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Coluna

O futebol como elemento de cooperação Brasil-Palestina

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O ex-candidato a presidente da Fifa, o príncipe Ali bin Al Hussein, da Jordânia, viajou para a Cisjordânia ocupada no domingo, 14 de maio de 2023, para inaugurar um estádio de futebol dedicado à lenda do futebol Pelé, - Reprodução
A tendência é que o Brasil tenha uma projeção cada vez mais influente no Sistema Internacional

Um dos trunfos da diplomacia brasileira para ressaltar a política externa do país é fortalecer as relações exteriores através do chamado “soft power”. Sempre foi uma característica da presença do  Brasil e até mesmo a ditadura militar (1964-1985) reforçou essa projeção (também ultrapassando os limites na difusão de um turismo predatório e misógino). Após a retomada da democracia formal, nossos diplomatas se esforçavam por demonstrar ao planeta que esta sociedade era saudável, com aspectos interessantes e consensuais – apesar das dificuldades econômicas e da desigualdade social. Fora o tenebroso período de Ernesto Araújo – o ex-chanceler que se orgulhava de ser um pária mundial – houve uma constante na exposição brasileira de uma agenda positiva.

Dentro dos conceitos operacionais do “soft power”, temos a cooperação internacional em distintas áreas do conhecimento e atividades, sendo estas produtivas, culturais e também desportivas. No período da Guerra Fria – a Bipolaridade entre Estados Unidos e União Soviética – havia uma disputa também na geração de investimentos externos, projetos industrializantes e de modernização, assim como missões para desenvolvimento de áreas-chave, como educação tecnocientífica, saúde com vários graus de complexidade e o ciclo esportivo completo (da base ao alto rendimento). Dentre as experiências de convênios e missões científicas muito bem sucedidas, ressaltamos a educação, saúde e desporto desenvolvidos em Cuba através das freqüentes delegações soviéticas.

A relevância deste aspecto da política externa ganhou um instrumento no Brasil desde a década de 1980, especificamente no ano de 1987, quando foi fundada a Agência Brasileira de Cooperação, durante o controverso governo de José Sarney (1985-1990). Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o volume de projetos de cooperação e experiências bem sucedidas é bastante elevado.

“A ABC, acumula a realização de mais de 7 mil projetos a 108 países da América Latina, Ásia, África, Europa e Oceania com participação de mais de 124 instituições brasileiras reconhecidas por sua excelência. Os principais projetos da cooperação do Brasil desenvolvem-se em áreas como administração pública, agricultura familiar, temas urbanos, ciência e tecnologia, cultura, defesa, desenvolvimento social, educação e alimentação escolar, indústria e comércio, justiça, meio ambiente, energia, pecuária, pesca, planejamento, saúde, segurança pública, trabalho e emprego.”

Já a ideia-chave da cooperação internacional brasileira passa por uma demanda do país amigo, não sendo uma dinâmica de intervenção ou pretensamente, de alguma “missão civilizatória”, típica da prepotência ocidental – o mesmo arcabouço ideológico que fundamentou o colonialismo de europeus de fé judaica impulsionados por impérios ocidentais na ocupação  ilegal da Palestina. Deste modo, o conceito de cooperação do Brasil vai ao encontro do princípio da autodeterminação dos povos:

“A cooperação ao exterior desenvolve-se exclusivamente em resposta a demandas oficialmente recebidas, por meio dos postos diplomáticas brasileiros, ou das representações estrangeiras em Brasília. O Brasil não voluntaria cooperação. Quando recebida a demanda, a ABC consulta instituições públicas e privadas brasileiras com expertise na área demandada para verificar a disponibilidade e interesse em compartilhar seu conhecimento técnico. Em seguida, iniciam-se as etapas para a elaboração do projeto, que envolve: diagnóstico técnico, elaboração conjunta com o país parceiro e instituições brasileiras participantes. O projeto é ainda submetido a parecer das consultorias jurídicas do MRE e das instituições parceiras e dele constam prazos, objetivos definidos, custos, etapas e produtos de cada uma das etapas. Ao longo da execução, as iniciativas passam por processos de acompanhamento e avaliação.”

