Os maus exemplos estão se mostrando por demais audaciosos em sua falta de limites
A principal notícia da semana parece ser o anuncio do “novo arcabouço fiscal”, que não entendi e por isso não me atrevo a comentar. Mas salta aos olhos o fato de que o plano está sendo elogiado por economistas de esquerda e de direita e que agradou até ao tal de “mercado”, como sugerem a queda do dólar, a alta da bolsa e as manifestações do presidente do Banco Central. Penso, então, que deve ser coisa muita boa.
Já a outra grande notícia, o retorno do Voldemort, não é tão importante assim. Ali as imagens denunciaram o que as interpretações anunciavam desde sua fuga para os EUA: a erosão do mito se acelera rumo ao fim. Ameaçado de inelegibilidade, desmoralizado e sob risco de prisão, cercado por familiares e ex-aliados que disputam o lugar que acredita lhe pertencer como liderança da extrema direita, o inominável precisaria ser outra pessoa, para lidar com a realidade que o cerca. Neste contexto, até ele sabe que precisa e muito, se cuidar. Aparentemente, na visão de suas bases e companheiros de jornada, à medida que sua aura se desfaz ele tende a ser mais útil morto, do que vivo. E deve contar conosco para evitar isso. Afinal, precisamos dele vivo, na cadeia, como exemplo a ser interpretado pelas legislações futuras.
É verdade que as interpretações são como temperos, elementos que podem atrapalhar escondendo e distorcendo o essencial. Mas elas sempre indicarão que precisamos encarar, interpretar e tentar influenciar os fatos. Daí que vale refletir sobre o valor de ações com potencial de moldar o futuro. E isso nos traz a imagem da educação de crianças e jovens. Como garantir que na construção do caráter dos agentes do futuro atuem estímulos que contribuam positivamente em favor das forças que moldam o planeta?
Aparentemente a educação é a chave. Através dela devem ser desmascarados aqueles agentes de distorções, capazes de transformar promessas de amor e fé, em fúria, deboche, desrespeito e desejos de matar. Por isso, mesmo sem entender o arcabouço do plano apresentado por Haddad e Tebet, vale festejar prioridades ali estabelecidas para a educação e a saúde. Afinal, sabemos que se não existir respeito aos profissionais daquelas áreas, não existirá aprendizado fundamental à manutenção dos laços que sustentam a segurança na sociedade e na intimidade das famílias. Sem isso estará anunciado para os jovens, um destino de solidão e medo, que acabará acolhendo e estimulando os maus exemplos. E eles, os maus exemplos, estão se mostrando por demais audaciosos em sua falta de limites.
Não vou repetir aqui o caso das joias, das 700 mil mortes, das rachadinhas, das casas compradas com dinheiro vivo e outras baixarias do baixo clero. Vou me ater ao que se passa na elite do Senado federal. Vejam, que o ex-juiz, ex-ministro da Justiça e atual senador bolsonarista Sergio Moro pretende decidir onde, quando e por quem seus crimes poderão julgados. Quer esconder da sociedade os depoimentos de Tacla Duran, quer bloquear avaliação do assunto pelo STF e ainda pretende o impedimento do juiz da vara de Curitiba, que trouxe à público acusações de extorsão que envolvem a ele e a seu principal minion, aquele ex-procurador federal que agora é deputado federal bolsonarista. Moro prefere ser avaliado pelo TRF4, onde já foi considerado “um juiz muito preparado, estudioso, íntegro, honesto, cujo trabalho já está tendo um reconhecimento, até mesmo internacional. É um homem que está cumprindo a sua missão”, cujos pareceres seriam “irretocáveis”. Prefere ser julgado em território amigo, onde as avaliações de sua suspeição, posteriormente confirmadas pelo STF, sempre foram negadas.
Aí está um dos exemplos do tanto que precisamos corrigir, em respeito ao futuro deste povo e deste país. Afinal como cantava Clementina de Jesus, até brincadeira tem hora.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko