A 20ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico acontece nesta sexta-feira (17), no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão (RS), região metropolitana da Capital gaúcha. Segundo a organização, o assentamento conduzido pelas famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deve receber cerca de 5 mil pessoas, vindas de diversas regiões do estado e do Brasil.
Atualmente, as cooperativas do movimento são as maiores produtoras de arroz orgânico da América Latina e estimam que essa colheita deve render cerca de 16 mil toneladas do grão. Além de reunir os apoiadores e assentados para debater os desafios para continuar e ampliar a produção, a Festa da Colheita acaba se transformando em um grande momento de celebração das conquistas e de encontro.
Desde os dias anteriores, as famílias do assentamento já se preparavam. Rian, de 28 anos, por exemplo, é de uma dessas famílias do Filhos de Sepé. Em contato com a nossa reportagem, afirmou que as primeiras horas da manhã já trouxeram resultados positivos para a comercialização dos produtos que sua família trouxe.
Segundo ele, o evento é importante não só para os próprios assentados, mas também para outras cooperativas da região, que levam seus produtos que serão vistos por pessoas de todo o estado. "É uma grande vitrine", disse.
Os visitantes também chegaram cedo. Desde as 7h já havia uma grande fila de ônibus e carros na entrada do assentamento. Fernanda Loredo, 46 anos, é uma delas. Integrante do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pelotas, veio junto com o pessoal do assentamento Herdeiros da Resistência, do município de Capão do Leão.
"Estou muito feliz de estar participando deste grande evento. É muito importante para a nossa população, esse arroz chega à mesa do consumidor levando saúde, sendo que ele foi produzido cuidando da natureza", elogiou Fernanda.
Karina Bareta, por sua vez, veio de mais longe, de Vacaria, e também é produtora ecológica. Faz parte de um grupo de produtores agroecológicos da região dos Campos de Cima da Serra. Vindo pela primeira vez na festa, ela recorda que, além do cuidado com a natureza, a produção do arroz gera renda e beneficia muitas famílias.
"Fazia muito tempo que queríamos vir. Vamos ir lá na parte da plantação pra conhecer. Vai ser uma festa que vai ficar marcada pra sempre. Vamos levar para nossos colegas a experiência que a gente passou", disse.
Muitos assentados da reforma agrária participam do evento. Edinaldo Franscisco, 46 anos, assentado na cidade de Herval há 26 anos, disse que é a primeira vez que comparece na festa. Veio acompanhado de um grupo de 25 pessoas, que estão interessados em assistir à colheita. Ednaldo quer ver como está sendo produzido esse arroz de "tamanha qualidade e de tanta produção".
Jean Carlos, 32 anos, veio junto de Herval. Fazia muitos anos que não participava de um evento assim, pois estava morando na cidade, desconectado com o campo. Agora retornou à terra de sua mãe, assentada da reforma agrária. "Pra mim é muito emocionante, tenho boas lembranças. É bom ver o pessoal comemorando a produção desses alimentos saudáveis."
Jenifer Silva de Andrade veio de ainda mais longe. Natural do Rio Grande do Norte, ela reside e estuda no Instituto de Educação Josué de Castro. Filha de assentados em sua terra natal, também é sua estreia na festa.
"Eu creio que a produção agroecológica, não só do arroz, ajuda no combate ao capitalismo e ao agronegócio. O agrotóxico prejudica a saúde do povo", explica.
Márcia de Carvalho, 32 anos, é natural do estado do Pará. Atua no Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) aqui no RS, desde 2019. Também estuda no IEJC, em Viamão. Para ela, presenciar a Festa da Colheita mostra como a luta de classes está acirrada no Brasil. Apesar do sucesso das famílias assentadas em Viamão, são muitas as formas de frear o avanço da produção agroecológica.
"A gente vê aqui a luta do povo. Ontem eu tive a oportunidade de comer o arroz preto e o arroz vermelho. Eu enchi o meu prato e falei pros meus companheiros que aquilo tinha sido produzido pela classe trabalhadora."
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Edição: Katia Marko