A Palestina demanda ao Brasil cooperação no desenvolvimento do futebol em todos os aspectos    

A relação entre Brasil e a Palestina é antiga e remonta ao ano de 1975, quando a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) foi autorizada pelo governo do general Ernesto Geisel (1974-1978, sendo um governo ditatorial) a abrir uma representação na capital Brasília. No ano de 1993 – na esteira dos mal sucedidos Acordos de Oslo, mas na época ainda vistos como alguma possibilidade concreta – as autoridades brasileiras autorizaram a delegação especial palestina, cujo status  de embaixada foi equiparado em 1998, no último ano do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (19995-2001).

A partir de 2004 é criada a representação especial em Ramala, passando a se chamar de Embaixada da Palestina em 2010. É esse esforço de representação diplomática que faz com que o Brasil, país de milhões de árabe-descendentes – e de 4 mil brasileiros que vivem na Cisjordânia (o número de nacionais residentes em Gaza sob cerco do inimigo não constam no portal do Itamaraty) – seja visto como novamente como um parceiro  confiável e com posições cada vez mais pró-palestinas.

Diante do exposto acima, uma grande oportunidade se avizinha através da cooperação bilateral tendo como conteúdo o desporto mais popular do planeta. Vejamos.

O ex-candidato a presidente da Fifa, o príncipe Ali bin Al Hussein, da Jordânia, viajou para a Cisjordânia ocupada no domingo, 14 de maio de 2023, para inaugurar um estádio de futebol dedicado à lenda do futebol Pelé, distante 5 quilômetros da cidade de Belém. A visita formal, seguida de um amistoso sub-23 entre equipes palestinas e jordanianas foi realizada na ocasião.

A meta anterior era outra e ainda mais ousada. A liderança desportiva palestina esperava a presença do presidente da FIFA – entidade máxima do futebol mundial – Gianni Infantino na inauguração. Uma das agendas permanentes do maior executivo do esporte mais popular do planeta é inaugurar estádios de futebol com o apelido consagrado de Édson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé.

Segundo a reportagem da Agência de Notícias Brasil Árabe  a iniciativa partiu do ministro da Juventude e Esportes do país árabe, Jibril Rajoub. Por decisão palestina, o antigo Al-Khader Stadium – localizado na cidade de mesmo nome – passa a se chamar Pelé International Stadium Al-Khader. A autoridade ministerial também é presidente do Comitê Olímpico Palestino e tem como meta um convênio com o Brasil no âmbito do futebol e outros esportes. Importante ressaltar a relação com a representação do Brasil em Ramala, nos Territórios Ocupados em 1967, através do embaixador Alessandro Candeas. Houve uma aproximação durante a Copa do Mundo do Qatar e esta se torna mais estreita com o falecimento de Pelé. A ideia da mudança de nome do estádio já acima referido vai ao encontro desta proximidade, visando ampliar a cooperação de Brasília com a população sob dominação estrangeira.

A diplomacia de carreira e profissional intenta há quase dois anos a consecução de um memorando de entendimento entre o Brasil e a Palestina Ocupada para o desenvolvimento do futebol, ao menos nos Territórios Ocupados na Naksa. Evidente que todos os passos foram bloqueados pelo governo do aliado sionista Jair Bolsonaro, mais interessado em negociar sistemas de vigilância, controle e espionagem através das relações com a praça financeira de Tel Aviv, nos Territórios Ocupados de 1948.

O momento é propício e a tendência é que o Brasil tenha uma projeção cada vez mais influente no Sistema Internacional. O futebol brasileiro é um ativo de “soft power” de dimensões globais e podemos – devemos – auxiliar a população palestina no desenvolvimento deste esporte, mesmo sob os rigores da ocupação e da luta pelo fim do Apartheid Sionista.

* Este artigo foi originalmente publicado no portal Monitor do Oriente Médio

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** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko