No final de abril, as bancadas da Câmara de Vereadores concluíram as indicações dos 14 parlamentares que irão compor a Comissão do Plano Diretor. Na quinta-feira (4), o economista André Augustin, pesquisador do Observatório das Metrópoles, divulgou um levantamento em que aponta que 8 dos 14 vereadores indicados tiveram entre seus principais doadores na campanha de 2020 empresas do mercado imobiliário.
Os integrantes titulares da comissão* serão: Airto Ferronato (PSB), Cláudia Araújo (PSD), Cláudio Janta (Solidariedade), Conselheiro Marcelo (PSDB), Engenheiro Comassetto (PT), Fernanda Barth (Podemos), Giovani Culau e Coletivo (PCdoB), Idenir Cecchim (MDB), Jessé Sangalli (Cidadania), João Bosco Vaz (PDT), Mari Pimentel (Novo), Mauro Pinheiro (PL), Mônica Leal (PP), Roberto Robaina (PSOL).
Augustin analisou os dados disponibilizados pela plataforma DivulgaCand, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e identificou que, excluindo doações dos candidatos para si mesmo e recursos dos partidos via fundo eleitoral e fundo partidário, 8 deles têm entre os cinco maiores doadores de suas campanhas pessoas físicas ligadas a construtoras e a empresas que atuam no setor imobiliário.
O pesquisador aponta que três vereadores tem ligações diretas com empresas do setor: Engenheiro Comassetto, proprietário da construtora Espaço Ambiental, Idenir Cecchim, dono da construtora BNP Construções e Pavimentações Ltda, e Mari Pimental, que é proprietária da holding Fenix, que atua no aluguel, compra, venda e corretagem de imóveis.
Comassetto não tem mais pessoas físicas ligadas a construtoras entre seus maiores doadores. Líder do governo e presidente da comissão, Idenir Cecchim teve como principal doador, com R$ 10 mil, Juliano Melnick, sócio da construtora Melnick.
Já Mari Pimentel tem como 3º maior doador Manoel Pimentel, sócio de sua empresa. A segunda maior doação que recebeu, no valor de R$ 15 mil, foi do empresário William Ling, que tem entre seus negócios a Terramar Investimentos, empresa que atua na compra, venda e aluguel de imóveis. O quarto principal doador (R$ 10 mil) da vereadora foi Dagoberto Zanon, que é dono da construtora Allemza.
O vereador Mauro Pinheiro teve como seu principal doador Almir Alves Neto (R$ 35 mil), diretor comercial da construtora CFL e sócio e outras empresas do setor imobiliários. Pinheiro também recebeu doações de R$ 10 mil cada de Leandro e Juliano Melnick, sócios da construtora Melnick.
Fernanda Barth teve como principal doador, com R$ 30 mil, Isaac Peres, que é dono da Multiplan, proprietária do Barra Shopping Sul e responsável pela construção do Golden Lake, bairro privado com 18 torres que está sendo construído ao lado do Jockey Club de Porto Alegre. O segundo principal doador da vereadora foi o já citado Dagoberto Zanon, com R$ 24 mil. Na sequência, aparecem três integrantes da família Gerdau Johanppeter, que além de donos da siderúrgica, possuem empresas que atuam no mercado imobiliário, como a Solos e a Arquiter. O quinto maior doador, com R$ 5 mil, foi Oscar Fakhoury, dono da FKO Empreendimentos e Participações Imobiliárias Ltda.
Jessé Sangali teve como principal doador William Ling, com R$ 10 mil.
Mônica Leal teve como os dois principais doadores os irmãos Jorge (R$ 15 mil) e Klaus Gerdau Johannpeter (R$ 5 mil). Ela também recebeu doações de R$ 5 mil de William Ling e do ex-vice-governador Paulo Feijó, que atua no ramo de supermercados e é dono da construtora Rosa Norte.
João Bosco Vaz recebeu R$ 1 mil, principal doação de pessoa física empatada com diversas outras no mesmo valor, de Renato Colares Matte, que foi dono da Cotta Matte Projetos Engenharia e Construções Ltda, empresa que encerrou atividades em 2007.
Cláudia Araújo teve como principal doador (R$ 3 mil) Viturugo Rinaldi de Miranda, sócio da Ectosul Empreendimentos Imobiliários.
A pesquisa de Augustin não encontrou pessoas físicas ligadas a empresas do mercado imobiliário entre os principais doadores das campanhas de Roberto Robaina, Airto Ferronato, Giovani Culau, Conselheiro Marcelo e Claudio Janta.
Augustin pontua que as doações de campanha não significam compra de apoio para pautas de interesse do setor no Plano Diretor, mas salienta que os dados demostram a participação do setor imobiliário e as suas preferências na política da cidade.
Além disso, lembra que alguns dos empresários que apareceram na pesquisa, como William Ling e família Gerdau, estão entre os principais financiadores de think tanks e eventos que promovem o pensamento neoliberal na economia.
Recentemente, o Fórum da Liberdade, que tem apoio de ambos, teve um painel voltado para debater o urbanismo, patrocinado pelo Sindicato das Indústria da Construção Civil do RS (Sinduscon-RS), no qual foi defendida a desregulamentação geral das regras urbanísticas — objeto do Plano Diretor — das cidades.
André Augustin tem se dedicado ao estudo dos financiadores de campanha em Porto Alegre. Em 2022, ele publicou, em parceria com o professor Luciano Fedozzi, do Departamento de Sociologia da UFRGS, o artigo “Para quem se governo em Porto Alegre? Uma análise do financiamento de campanha nas eleições municipais de 2020”.
O artigo, que faz parte do livro Reforma e Direito à Cidade — Porto Alegre, publicado pelo Observatório das Metrópoles, abordou as doações dos candidatos a prefeito em 2020. No texto, os autores apontam que o prefeito Sebastião Melo teve 41% dos recursos de sua campanha oriundos de doações privadas, enquanto a média dos demais candidatos foi de 45%.
O setor mais presente nas doações foi o da construção civil. Melo recebeu doações de campanha de pessoas físicas ligadas aos grupos Cyrela Goldsztein, Iguatemi, Melnick, Multiplan, CFL Incorporadora, entre outras empresas do setor.
*Alguns parlamentares dividirão os trabalhos com colegas de bancada.
Edição: Sul 21