Estudantes que ocupam a Colônia de Férias da UFRGS participaram de uma reunião de mediação com a Reitoria e uma comissão representativa do Conselho Superior na manhã desta segunda-feira (13).
Os estudantes ocuparam o prédio da antiga Colônia de Férias da Universidade e reivindicam que o local seja destinado à moradia estudantil. A reunião começou por volta das 10h30 e não contou com a presença do reitor Carlos Bulhões. A Reitoria foi representada pelo vice-reitora, Patrícia Pranke, que afirmou não poder atender as demandas.
Segundo informou a estudante de pós-graduação no Campus Litoral Norte Ingrid de Paula, que participou da reunião, a tentativa de estabelecer o diálogo não foi bem sucedida. Informa também que os estudantes estão, a partir desse momento, solicitando que o Ministério Público faça a intermediação com a Reitoria. A reunião com o MP deve acontecer na quarta-feira (15).
Segundo Raul Orcy, estudante do Campus Litoral Norte, a reivindicação dos estudantes se divide em dois pontos principais: primeiro, a questão de garantir a Colônia de Férias como uma residência estudantil. Segundo, os estudantes pedem que sejam retirados os nomes da estudante Juliana Guerra e do professor Felipe José Comunello do processo que pede a reintegração de posse e a responsabilização criminal das supostas lideranças do movimento.
A reintegração de posse deveria ocorrer às 12h dessa segunda-feira. Devido à realização da reunião de mediação, até as 17h a reintegração de posse ainda não havia ocorrido. Com a recusa da Reitoria em estender o prazo, a reintegração de posse pode acontecer à qualquer momento. Fotos da Colônia indicam que o local recebe muitos apoiadores.
Acusação criminal
Conforme informou a estudante Juliana Guerra, a Reitoria alega que quem entrou com o pedido de reintegração de posse foi a Pró-reitoria de Inovação e Relações Institucionais da UFRGS (Proir), órgão da universidade que foi criado pelo atual gestão e que está gerindo o prédio da Colônia de Férias.
Nesse processo, a universidade pede, além de reintegração, a responsabilização criminal da própria Juliana e do professor Felipe José Comunello, apontados no processo como lideranças da ocupação.
Em contato com a nossa reportagem, ambos os acusados (estudante e professor) negam qualquer tipo de liderança ou ingerência sobre os atos da ocupação.
No pedido de reintegração de posse, segundo afirma Juliana, constam inclusive alegações criminais contra eles, de depredação do patrimônio público e inclusive com a alegação de manter pessoas em cárcere privado.
Juliana, por exemplo, é apontada como "presidente do DCE", algo que não se confirma. Ela sequer consta na nominata da chapa que se elegeu ano passado.
Segundo relatam os estudantes ouvidos na manhã desta segunda-feira (13) no ato em frente à Faculdade de Educação (Faced), é unânime a posição de que não há lideranças nesse movimento de ocupação, com as decisões principais sendo deliberadas em assembleia.
Com relação à reivindicação da retirada dos nomes do processo, um dos estudantes que estava na reunião desta segunda-feira (13) afirmou que a vice-reitora disse não ter poder sobre a situação.
Tentamos contato com a assessoria de comunicação da Reitoria e da Proir, questionando o porquê dos dois nomes terem figurado como lideranças da ocupação. Até o fechamento da matéria, não havia resposta ainda. O espaço segue aberto.
Local já era utilizado pelos estudantes
Raul afirma que os primeiros diálogos para transformar o local em moradia estudantil começaram em 2016. Sem nenhum tipo de retorno positivo, os estudantes locais acabaram por tomar a medida mais radical de ocupar o imóvel.
Segundo Ingrid, o local que hoje é reivindicado pelos estudantes já vinha sendo utilizado há algum tempo como moradia temporária. Ela corrobora o relato da dificuldade estrutural dos estudantes da região em conseguir moradia.
Além do valor dos aluguéis, a chegada da temporada de verão faz com que os proprietários requisitem os imóveis para alugar por preços ainda maiores para os veranistas. "Muito se disse que aquele espaço estava abandonado e que, por isso, teria sido entregue à Proir. Mas os estudantes sempre utilizaram aquele espaço", relata.
Ela própria já teve que sair do imóvel que alugava durante a temporada de verão, devido ao fato do mesmo ter sido requisitado pelo proprietário. "Quando aconteceu, eu tive que ficar na Colônia de Férias por alguns meses, aquele espaço sempre foi utilizado."
Apesar do uso informal ser corriqueiro, há cerca de um mês os estudantes passaram a ser barrados de entrar no local, com a justificativa de que seria feito um novo uso do local. Ingrid relata ainda que na Colônia estão guardados muitos móveis, em bom estado de conservação, que estão "simplesmente jogados em depósitos".
Como é possível observar através de fotos, existem televisores, colchões, chuveiros, mesas, cadeiras, geladeiras, entre outros imóveis sem utilização. "Estavam destruindo o lugar, acabando com a estrutura de um alojamento. O lugar é muito mais propício a se tornar uma moradia do que um centro de inovação", afirmou Ingrid.
A estudante reitera que a ocupação se deu de forma pacífica, sem nenhum tipo de depredação. "Não arrombamos nada, não pulamos um muro. A porta estava aberta, acho que isso também demonstra como um patrimônio estava descuidado", concluiu.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato RS no seu Whatsapp ::
Edição: Katia Marko