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A visita de Lula à China enterra a política externa bolsonariana

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"Ao som de ‘Um novo tempo’, 'Garota de Ipanema' e 'Se esta rua fosse minha' Lula ganha uma batalha decisiva nesta guerra civilizatória contra o reacionarismo" - Foto: Ricardo Stuckert
As relações privilegiadas com a China repercutem também no continente latino-americano e caribenho

A agenda do presidente Lula na República Popular da China é o ápice de uma movimentação política internacional iniciada antes mesmo da posse com sua participação na COP 27, ainda em novembro de 2022 no Egito. Desde então e já como presidente, Lula esteve nos Estados Unidos e na Argentina e prevê para o dia 25 de abril uma visita à Portugal.

A restauração da caracterização da China como parceiro internacional estratégico é uma vitória importantíssima de Lula. No plano da política internacional, Lula conquistou uma quase unanimidade em torno do reestabelecimento das relações comerciais com a China. O pragmatismo da burguesia primária, neste caso, pesa mais que suas convicções ideológicas.

As perspectivas levantadas em torno de um novo momento da aliança conhecida com BRICS, com a revitalização de seu banco de desenvolvimento, e da desobstrução do comércio bilateral, inclusive estabelecendo novos padrões de conversão de moeda, são altamente positivas para a economia brasileira. Também os acordos em relação ao monitoramento ambiental, colaboração tecnológica, comunicações e desenvolvimento industrial demonstram que as pretensões de ambos os governos é superar a simples troca comercial de comodities e partir para uma relação de maior fôlego.

Vista em conjunto com as demais agendas internacionais, a agenda de Lula na China significa a primeira grande vitória estratégica sobre o bolsonarismo. A opção da diplomacia bolsonariana de alinhar suas relações internacionais ao padrão trumpista resultou na transformação da China como alvo de agressões que resultaram em esfriamento das relações. A derrota de Trump nas eleições presidenciais estadunidense quebrou essa política internacional de alinhamento subordinado, deixando o governo Bolsonaro totalmente isolado nas relações entre estados. A economia brasileira sentiu as consequências.

As relações privilegiadas com a China repercutem também no continente latino-americano e caribenho. Em especial sobre a América do Sul. O restabelecimento de relações privilegiadas da maior economia do Continente com a China tem reflexos diretos na economia dos países vizinhos. Tende a ampliar as condições favoráveis à formação de uma área sul-americana de colaboração econômica mais ampla e sólida. Inclusive com a restauração da Unasul como arena de negociações e convergências entre os estados.

Neste sentido que, entre todas as frentes de batalha entre o campo progressista e o campo bolsonarista, esta é a primeira grande vitória consolidada do primeiro sobre o segundo. Se em outros campos, como o da política tributária ou monetária, a batalha ainda está indefinida, neste campo da política internacional Lula não somente alterou seu sentido como obteve apoio majoritário na opinião pública e nas relações sociais.

Ao som de "Um novo tempo", "Garota de Ipanema" e "Se esta rua fosse minha" Lula ganha uma batalha decisiva nesta guerra civilizatória contra o reacionarismo.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko