Agora em março de 2023 Papa Francisco completa dez anos de feliz e abençoado Papado
Argentino, ardente torcedor de futebol, o então Cardeal Jorge Bergoglio, jesuíta, era amigo do Cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, franciscano, também amante de futebol, que soprou-lhe ao ouvido ao ser eleito Papa: ‘E não se esqueça dos pobres’. Tocado pela lembrança, sugestão e pedido, surpreendentes, para quem conhece as diferenças internas da Igreja Católica, escolhe o nome Francisco. O que era impensável na histórica relação entre jesuítas e franciscanos, diferenças de pensamento e formas de ver o mundo e de constituir uma Ordem religiosa, São Francisco de Assis e Santo Inácio de Loyola juntos na História.
O Papa Francisco cita Vinícius de Moraes e o seu Samba da Bênção: ‘A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida’.
“A esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna. Caminhemos na esperança!” Faz lembrar o educador popular, e cristão, Paulo Freire, sua dialogicidade, amorosidade, sua Pedagogia do Oprimido, da Indignação, da Autonomia e da Esperança.
Escrevi um artigo em 12 de fevereiro de 2013, antes da eleição do Papa Francisco, e o relembro com alegria agora, dez anos depois da sua eleição: ‘QUERO UM PAPA DO SUL’. Revelava um sonho e acabou sendo profético.
“Quero um Papa no Sul para olhar para os pobres e trabalhadoras/es e dizer: Vinde a mim pequeninos, porque de vocês é o Reino dos céus.
Quero um Papa do Sul para olhar os continentes historicamente subjugados, inclusive pela Igreja Católica, tratados apenas como terras a serem conquistadas e catequizadas e não como espaços de liberdade e construção de povos e nações.
Quero um Papa do Sul para olhar indígenas, negras/os, quilombolas, catadoras/es de materiais recicláveis, população em situação de rua e todas/os as/os oprimidas/os como sujeitos de direitos.
Quero um Papa do Sul para olhar com outros olhos, tal como Jesus olhou e abençoou a samaritana, as mulheres, os homossexuais, todas/os aquelas/es jogados/as à margem.
Quero um Papa do Sul para que o cristianismo retorne às raízes das comunidades dos primeiros cristãos, onde a Assembleia dos fiéis tinha um só coração e uma só alma, e ninguém considerava como seu o que possuía e colocava em comum tudo o que tinha.
Quero um Papa do Sul que veja e trate o sexo como vida, prazer e fonte de juventude e alegria.
Quero um Papa do Sul capaz de dialogar com todas as igrejas e religiões, de judeus e muçulmanos, evangélicos e de religiões de matriz africana, budistas, espíritas e também os ateus.
Quero um Papa do Sul compreendendo os novos ventos que sopram na América Latina e no Brasil, que dialogue com os movimentos sociais e governos democrático-populares da região.
Quero um Papa do Sul que seja humano, não um quase deus longe do povo, da vida e do testemunho dos fiéis e da realidade do povo vivida por cristãos e comunidades.
Quero um Papa do Sul para proclamar a política como caridade máxima, ver a política com ternura e assim reencantar a Política.
Estou querendo muito? Um dia, se não agora, irá acontecer. E em algum tempo da História, será uma mulher.”
Eu não quis demais. Aconteceu um mês depois de eu ter escrito o artigo. Foi eleito um Papa do Sul, que completou agora em março de 2023 dez anos de feliz e abençoado Papado. Deus me atendeu, dando ao mundo o Papa Francisco e suas LAUDATO SÌ e FRATELLI TUTTI, no cuidado com a Casa Comum. Um Papa do Sul, que é Movimento e não apenas Instituição. Um Papa do Sul, pela primeira vez na história, para o bem do futuro da humanidade. ´Buenos Aires´ espalharam-se pelo mundo.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko