Comunidades Mbyá Guarani do Litoral Norte do Rio Grande do Sul reuniram-se, entre os dias 30 e 31, na Aldeia Campo Bonito, no município de Torres (RS). Em situação de emergência, o grupo foi chamado às pressas para tratar da urgência na votação do PL490/07 no Congresso Nacional e debater as principais dificuldades sobre o marco temporal encaminhado com projeto de lei para aprovação no Senado Federal.
Após o encontro, foi lançada uma carta, que destaca os principais pontos debatidos. As falas dos caciques, “dos xeramoî kuery e das kunhangué”, trazem preocupação com o futuro das aldeias. Especialmente com as comunidades que seguem acampadas na beira das estradas aguardando pedidos de providências em processos de demarcação, além daquelas que lutam pelo reconhecimento dos movimentos de retomadas originárias de nossos territórios junto à Funai.
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“Do mesmo modo, como muito nos preocupa, o que pode acontecer com as aldeias que já foram demarcadas como terras indígenas tradicionais ou foram adquiridas como reservas indígenas, caso ‘nossa presença física’ seja condicionada ao dia 5 de outubro de 1988. Medida criminosa que além de atacar direitos originários garantidos na Constituição de 1988, insiste apagar nossa memória territorial e o modo de ser do mbyá rekó. Dificuldades todas que foram debatidas e que também envolvem o futuro das políticas públicas, como acesso à saúde e à educação diferenciada, entre muitos outros problemas que poderão ser criados, sem nossa consulta ou autorização como é assegurado pela OIT 169”, diz trecho da carta.
O grupo reunido no encontro afirma que, sem jamais perder esperanças, seguirá fortalecendo seu “tekó nhemonbaraeté”. “Acreditamos nas belas palavras pronunciadas pelo avy porã dos antigos e na importância de transmitir aos mais jovens nossas próprias formas de organização para continuar defendendo o futuro delas”, diz.
A carta faz um convite aos xeramoî kuery (anciãos), xejaryi kuery (anciãs), mburuvixa (caciques), kunhangué (mulheres) e kyringué (jovens) de todas as aldeias para estarem presentes no Nhemboaty Mbyá kuery, mobilização que iniciou nesta terça-feira (6) e segue até quinta (8), na Tekoa Nhü Porã, em Torres.
Buscando fortalecer ainda mais os encontros, os Guarani também convidam a todas amigas e amigos, apoiadoras e apoiadores, instituições oficiais, universidades, movimentos sociais, coletivos culturais e de jornalismo para estarem juntos.
“Como filhas e filhos de Nhanderu Tenonde, estamos unidos com nossos parentes originários na defesa dos Povos Indígenas do Brasil”, complementa, destacando a mobilização nacional contra o Marco Temporal que será pautado no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
Edição: Marcelo Ferreira