Para um assunto desta magnitude as respostas rápidas, sem debate, são as mais perigosas. É claro que precisamos repensar a segurança das instituições de ensino. Em Porto Alegre a Guarda Municipal foi retirada das escolas para ser militarizada e essa é uma pauta da comunidade escolar, o retorno de uma guarda municipal comunitária. Além disso, é necessário um repasse específico para a segurança das escolas conveniadas. Mas só isso não mexe na causa do problema.
Precisamos debater sobre as diversas razões por trás do aumento de atentados nas escolas. O que leva adolescentes e jovens adultos a praticar tamanha atrocidade contra outras crianças e adolescentes, contra estudantes e educadoras? Porquê geralmente ocorrem em ambiente escolar? De outubro de 2002 a março de 2023 foram 22 ataques em escolas segundo pesquisa, metade foram registrados no período de 2022/2023.
Seria apenas coincidência o aumento dos atentados ocorrer justamente no mesmo momento em que também se agrava a crise econômica? Nada teria a ver com o aumento da pobreza, do desemprego, da fome? Ou com as consequências de uma sociedade neoliberal, individualista, onde a falta de sentido e perspectiva de futuro é a realidade pra maioria dos jovens? O que esperar de uma geração “nem-nem”, que nem estuda e nem trabalha, ou trabalha desde cedo em empregos precários, adoecedores, geradores de sofrimento físico e mental? As contradições de uma vida real versus uma vida virtual propagada na internet sem regulação nem crítica também não contribui para a falta de sentido? O que dizer do aumento do discurso de ódio e violência propagado por políticos e projetos de sociedade autoritários?
Temos a oportunidade de ouvir famílias, comunidade escolar, especialistas, não só na área da segurança, mas das áreas pedagógicas e da saúde mental. Neste sentido é importante ressaltar que em 2019 foi aprovada uma lei federal que prevê psicólogos e assistentes sociais nas escolas públicas. Estamos cobrando o governo Melo para que ele regulamente esta lei em Porto Alegre. Fizemos estudo e enviamos uma proposta para a secretaria de educação desde o ano passado. Em nossa opinião, o acompanhamento permanente desses profissionais vinculados ao ambiente escolar, com olhar e escuta atenta aos problemas e sofrimentos de toda a comunidade permite prevenir e tratar de muitos dos possíveis conflitos e expressões de violência nas escolas.
E é fundamental aumentar o quadro técnico de profissionais da saúde mental no SUS para dar vazão a fila de espera na sociedade. A conversa aberta e uma democracia real na elaboração das diversas políticas de prevenção combinadas a uma segurança humanizada podem ser um dos caminhos para entender e prevenir tragédias.
*Vereadora da Câmara Municipal de Porto Alegre
** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira