Santa Vitória do Palmar, município litorâneo no Extremo Sul do RS, pode dividir sua história entre antes e depois da instalação dos projetos de geração de energia elétrica a partir dos complexos eólicos. Justamente esse fator motivou o Poder Legislativo local a conceder ao engenheiro elétrico João Nunes Ramis o título de Cidadão Santa-Vitoriense, pelas contribuições ao setor em seu período como gestor do segmento nos governos estadual e federal, bem como no período atual como gestor de empreendimentos em desenvolvimento na cidade. A sessão solene foi realizada na noite da última quarta-feira (15), nas dependências da Câmara de Vereadores.
O vereador Éder de Oliveira – responsável pela indicação da honraria, posteriormente aprovada por unanimidade pelos demais vereadores – destacou os relevantes serviços prestados pelo homenageado à comunidade local e regional, que trouxeram e seguem trazendo desenvolvimento ambiental, social e econômico. Fazendo menção ao gentílico extra-oficial como são referidos os santa-vitorienses, afirmou a gratidão pela atuação e a alegria por acolhê-lo como cidadão no município: “Nossa palavra ao senhor João Nunes Ramis é gratidão. Em nome dos mergulhões* é uma honra a partir de agora poder chamá-lo também de mergulhão.”
Passagens da biografia de Ramis foram destacadas pelo protocolo e pelo vereador Oliveira. A atuação como diretor da Secretaria de Minas e Energia onde conduziu os trabalhos de pesquisa e confecção do primeiro Atlas Eólico do RS, o qual indica Santa Vitória do Palmar como o melhor potencial eólico do estado, teve destaque especial. Também foi ressaltada a função de diretor de Políticas Sociais e Universalização do Ministério de Minas e Energia, onde foi responsável pelo desenvolvimento do projeto Luz Para Todos, que levou a mais de 15 milhões de famílias brasileiras o acesso à energia elétrica, sendo mais de 120 mil no RS e cerca de uma centena no município de Santa Vitória do Palmar.
O vereador Edenilson Araújo de Souza (PSB) recordou da mudança que aconteceu em Santa Vitória do Palmar com a instalação dos empreendimentos eólicos, citando dados como o aumento do registro de veículos, a construção de unidades habitacionais e o crescimento quantitativo da renda da população. Já a vereadora Jane Rodrigues Chiquine (PDT) agradeceu o “belo trabalho prestado ao município” a firmou que “quem ganha (com a acolhida de Ramis como cidadão local) somos nós mergulhões”.
"Figura humana extraordinária"
Ainda sobre o histórico profissional de Ramis, que reflete diretamente no desenvolvimento de Santa Vitória do Palmar, foi citada sua passagem como diretor técnico e presidente das eólicas Hermenegildo I, II e III e Chuí IX, oportunizando o desenvolvimento de inúmeros projetos sociais, como a construção da ponte sobre o Arroio Chuí no Corredor dos Vianas, reformas de escolas, estruturação de ginásios de esportes e do Centro de Atendimento ao Turista na Barra do Chuí.
A presidente do Poder Legislativo, vereadora Fabiana Prietsch Braga (PDT), relembrou o período em que esteve a frente da Secretaria de Assistência Social do município e pôde testemunhar a importância dos projetos sociais desenvolvidos a partir dos projetos de geração eólica. Sobre o reconhecimento ao engenheiro Ramis, a vereadora Fabiana citou a forma como ele olhou para Santa Vitória do Palmar e atuou pelo município, em um período em que embora se reconhecesse o potencial do território, as dificuldades logísticas faziam com que a cidade fosse muitas vezes “esquecida” nos grandes projetos de desenvolvimento.
Atualmente João Ramis desenvolve dois novos projetos de geração de energia no interior do município, o Complexo Eólico Aurora Zanetti e o Complexo Eólico Vitoriense, que somados podem ultrapassar a potência de 700 MW. Estes empreendimentos, quando viabilizados por meio da finalização dos estudos e venda da energia, somam investimentos superiores a R$ 3 bilhões, e segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) podem gerar até 10 mil empregos diretos e indiretos nas fases de construção, operação e manutenção.
