembrou que a representação dos trabalhadores nas empresas públicas com direito a participação nas decisões foi viabilizada por lei sancionada em 2010, durante o governo de Lula. “Hoje é um dia especial para nosso Hospital que pela primeira vez recebe a visita de um presidente. Somos mais de sete mil trabalhadores das mais diversas áreas que trabalham para oferecer o melhor para a população. Senhor presidente, aqui ninguém solta a mão de ninguém”, afirmou, destacando que a entidade está inaugurando dois prédios com recursos liberados no governo Dilma, “que estão prontos para aumentar os atendimentos ao SUS com o apoio de seu governo’, complementou.

A diretora-presidente do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Nadine Clausell, destacou que o Hospital das Clínicas é um hospital público, universitário, que presta uma assistência à saúde de excelência com educação em saúde. Assim como apontado por André, a dirigente destacou o ineditismo da visita presidencial. “Mesmo sendo o hospital escola da Ufrgs há mais de cinco décadas nunca tivemos a visita de um presidente da República. Estamos duplamente honrados, primeiro pela presença, segundo por ter aqui um presidente e sua equipe que acreditam nos mesmos valores que nós, saúde, educação. Sabemos que esses dois são pilares para formar uma sociedade mais justa e igualitária.”

Ela pontuou que nos mais de 10 mil trabalhadores da entidade, 70% é composta de mulheres. A dirigente também destacou o papel do hospital durante a pandemia e a referência que o mesmo foi durante o período. “Todo nosso plano de ocupação (dos dois blocos) foi sustado e rapidamente nos organizamos e atendemos mais de cinco mil pacientes com covid em CTI. E fizemos também um trabalho muito forte de conscientização do uso da máscara, conscientização das vacinas. O hospital foi uma referência não só na assistência, mas também com produção do conhecimento. Batemos sempre na mesma tecla, da importância do respeito à ciência para podermos vencer a pandemia.”


Lula e a diretora-presidente do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Nadine Clausell / Foto: Ricardo Stuckert

Reconstrução da saúde 

Durante o evento, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, assinou duas portarias destinando recursos para hospitais do Rio Grande do Sul. A primeira, de nº 771, destinou R$ 2,4 milhões para a habilitação de uma unidade de Alta Complexidade em Oncologia na Santa Casa de Misericórdia de Bagé. A segunda, de nº 772, destinou R$ 164 milhões para o atendimento de média e alta complexidade em hospitais de Caxias do Sul, Guaíba e Santa Maria. Conforme destacou a ministra, os investimentos fazem parte de uma política de regionalização da saúde.

Em sua intervenção a ministra frisou a importância de reconstruir a saúde, e pontuou que o HCPA será um modelo para nos inspirar a reconstrução. “Vamos fortalecer todos os programas que retomamos no terceiro governo do presidente Lula, o Mais Médicos, Farmácia Popular, fortalecer a vacinação, estamos com o Zé Gotinha também. Vamos trabalhar ainda na política das pessoas com deficiência. A esperança voltou e o trabalho de cuidar do povo, fortalecer o SUS. Esse trabalho só é possível com os trabalhadores e trabalhadoras do SUS, e reafirmo o compromisso do governo Lula com a valorização das categorias, com a valorização da enfermagem e com todo esse trabalho. Vamos trabalhador juntos pela reconstrução do SUS”, ressaltou. 


“Sou uma mulher preta, oriunda da escola pública e no final do curso de Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul cujo hospital escola é o Hospital de Clínicas / Foto: Alexandre Garcia

Na mesma linha, o ministro da Educação, Camilo Santana, destacou a atuação de todos os profissionais da saúde que enfrentaram a pandemia. “Que resgataram a vida de homens e mulheres. Sabemos o quanto passamos com o negacionismo, de um governo que negou a vacina, que negou a ciência, mas estamos de volta.”

O ministro ressaltou a importância da educação e da reconstrução do setor. “Quando chegamos no ministério era um verdadeiro desmonte das suas políticas. Em seis meses só para o RS o ministério já repassou mais de 1 bilhão e 800 milhões de reais’, expôs, pontuando que o ato de hoje envolve duas áreas que são fundamentais para as pessoas (educação e saúde). “Durante muito tempo negaram a pesquisa nesse país. A pandemia mostrou a importância do SUS."

Exaltação do SUS e a volta de sonhar e esperançar 


Durante o evento, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, assinou duas portarias destinando recursos para hospitais do Rio Grande do Sul / Foto: Ricardo Stuckert

Com a participação de diversos funcionários do hospital e aberto ao público em geral, o presidente Lula encerrou o evento. Com quase 20 minutos, seu pronunciamento enfatizou a importância do Sistema Único de Saúde. Ele recordou que juntamente com Olívio Dutra, e posteriormente Tarso, então deputados constituintes, participaram da criação do SUS.

