Mais de 400 camponeses e camponesas, além de representantes de comunidades quilombolas e povos indígenas das etnias Kaingang e Guarani, se reuniram em Boqueirão do Leão, no Vale do Rio Pardo, para trocarem sementes. Também compartilharam saberes e experiências, nesta que foi a 22º edição do Encontro Diocesano das Sementes Crioulas, realizado no salão da paróquia São João Batista na última quarta-feira (14).
O encontro reafirmou as sementes como patrimônio dos povos e a mais importante das tradições entre os pequenos agricultores do campo brasileiro. O tema proposto na atividade foi em sentido afirmativo: “É o encontro dos agricultores e agricultoras com suas sementes e origens”.
A atividade acontece desde 2001. Segundo o técnico agrícola Maurício Queiroz, vinculado à Ação Social Diocesana (ASDISC) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o encontro representa o momento mais importante do ano para quem se relaciona com os temas das sementes crioulas e da agroecologia.
Terra, Água, Ar e Fogo
Pela manhã, aconteceram oficinas agroecológicas, rodas de conversa e debates, com destaque para quatro estações temáticas que representaram os quatro elementos. “Foram quatro espaços de formação, um dedicado à Terra, que se destinou ao cuidado com as sementes crioulas; outro dedicado à Água, que se dedicou à questões sobre cisternas e recuperação de fontes; o espaço chamado Ar abordou cuidados gerais com o meio ambiente, mas principalmente sobre a produção de biofertilizantes; já no espaço Fogo/Sol foram trabalhados temas associados ao cooperativismo e a importância de trabalhar em grupo”, explicou Queiroz.
À tarde, foi a vez da exposição e da comercialização de produtos coloniais, artesanato e publicações, bem como a troca de sementes. Foi promovida por grupos de guardiões de sementes, movimentos sociais ligados ao campo e outras organizações.
“Nosso momento mais importante e místico também aconteceu na parte da tarde, quando formamos a mesa comum onde as sementes crioulas foram colocadas, assim como ervas medicinais, mudas de árvores e flores”, relatou o técnico. Acrescentou que, depois de abençoadas pelo bispo Dom Aloísio Alberto Dilli e pelo frei César, os produtos foram compartilhados entre todos os presentes.
Quem canta, também semeia
O encontro também teve mística e música. Nesta edição, a cantoria ficou a cargo de artistas como Antonio Gringo, Regina Wirtti e Antônio Marangon, assim como a jovem Bruna Richter, a Ave Cantadeira, que se intercalaram nos microfones mantendo o público animado e mobilizado durante todo o dia.
“São sempre momentos que nos fazem muito bem, somos muito bem recebidos nesses espaços, sentimos que nossa arte também é semente, que somos semeadoras e semeadores”, afirmou Bruna. Ela destacou ainda que os encontros de sementes crioulas são também pontos de encontro e reencontro e cada artista que se apresenta faz a escolha de estar no meio dessas pessoas. “Nossa música carrega nossas histórias de vida, reflexões, análises e de forma muito clara traz um posicionamento de escolha de luta por essas sementes, pela vida e pela saúde”, reparou.
Quem promoveu a reunião foi a Diocese de Santa Cruz do Sul através da ASDISC e CPT. Também ajudaram na organização o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Cooperlaf, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais local, a União Leoboqueirense de Clubes de Mães, a Emater, e as escolas Adolfo Mânica e Aprender. Teve ainda o apoio da prefeitura local, e da Articulação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo (AAVRP) e da Articulação de Agroecologia do Vale do Taquari.
Edição: Ayrton Centeno