Entre os convidados, Frei Sérgio Görgen, amigo e companheiro de militância política de Ramis, destacou: “Ele é uma personalidade humana extraordinária e um agente político diferenciado, destes que o Brasil precisa para se transformar”. Relembrando o ex-governador Olívio Dutra e a ex-presidenta Dilma Rousseff, com quem Ramis trabalhou, Görgen apontou a forma como “a história vai se encaminhando, onde regiões afastadas e deprimidas economicamente passaram a ter um desenvolvimento social e econômico diferenciado a partir do incentivo à produção de energias limpas, renováveis”.
"Mais amor, menos divisão"
Visivelmente emocionado, João Nunes Ramis relembrou-se do pai, nascido em Santa Vitória do Palmar, das histórias que contava do local e do orgulho que sempre manifestou em ser um “mergulhão”. Refletiu ainda sobre o papel do Estado como indutor do desenvolvimento, no sentido da política em superar as divergências e convergir forças em benefício do povo mais necessitado, fez uma manifestação forte pedindo mais amor e menos divisão e, por fim, uniu o extremo sul ao norte do Brasil dedicando o título recebido ao povo Yanomami.
"Santa Vitória esteve por muito tempo como que escondida nesses fundos do Rio Grande, marcando o início deste país, sua localização geopolítica foi responsável por muitas dificuldades", lembrou Ramis. “Nós, no ano 2000, na Secretaria de Minas e Energia, começamos a dar foco às energias renováveis e à energia eólica, começamos a fazer o primeiro Atlas Eólico do estado. Em 2005, eu estava na Eletrobras, fizemos uma reunião muito grande aqui no teatro para falar da energia eólica. Era um tempo onde naturalmente as pessoas não acreditavam que seria possível instalar esse complexo que hoje está aqui.”
O alto investimento estrutural necessário gerava o descrédito na população local, que desanimava em acreditar na possibilidade de ver os recursos necessários viabilizados. “Os complexos eólicos precisavam ser antecedidos de uma grande linha de transmissão e duas subestações de energia. Foram investidos aqui R$ 5 bilhões em recursos públicos à época”, detalhou, colocando a importância do papel do Estado como um indutor de desenvolvimento. “Retirar ou reduzir a força do Estado no setor de energia e em outros setores significa manter locais como Santa Vitória se encontrava, sem acesso ao desenvolvimento. Só o Estado é capaz de fazer o que foi feito aqui. A partir dessa indução vieram e virão ainda muitos outros parques eólicos.”
Sobre a gratidão da comunidade pelos relevantes serviços prestados, Ramis sugeriu a forma como todos e todas devem buscar fazer parte da prática política: “Nós precisamos estar sempre ao lado da boa política, aquela que tem o cidadão como centro de todas as nossas ações. Não podemos aceitar a fome, não podemos aceitar o ódio, não podemos aceitar as divisões que transformam a nação em algo partido e incivilizado. Nós precisamos conjugar mais o verbo amar e menos o verbo dividir. Nós precisamos ser soldados de um novo tempo, um tempo que não divida, que não odeie, mas um tempo onde as pessoas se congreguem, se ajudem e se amem.”
Agradecendo ao título de cidadão e expressando o orgulho de utilizar o gentílico “mergulhão” assim como fazia seu falecido pai, João Ramis afirmou que em breve Santa Vitória do Palmar poderá instalar uma placa no acesso do município afirmando que ali é a capital mundial da energia eólica, uma vez que, nenhuma outra cidade no mundo terá a capacidade instalada de energia eólica que Santa Vitória tem.
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* Mergulhão é o gentílico extraoficial do povo vitoriense, herdado dos tempos dos Campos Neutrais, quando era comparado a um pássaro típico da região, o Biguá, ou Mergulhão, que tem por característica "mergulhar" nos banhados e charcos com ou sem filhotes, como forma de escapar de potenciais predadores. Fonte: SECTUR SVP.
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Edição: Katia Marko