Com o objetivo de mostrar a realidade das comunidades periféricas e discutir temas como cultura, trabalho, educação, saúde, meio ambiente e políticas públicas, teve início, nesta segunda-feira (1º), Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, o I Fórum das Periferias de Porto Alegre. Uma caminhada pelas ruas da Ilha dos Marinheiros seguida de ato cultural no Centro Marista da Ilha marcou a abertura do evento.
O I Fórum das Periferias de Porto Alegre segue até 6 de maio, com uma série de atividades, organizadas por eixos temáticos, de forma descentralizada, em diversas comunidades da cidade. Serão realizados painéis e rodas de conversa com a participação de líderes comunitários, ativistas sociais, professores, pesquisadores e artistas, além de moradores das próprias comunidades. Confira a programação completa.
A caminhada de abertura reuniu lideranças comunitárias de diferentes bairros da capital gaúcha, apoiadores e movimentos sociais. Entre eles o Levante Popular da Juventude e do Movimento Nacional de Luta por Moradia, que destacaram sua mobilização e luta junto nos territórios. O Brasil de Fato RS transmitiu a atividade ao vivo.
"Força e organização popular"
Luis Henrique Silveira, que integra a equipe de organização, explica que a escolha do local para sediar a abertura do Fórum foi por conta do “abandono que as ilhas sofrem cotidianamente da administração pública”. Ele reforça que o objetivo do evento é organizar as comunidades para que elas possam, juntas, começar a construir propostas para melhorar a situação das periferias, que enfrentam situação de abandono por parte do poder público.
“O objetivo é esse, organizar as comunidades para começar a fazer uma discussão sobre o que é necessário para que as comunidades tenham melhorias. Por exemplo, o Orçamento Participativo, uma questão que ajudou muito as comunidades e que foi praticamente abandonado nos últimos anos, virou só de fachada”, comenta, lembrando também dos danos da privatização na área da saúde.
Membro do Conselho do Orçamento Participativo da cidade, Felisberto Seabra Luisi ressalta o momento de reencontro daqueles que lutam e também de início de toda uma trajetória. “Precisamos ter consciência que o Orçamento Participativo é um processo nosso, nada que a gente conquista no processo é dado pelo governo.Não temos que agradecer, temos que exigir direitos”, diz.
Segundo Felisberto, tanto as autoridades estadual quanto municipal omitem-se no tratamento das demandas das periferias. “Agora com o governo Lula esperamos retomar o Minha Casa Minha Vida, e todas as políticas públicas, para que cheguem na ponta, na periferia e sob o controle da periferia, o orçamento é uma ferramenta para isso.”
O líder comunitário Waldir Bohn Gass também lembra que Porto Alegre já foi palco da participação popular. “Acho que essa rebeldia vai recuperar essa história e dar o passo para frente. Vamos avançar, crescer na rearticulação e na unidade. Só assim vamos construir vitórias. Porto Alegre foi destruída pela necropolítica, infelizmente ainda hoje operada pelo prefeito da cidade”.
Reforça ainda a importância dos Comitês Populares de Luta, iniciativas que mantêm a luta e a solidariedade vivas nas periferias. “O poder que quer se adonar de tudo, inclusive da vida das pessoas. Só podemos mudar e derrotar com muita força e organização popular.”
Júlio Pedroso, liderança comunitária da Vila Pedreira, na Cruzeiro, entende que Fórum é relevante como mais um braço de conscientização sobre as políticas públicas. “Esse Fórum veio para salientar que precisamos estar dentro do processo. As comunidades também têm relevância e direitos. Estamos aqui com o intuito de fazer com que todas essas comunidades sejam relevantes no processo.”
Presente no ato de abertura, a deputada federal Regine Bispo (PT/RS) celebrou a retomada do processo democrático no país. “Sabemos que para avançar, para dar sustentação é necessário que o povo da periferia esteja mobilizado. Esse Fórum vem para contribuir para isso porque faz um debate da cidade, de uma cidade acessível, de uma cidade para todos”, comenta.
Beatriz Gonçalves Pereira, conhecida como Bia da Ilha, é mãe de santo e referência da comunidade e caminhou ao lado da deputada Reginete. Para ela, o Fórum é lugar de “conjugar as nossas ideias e apresentar propostas reais para a cidade”.
“Precisamos que tenha um acréscimo de verbas porque do contrário não conseguimos dar conta das demandas, que são muitas”, afirma. “Aqui especificamente, na Ilha Grande dos Marinheiros, estamos em uma luta para que seja feito um calçamento e para que tenhamos uma linha alimentadora do transporte”, complementa.
Indígena da região Norte no Estado, Viviane Kaingang pontua que o Fórum é “extremamente importante” porque os povos indígenas também são povos de periferia e também estão nesse contexto urbano. “É importante para que sejamos visibilizados nesses espaços e não há contexto político melhor para apresentarmos as nossas demandas”, assegura.
Ela recorda que Porto Alegre e região abrigam diversos territórios indígenas e que as pessoas que vivem nesses espaços ao redor das grandes metrópoles sofrem por não serem reconhecidas como indígenas. Ressaltou ainda a conquista do Ministério dos Povos Originários e a retomada da Funai.
A educadora social e coreógrafa Amally Mossi, professora de dança do Centro Social Marista, disse que trabalhar com as crianças da comunidade é uma gratidão. “Eu vim da periferia, do trabalho social. Poder compartilhar o que aprendi na minha vida, da formação que tive, é fenomenal. Projetos tão importantes para mudar vidas. A dança cura, a dança salva”, comenta.
Sobre a participação do Fórum, disse estar amando “ver tanta gente que acredita na mudança, ver tanta gente que vê a necessidade de dar visibilidade para a periferia, que é o povo que precisa e que sabe onde quer chegar”.
Padre Rudimar Dal'Asta, que atua na Pastoral das Ilhas, destaca que o dia é de de comemorar os trabalhadores e trabalhadoras e de defender direitos. Ele também entende o Fórum como um marco importante.
"Estamos conquistando as nossas periferias e o povo está aqui hoje para lutar pelos seus direitos e conquistar aquilo que a gente vem lutando, como salário mínimo justo. Agora está mudando a realidade. Ficamos quatro anos calados e caladas com uma pressão muito grande", afirma, ressaltando que uma nova esperança está a surgir.
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Edição: Katia Marko