Foi em um dia 21 de abril como este que o presidente João Goulart escapou de ser vítima de um atentado urdido por militares.
Aconteceu em 1964. Só não se confirmou porque, três semanas antes, outros militares desfecharam um golpe contra seu governo que o apeou do poder, levando-o ao exílio do qual só retornou após a morte.
Por ironia da História, Jango seria martirizado na mesma data da execução de outro mártir, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, e no estado natal do inconfidente, Minas Gerais.
Após um golpe de estado – 17 de abril de 2016 – e de uma tentativa de golpe – 8 de janeiro de 2023 – que contaram com a simpatia implícita ou a participação entusiástica de militares, vale relembrar um episódio ainda pouco conhecido dos idos de 1964, um ano em que vivemos em perigo.
Cinco meses depois de John Kennedy ser assassinado em Dallas, outra bala viajaria para matar o presidente brasileiro. O plano para o assassinato estava traçado. Jango seria sacrificado em Belo Horizonte, exatos 172 anos após a execução do nome mais notório da Inconfidência Mineira.
Jango morreria na praça da Estação, centro da capital mineira, durante comício de divulgação das chamadas reformas de base, entre elas a reforma agrária, propostas pelo trabalhismo no poder.
O atentado da ultradireita militar só não vingou porque o golpe de 31 de março chegou antes. Da maneira como o complô seria executado – ataque à tribuna com metralhadoras – o presidente não seria a única vítima. Haveria um banho de sangue.
Embora tenha vindo à luz no final dos anos 1970, a trama recebeu pouco atenção dos historiadores, uma vez que o atentado acabou frustrado pelos eventos. Nestes tempos de violência excretada pelo bolsonarismo é didático resgatá-la.
Um de seus cabeças, o general reformado José Lopes Bragança, anticomunista de quatro costados, contou em 1977, ao jornalista Geraldo Elísio, de O Estado de Minas, como os matadores operariam.
Havia três alternativas para matar Jango. Na primeira delas, seria usado um avião teco-teco que, em voo rasante, “despejaria cargas de dinamite sobre o palanque onde estivessem João Goulart e seus assessores”.
A segunda opção envolvia uma ação preliminar para despistar o ataque. Segundo Bragança, o plano “era soltar ‘bombinhas’ destas usadas em festas juninas para distrair o povo. Nessa hora, um grupo de dois ou três homens armados de metralhadoras, contando com a colaboração de outro grupo que abriria um corredor, se aproximaria correndo do palanque e metralharia os seus ocupantes”.
Na alternativa C, desfechada em caso de insucesso, “atiradores de escol, munidos de armas dotadas de lunetas, deitados sobre caminhões ou ônibus, alvejariam Jango e os principais líderes esquerdistas”.
Quem comandaria o pelotão de atiradores seria o coronel José Oswaldo Campos do Amaral, da Polícia Militar, de apelido Cascavel, campeão de tiro.
Através de carta ao jornal mineiro, o coronel Amaral confirmou o esquema montado para eliminar o presidente e as pessoas que o acompanhavam. O que seria feito, nas palavras do coronel, “para o bem e a salvação do Brasil”.
No texto, o coronel explicava que, após muitas discussões entre os conspiradores, havia sido escolhido o ataque frontal com o uso de metralhadoras como a opção mais adequada. E acrescentou que “ninguém escaparia vivo do palanque”.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko