“Governar é cuidar das pessoas.” Esta foi a principal afirmação do presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT) na cerimônia de entrega de 446 residências do projeto Minha Casa Minha Vida aos associados da Cooperativa dos Metalúrgicos (Coometal), do projeto Residencial Viver, em Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre, na manhã desta sexta-feira (30). Dirigindo-se ao governador Eduardo Leite (PSDB) e às autoridades presentes, ele reafirmou que “uma cidade é feita de e por pessoas, homens e mulheres que têm aspirações para viver melhor”.
Disse que um prefeito, um governador e um presidente, quando eleitos, devem governar para todos, mas precisam definir quem vai receber mais atenção na hora da distribuição dos recursos. Para ele, não há dúvidas de quem são os que mais precisam. Segundo Lula, "numa cidade como Viamão se tiver muito dinheiro na mão de pouca gente, esta cidade representa miséria, violência, pessoas na rua. Já se, ao invés de muito dinheiro nas mãos de poucos, tiver pouco dinheiro na mão de muitos, significa muita melhoria".
"O povo não quer muita coisa, quer ter um bom emprego, uma casinha, educação para seus filhos, comprar um carrinho, comer um churrasco no final de semana. E isso tudo está garantido na Constituição de 1988", prosseguiu o presidente.
Lula lembrou que passou a maior parte de sua vida pagando aluguel e que sua primeira casa, que comprou em 1975, tinha 33 metros quadrados. "Moravam eu, minha mulher, três filhos, a mãe de minha mulher e uma dálmata e um pequinês. É difícil morar em 33 metros, é muito complicado. Por isso, quando começamos o Minha Casa Minha Vida, uma das brigas que eu tinha era contra este aperto”, revelou.
Disse que em seu governo anterior encomendou da Dilma um sistema habitacional, e na época empresários apresentaram projeto de 200 mil casas. "Achei muito pouco, chamei Guido Mantega, ministro da Fazenda, que apresentou um projeto de 500 mil casas, e ainda era muito pouco, precisávamos de um projeto acima de um milhão de moradas”. Quando decidiu construir um milhão de moradias, em março de 2009, segudo ele, após a abertura do cadastro, o número de famílias chegou no final do governo em quatro milhões. "Agora decidimos fazer mais dois milhões de casas e isso ainda é pouco.”
Lula garantiu que sua experiência mostrou a importância de cuidar dos pobres, pois “a solução do problema dos países mais pobres é colocar o povo no orçamento”. Lembrou que está organizando o Orçamento Participativo Nacional, ouvindo o povo sobre as prioridades nos 27 estados da federação. “Quem faz o orçamento é o Congresso, mas a população tem o direito de pressionar”, disse o presidente.
Ele concluiu anunciando que somente em infraestrutura serão investidos R$ 23 milhões este ano. “É mais do que o outro governo investiu em quatro anos", pontuou.
Falou também sobre a conversa que teve com o Papa Francisco sobre a necessidade de diminuir a desigualdade no mundo. “Não é possível esta desigualdade, tem uns que comem dez vezes por dia e tem outras que passam dez dias sem comer. Nós provamos em 2012 que era possível acabar com a fome no país, mas quando voltamos tinham 33 milhões de pessoas famintas”, criticou.
Momentos de convergência
O governador Eduardo Leite disse na solenidade que apesar das diferenças, havia muito em comum entre projetos dos dois governos. “O importante é que possamos encontrar momentos de convergência em favor da população, especialmente da população que mais precisa”. Para ele, embora tenham escolhas de caminhos diferentes, “em todas as políticas públicas que tivemos convergência podem contar conosco”.
Lembrou que no projeto que está sendo entregue, o governo do estado colocou R$ 20 milhões para que os empreendimentos pudessem ser concluídos. Lembrou ainda da convergência em defesa da democracia. "Quando o encontrei pela primeira vez depois de eleito, em 8 de janeiro, todos nos unimos em favor da democracia. Sou presidente de um partido de oposição, mas tenha a certeza que estaremos trabalhando juntos”, disse.
O primeiro a falar na solenidade foi o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta. Afirmou que o Brasil retomou seu rumo e que “em cada mês se fez mais do em cada um dos últimos anos". Citou ser um dia especial, pois além da entrega da obra do Minha Casa Minha Vida, há também a entrega no Hospital de Clínicas de Porto Alegre de uma expansão com um investimento de R$ 500 milhões. "A missão de nosso governo é criar uma vida digna a todo o povo brasileiro", finalizou.
O ministro das Cidades, Jader Filho, falou sobre o projeto da Coometal que foi contratado em 2012 e que só hoje as famílias tiveram acesso. Ele fez um relato completo das obras que ainda serão entregues e afirmou, dirigindo-se ao presidente Lula, ter orgulho de estar participando da reconstrução do país. “Nos últimos quatro anos não foi construída uma única casa e foi graças ao senhor que retomamos este projeto. Nós vamos continuar com esta missão de cumprir até o final de seu terceiro mandato 2 milhões de unidades habitacionais.”
Falou ainda o prefeito de Viamão, Nilton Magalhães (PSDB), que lembrou da participação do município na obra que estava sendo entregue. Também a tesoureira da Coometal, Oliva Maria Vidal, que contou a história das lutas da cooperativa e, em nome dos novos moradores, Karine Siqueira Spier, que depois de lembrar sua trajetória na cooperativa disse ser um dia de comemoração.
Momento cheio de significado
A primeira moradora a receber as chaves diretamente das mãos do presidente Lula foi a doméstica aposentada Odete Viana Gomes, de 66 anos. Segundo ela, ter sua primeira casa própria representa "tudo de bom" para ela e sua família. Ela conversou rapidamente com o Brasil de Fato RS, após a assinatura do termo com a Caixa Econômica Federal. Antes de se mudar para a nova moradia, a família pagava aluguel em uma casa na cidade de Alvorada.
A conquista, pontua Odete, veio através da cooperativa. Ela comenta que não tinha ideia de que seria a pessoa que receberia as chaves da mão do presidente, o que foi um momento cheio de significado. “Foi muito importante, eu nunca pensei que seria ele que me entregaria a chave”, revelou. Para o futuro, a aposentada espera viver bem com a estrutura das casas.
Além de Odete, na casa viverão seu filho Agberto Gomes Gonçalves, 39 anos, sua esposa Juliana Leal Gonçalves, 34, e os filhos do casal, Luis Henrique Leal Gonçalves, 16, e Alícia leal Gonçalves, dois meses.
Emocionado com a primeira casa própria da família, Agberto, que tem como profissão zelador, diz que vislumbra agora um futuro promissor cheio de esperança, de muita expectativa e vontade de progredir ainda mais.
Agenda de Lula
Após almoço no Palácio Piratini com o governador Eduardo Leite e ex-governadores, o presidente visitou os dois novos prédios do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), hospital público e universitário vinculado ao Ministério da Educação (MEC), que ampliaram a área da instituição em 85 mil m², o que elevou as instalações totais para 230 mil m². As obras foram concluídas em 2019, com recursos exclusivos do MEC (R$ 555,5 milhões do Plano Plurianual 2011/2012), mas o planejamento de ocupação foi postergado para que a estrutura fosse utilizada emergencialmente no enfrentamento da pandemia de covid-19.
A previsão é que a comitiva presidencial deixe Porto Alegre às 17h45 com destino a Brasília.
Edição: Marcelo Ferreira