O Dia Internacional de Luta das Mulheres, neste 8 de Março, foi marcado por intensa mobilização desde cedo em Porto Alegre e culminou com ato unificado do final da tarde, no centro da cidade. Milhares de pessoas, com presença em peso de movimentos sociais, organizações e coletivos feministas, reuniram-se na Esquina Democrática em defesa da vida das mulheres e contra a violência de gênero e partiram em marcha até o largo Zumbi dos Palmares.
No início da manhã, mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) realizaram ato ecumênico em denúncia ao feminicídio de Débora Moraes, coordenadora do movimento assassinada pelo marido em 2022 na Lomba do Pinheiro, Zona Leste da Capital. A manifestação também destacou o perigo de rompimento da barragem da Lomba do Sabão, desativada desde 2013, e o descaso vivido pela população atingida.
Em paralelo, mulheres camponesas ocuparam a superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Após, juntaram-se a outro grupo que se concentrava na Praça da Matriz, em frente às sedes dos Três Poderes do estado. Também ocorreu audiência pública no Parlamento gaúcho sobre o tema das mulheres e reunião com secretárias do governo estadual. Ainda pela manhã, a Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos realizou ação na Estação Mercado do Trensurb, com apoio do SindiMetrô/RS).
Durante a tarde, enquanto aconteciam atividades de formação na praça, um grupo de mulheres de movimentos sociais e parlamentares tentou uma audiência com o governador Eduardo Leite (PSDB), mas não foi recebido.
Dia de mobilizações pela cidade
Além do ato na Lomba do Sabão, as mulheres camponesas fizeram uma ação na superintendência do Incra de Porto Alegre na parte da manhã. Sílvia Reis, do Setor de Gênero do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do RS (MST/RS), explica que foram pautadas a reforma agrária e políticas que deem condições para os assentamentos poderem produzir alimentos saudáveis e para os camponeses permanecerem na terra.
"Temos a expectativa de que assim que tivermos a nomeação do superintendente do Incra no RS, possamos começar a ver resultados sobre a nossa pauta", diz a sem-terra.
Ainda na manhã desta quarta-feira, uma comissão de mulheres camponesas esteve em contato com secretarias do governo estadual. Na Secretaria Estadual de Educação (Seduc), por exemplo, se falou sobre as escolas do campo estaduais. As mulheres também procuraram o órgão responsável sobre os acessos rodoviários nos assentamentos.
Após as mobilizações na zona Leste de Porto Alegre, foi realizada uma audiência pública no Plenarinho da Assembleia Legislativa do RS, que debateu a ausência de políticas públicas para as mulheres e a necessidade de mecanismos de proteção à vida e aos direitos das mulheres.
À tarde foi organizado um momento formativo. Leticia Chimini, do Movimento dos Pequenos Agricultores do RS (MPA/RS), conta que foram 13 grupos de debate, em rodas de conversa, cada uma com seu tema. "São pautas que transversam as mulheres. O tema que o MPA contribuiu, por exemplo, foi sobre o tema da seca, e como essa situação intervém na vida das mulheres", conta.
Segundo ela, esse momento formativo reuniu mulheres camponesas e também urbanas. Estas, em sua maioria, são oriundas das periferias da Região Metropolitana da Capital. "O dia 8 de Março não termina hoje, vamos continuar mobilizadas, nossa luta é todo dia", conclui.
Governador não recebeu mulheres
Desde o dia anterior, parlamentares e movimentos sociais tentavam garantir uma agenda com o governador do estado. Por volta das 17h20, já esperava pela presença de Eduardo Leite nas dependências do Palácio Piratini uma comitiva formada pelas deputadas estaduais Bruna Rodrigues (PCdoB), Laura Sito (PT), Luciana Genro (PSOL), Sofia Cavedon (PT) e Stela Farias (PT), e representantes da União Brasileira de Mulheres (UBM), do Levante Feminista contra o Feminicídio, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Segundo a deputada Sofia, o grupo aguardou por mais de uma hora, sem que houvesse resposta por parte do governo. O grupo acabou deixando o Palácio, se dirigindo à mobilização na Esquina Democrática. A deputada Bruna Rodrigues conta que havia uma reunião agendada com o líder do governo, que só atendeu a comitiva quando a mesma já começava a se retirar. A deputada considerou que o governo "presenteou os movimentos organizados de mulheres com um chá de banco".
Ao final da tarde, os movimentos informaram que a audiência com o governo do estado teria sido reagendada para o dia seguinte, quinta-feira (9).
Ato unificado no centro de Porto Alegre
Por volta das 17h45, enquanto a comitiva ainda aguardava a reunião com o governador, já havia concentração de manifestantes na Esquina Democrática, no encontro da Avenida Borges de Medeiros com a Rua dos Andradas. Já era noite quando o grupo, formado por milhares de manifestantes, saíram em caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares.
A reportagem do Brasil de Fato RS conversou com mulheres durante o ato. Uma delas é Dinara Fraga, 70 anos, servidora pública da saúde aposentada. Para ela, o 8 de Março reflete toda a história das mulheres na construção de uma sociedade livre e igualitária. Ela destaca que muitas lutas precederam o presente e que ainda existem muitas outras para serem travadas.
Fran Rodrigues, por sua vez, é estudante de Direito e acredita que o dia de luta das mulheres é uma data que busca "honrar aquelas que lutam por direitos antes de nós". Integrante do Coletivo Juntas, ela recorda que em 2023 completa cinco anos do assassinato de Marielle Franco, sem que haja uma resposta da justiça. Na sua opinião, esse fato reflete uma ausência de políticas públicas de combate à violência contra a mulher.
Professora e ativista pela revogação da Lei de Alienação Parental, Sibele Lemos recorda que os números de vítimas de feminicídios têm aumentado desde a aprovação da referida lei. "Os agressores têm acesso permanente às suas vítimas. As mulheres mães precisam fazer parte da pauta do 8 de Março. Violência não é vínculo e agressor não é pai", afirma.
Geneci Flores, do Quilombo dos Flores, disse estar na Esquina Democrática, como todas as mulheres, pela igualdade. "Diga não à violência contra a mulher, contra a violência doméstica, contra o assédio. Que os direitos das mulheres sejam iguais ao dos homens, com salários decentes", defende. Ela celebra que seja possível, no atual momento, ir para as ruas lutas por direitos, seja dos quilombos ou de demais mulheres de luta.
Aléxia Prestes, assistente social e militante do Levante Popular da Juventude, acredita que a pauta de reivindicações nesse dia de luta é bastante ampla, o que fica representado pela agenda de lutas que as mulheres realizaram durante o dia, pautando a violência e os feminicídios, por exemplo.
Durante a tarde, ela relata ter participado de uma das rodas de conversa do momento formativo, debatendo a relação do feminismo com a juventude. "Falamos sobre como muitas vezes esses dois aspectos, ser jovem e mulher, são transversalizados muitas vezes pela violência", relata.
Confira mais fotos do ato unificado
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Edição: Katia Marko