Estamos disputando uma escola voltada à vida, que tenha clima, gestão democrática, diálogo e empatia
A violência contra as escolas com atentados acontece desde o início dos anos 2000 no Brasil. São pelo menos 23 atentados com 40 vítimas fatais. Os autores são alunos e ex-alunos das escolas atingidas nos atentados. Eles expressam ter vivido bullying na escola e tem entre 10 e 25 anos de idade, são homens, brancos e atacam preferencialmente meninas e até mesmo pessoas com deficiência (caso Barreiras/BA).
De acordo com o relatório de transição do governo federal "O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental", ocorreram 16 agressões armadas no período, das quais quatro no segundo semestre de 2022.
Nas redes, no submundo digital e na superfície, os autores destes crimes expressam ódio, cultuam símbolos supremacistas, armas e têm sido seduzidos por aliciadores digitais que só os aceitam com o código da misoginia. Assim eles passam a ser percebidos, valorizados e estimulados a atacarem escolas. O caso de Realengo (2011) que vitimou 12 pessoas, 9 meninas, é tido como o símbolo maior da misoginia.
Todavia, respostas às ameaças contra as escolas estão sendo dadas, como o canal de denúncias Escola Segura, a qualificação da investigação e esclarecimento de redes de aliciadores digitais. Foram mais de 300 prisões e 1.000 pessoas conduzidas a delegacias em face de investigações no período de 5 a 20 de abril de 2023 no país. E neste dia 2 de maio, o PL das Fake News pode ser aprovado no Congresso Nacional!
Do ponto de vista da segurança pública voltada para a prevenção das violências, tenho sugerido a criação de observatórios da segurança escolar, núcleos de práticas restaurativas e projetos de educomunicação. Estamos disputando uma escola voltada à vida. Uma escola aberta, que tenha clima, gestão democrática, diálogo e empatia.
A violência na escola nasce do “emparedamento do gesto da palavra”, como explicou o sociólogo José Vicente Tavares dos Santos. Quando não é possível falar, quando não se é visto, é daí que nasce a violência nas e contra as escolas.
* Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira