É na relação com o outro que também construímos o que somos
Todos temos dias difíceis que terminam em noites agitadas com sonhos muito vívidos. Um dia desses eu, em sonho, procurava por um ônibus pra voltar pra casa e não o encontrava. Você sabe aquele tipo de sonho com objetivos que não conseguimos realizar? Tentar fugir de algo sem conseguir sair do lugar? Aquele desejo de comprar alguma coisa, mas o cartão não passa? Então, eu não encontrava o lugar de partida do dito ônibus.
Percorria a cidade toda, de cima a baixo e com a constante sensação de que perderia a hora da partida e ficaria ali, sozinho. Em meio ao caos do desespero, escuto a voz de uma amiga me chamando. Foi na terceira vez que me dei conta e localizei ela. Ao seu lado, o ônibus. Me sinto aliviado e assim que embarco, acordo. O sonho foi tão potente que despertei com a sua voz ressoando em meu ouvido.
Curioso que foi a partir de uma amiga que reencontrei o meu caminho. Que sai de uma posição de impotência e recuperei minha capacidade de sustentar meu desejo de voltar. Uma metáfora e tanto, hein?! É incrível a força de uma amizade.
Aquela famosa frase “diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és” também é um excelente disparador para pensarmos o que nos aproxima dos nossos amigos. Quais são os pontos que me identificam com aqueles que compartilho minha vida? O que me fez escolher dividir minha vida justamente com aquela determinada pessoa?
Durante uma entrevista que assisti no programa Quem Pode Pod - recomendada por uma inspiradora amiga - com a brilhante Mônica Martelli, ela fala sobre a relação dela com Paulo Gustavo e a seguinte frase é dita: “uma das coisas mais tristes de quando você perde um melhor amigo é que a metade da sua história vai com ele” e complementa: “a perspectiva do que ele fala de você, não tem nunca mais”. E é exatamente assim.
É na relação com o outro que também construímos o que somos. Amigos são baús de nossas histórias e vivências. Aquela surpresa gostosa de escutar uma história sua que você mesmo já havia esquecido. Uma mensagem de apoio, um conselho que mesmo que não seja seguido dá um norte para a angústia de não saber o que fazer em determinada situação.
As boas amizades fortalecem, transformam, provocam, instigam, questionam. Tornam a vida mais agradável, os problemas mais palatáveis, os monstros domesticáveis. São as conexões que nos trazem o conforto de que não andamos sós. Felizes os que têm com quem compartilhar as dores e amores advindas do viver.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko