Rio Grande do Sul

Educação Básica

Estudantes levam campanha pela revogação do Ensino Médio às ruas de Porto Alegre

Ato em frente ao Colégio Júlio de Castilhos teve forte presença de organizações estudantis, sindicatos e parlamentares

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Manifestação pela revogação do Novo Ensino Médio realizada em Porto Alegre acompanhou mobilização nacional - Foto: Pedro Neves

A revogação da Reforma do Ensino Médio é a principal reivindicação de um movimento nacional de entidades estudantis e sindicais da área da educação que se movimentaram em diversas cidades do país nesta quarta-feira (15). Em Porto Alegre, a data foi marcada por um ato político durante a manhã, em frente ao Colégio Júlio de Castilhos (Julinho).

A movimentação começou em torno das 9h e contou a presença de aproximadamente uma centena de jovens estudantes organizados em movimentos estudantis e grêmios dos colégios, além de professores, entidades sindicais e parlamentares.


Em Porto Alegre, a data foi marcada por um ato político durante a manhã, em frente ao Julinho / Foto: Pedro Neves

A mobilização nacional, realizada em pelo menos 51 cidades pelo Brasil, pede a revogação do chamado Novo Ensino Médio (NEM). Convertido em lei durante o governo Temer (Lei Federal 13.415/2017), o NEM que vem sendo implantado gradualmente pelos estados desde 2022, sem ter passado por debate com a sociedade.

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Os atos foram convocados por entidades como a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), entre outras.

Qualidade antes da reforma

Os estudantes presentes que fizeram falas reclamaram da falta de recursos e investimentos na educação. Na sua visão, o Novo Ensino Médio criou uma realidade paralela: enquanto nas escolas particulares os estudantes têm acesso a uma diversidade de matéria e "Percursos Formativos", no ensino público o acúmulo de novas matérias foi inserido em uma realidade de excesso de trabalho para os professores, falta de infraestrutura e alimentação nas escolas, entre outras situações.


A movimentação começou em torno das 9h e contou a presença de aproximadamente uma centena de jovens estudantes organizados em movimentos estudantis e grêmios / Foto: Pedro Neves

A estudante Gabriele Silva, atual presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Paula Soares, reclama das imposição de diversas novas matérias, ao mesmo tempo em que o colégio está fechando turmas. Ela relata que muitos de seus colegas sequer sabem se vão poder continuar a estudar, muitos têm dificuldade em manter os gastos com transporte enquanto outros precisam trabalhar para ajudar no sustento.

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"O Novo Ensino Médio vai ser implementado somente nas escolas particulares. Como nós vamos entrar no ensino superior? Parece que não querem que a gente entre na universidade", protestou.

Reforma criou dois mundos paralelos

Para Alex Saratt, professor de história e vice-presidente do Cpers, a reforma criou dois mundos educacionais distintos. De um lado, um Ensino Médio repleto de oportunidades no ensino privado, enquanto o ensino público segue sem recursos para implementar sequer as exigências básicas.


Professores Neiva Lazzarotto e Alex Saratt; educadores da rede estadual estiveram presentes apoiando a mobilização; Cpers é uma das entidades que pede a revogação do NEM / Foto: Christofer Dalla Lana

Afirma também que o Cpers, que representa trabalhadores da educação pública estadual, é contrário ao NEM desde o princípio. Alex recorda que a reforma surgiu no contexto de um governo golpista e da destruição de direitos sociais. "O Novo Ensino Médio é a precarização educacional e pedagógica, acompanhada da desqualificação dos professores", critica.

"A educação deve servir para a formação do ser humano: para o exercício da cidadania, com seus direitos e deveres, e para orientar esse mesmo sujeito ao mundo do trabalho, mas de forma crítica, não como mão de obra barata e manipulada", completa.

Reforma pensada pelo Banco Mundial

Para a professora Neiva Lazzarotto, diretora do 39° núcleo do Cpers, uma das principais consequências será, com a precarização do ensino, o afastamento de muitas jovens das universidades.

Neiva ressalta que o núcleo do sindicato elaborou uma cartilha explicativa  sobre os efeitos do NEM na educação. A cartilha pode ser conferida online. Para solicitar a cartilha impressa, basta entrar em contato com o Cpers através do Instagram.

A professora protesta que as diretrizes do Novo Ensino Médio foram debatidas em reuniões do Banco Mundial, mas não foram levadas em consideração demandas estudantis. Tampouco foram chamadas ao debate as organizações de estudantes.

"A reforma do Ensino Médio é do Lehmann, não perguntaram pra os estudantes nem para os professores. Foi discutido em Davos, mas não levou em conta a realidade do Brasil", afirma.


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Edição: Marcelo Ferreira