“Quando o SUS foi promulgado, a gente estava fazendo uma coisa que nenhum país do mundo, com mais de 100 milhões de habitantes, conseguiu fazer, que foi a tentativa de universalizar a saúde nesse país. Universalizar é sempre muito complicado, porque significa você dar a todas as pessoas a oportunidade e o direito de ter acesso a uma saúde de qualidade, e uma saúde que possa atender às necessidades das pessoas. Para que o SUS desse certo, era preciso que houvesse uma consciência pública e privada da importância de criar o Sistema Único de Saúde.”

Ele destacou que naquele momento muita gente da rede privada se colocou contra o sistema, e das décadas de criticas e de tratamento pejorativo dos meios de comunicação. “Vocês acompanharam quantas décadas o SUS só aparecia no meio de comunicação de forma pejorativa. Muitas vezes o SUS atendia mil pessoas, mas se uma pessoa não fosse bem atendida, era aquela pessoa que aparecia na imprensa”, disse. 


Futuramente, os blocos B e C devem abrigar novas áreas de Hemodiálise, Endoscopia, Centro de Infusões e Centro Integrado de Oncologia, entre outras / Foto: Alexandre Garcia

Lula também ressaltou que precisou acontecer uma desgraça no mundo, uma pandemia, ter um governo negacionista para que o SUS pudesse, "com todo o sacrifício da falta de recursos, mas com dedicação de homens e mulheres que de forma extraordinária colocaram a sua própria vida em risco para salvar a vida de outras pessoas, ser respeitado como jamais havia sido. Hoje mesmo as pessoas que criticavam o SUS são obrigadas a se curvar e agradecer. Morreram 700 mil pessoas neste país. Poderia ter morrido mais de um milhão se não houvesse a dedicação dos funcionários do SUS”, afirmou. 

De acordo com o presidente a inauguração de uma obra que transforma o Hospital de Clínicas em um dos centros de excelência mais importantes do país mostra que “um outro país é possível”.

“Por que todas as meninas desse país não podem ser como a nossa estudante que veio aqui, emocionada, dizer que teve a oportunidade de fazer uma universidade? Por que todos não podem ter? Por que o país não pode ser melhor? Por que que a pessoa não pode comer três vezes ao dia? Por que não pode ter um emprego mais decente? A gente pode”, defendeu. 


"A gente tem que se olhar, tem que reconhecer, tem que conversar, tem que se abraçar para que a gente possa construir o mundo que nós precisamos construir”, defendeu o presidente / Foto: Alexandre Garcia

“A gente quer viver bem, dignamente. O que é que justifica a fome? O que é que o indivíduo estar morando na rua? O que é que justifica a violência que nós estamos vivendo todos os dias? A violência contra a mulher? A razão disso é porque nós precisamos falar mais em amor, solidariedade, fraternidade. Agente precisa aprender, olhar com mais carinho para o outro. A gente tem que se olhar, tem que reconhecer, tem que conversar, tem que se abraçar para que a gente possa construir o mundo que nós precisamos construir”, finalizou. 

Também se manifestou o ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, que destacou o negacionismo do governo anterior. “O Brasil voltou depois de um longo inverno, o inverno sempre acaba e chega a primavera”, afirmou. O nome do ex-presidente Jair Bolsonaro nunca foi mencionado no ato, contudo o público gritou “inelegível”, em alusão ao julgamento encerrado ontem (30) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O prefeito Sebastião Melo (MDB), em sua fala breve, reforçou o papel da democracia e dos pilares que a sustentam como respeitar quem pensa diferente. Também pontuou que se o SUS de Porto Alegre tem a qualidade que tem é graças ao HCPA. “Quando os entes federados, municípios, estado e união andam juntos a vida do povo melhora." Ele fez um apelo ao presidente para que a reforma tributária, em discussão no Congresso, não retire recursos dos municípios. 

Também do MDB, o vice-governador Gabriel Souza, pontuou que o governo é reconhecedor de quanto o presidente tem empreendido no restabelecimento republicano e constitucional das relações federativas. “Que é aquilo que temos que fazer sempre quando eleitos, independente das nossas opiniões políticas ou ideologias, precisamos lutar sempre para somar esforços e resolver o problema das pessoas. Entendemos que temos que trabalhar em conjunto para melhorar a vida da população.” Saudou a ajuda do governo federal nos esforços de reconstrução das áreas do estado devastadas pela passagem do ciclone extratropical entre os dias 15 e 16 de junho.

“Essas relações devem continuar e se aprofundar. Temos ainda muitos desafios também na área da saúde. Um deles o pagamento do piso da enfermagem”, citando a manifestação realizada por profissionais da saúde que ocorreu em frente ao hospital. Pontuou que apesar dos esforços recentes do governo federal para a liberação de verbas para a área, os estados ainda precisavam de mais ajuda para garantir o piso. 

Estiveram presentes ainda na comitiva do presidente, Janja Lula da Silva, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o ministro das Cidades, Jader Filho. Também participaram diversos parlamentares gaúchos.


Edição: Katia Marko