Rio Grande do Sul

FESTA POPULAR

Estado Maior da Restinga vence o Carnaval de Porto Alegre com enredo sobre a negra Anastácia

Escola de samba levou para a avenida a história da negra escravizada que é símbolo da luta contra o preconceito racial

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Escola de samba do bairro Restinga apresentou o enredo "Bendita és tu, Anastácia negra dos olhos azuis" - Foto: Pedro Piegas/PMPA

A Estado Maior da Restinga venceu o Carnaval 2023 de Porto Alegre levando pra avenida a história da negra escravizada Anastácia. A apuração do desfile das escolas de samba da capital gaúcha ocorreu na tarde desta segunda-feira (6), no Complexo Cultural do Porto Seco.

Em segundo lugar ficou a Unidos da Vila Isabel, com o samba-enredo “O que vale ouro”, e em terceiro a Imperatriz Dona Leopoldina, com o enredo “Sozinhos somos fortes, juntos somos imbatíveis! A cooperação nos fará campeões!”. A Império do Sol ficou em último lugar entre as dez escolas da Série Ouro e desce para o grupo Prata em 2024.

Os desfiles ocorreram nas noites de sexta (3) e sábado (4), marcando a retomada completa do Carnaval de Porto Alegre após o fim das restrições da pandemia de covid-19. Na edição deste ano, diversas escolas de samba trouxeram cultura, resistência e temas sociais para a avenida .

Contra o preconceito racial


Estado Maior da Restinga desfilou no domingo, às 4h30 da manhã / Foto: Pedro Piegas/PMPA

A Estado Maior da Restinga foi a penúltima escola a entrar na avenida, às 4h30 da manhã de domingo. Fundada em 20 de março de 1977 e com 11 títulos, é a representante de um dos bairros mais populosos da Capital no desfile da Série Ouro do Carnaval.

O Tinguerreiros, como são chamados os integrantes da escola, levaram o campeonato deste ano com o enredo “Bendita és Tu, Anastácia, Negra dos Olhos Azuis”. Anastácia foi uma negra escravizada nascida no Brasil que se tornou símbolo da luta contra o preconceito racial.

Para cantar e exaltar a negritude, através da vida deste símbolo de força e resistência, e contra toda forma de preconceito e discriminação, o desfile foi dividido em quatro setores: África Bantu: O Brilhão Dourado e as Visões do Ifá, Vidas Cativas, Olhos Livres, Negra, Escrava, Deusa: O Poder do Axé e Bendita és Tu, Anastácia! Bendita Seja Toda Mulher Negra!.

Integraram o desfile concebido pelo carnavalesco Luciano Maia 21 alas e quatro alegorias. A primeira Ora Yeyeô - Histórias, Africanidade, Destino trouxe a representação da África Bantu, região de onde os antepassados de Anastácia viviam antes da escravização. A segunda alegoria, de cores fortes e contrastantes, trouxe o cenário da escravização ocorrida no Brasil durante o período colonial.

O terceiro carro - A Mandinga para Benzer e Curar-  falou da elevada energia espiritual de Anastácia e sua forte ligação com os orixás da cura e seus dons. A quarta alegoria representou um santuário no qual Anastácia é aclamada deusa soberana pela comunidade da Restinga e abençoada sob as bênçãos dos orixás.

Copacabana leva a Série Prata


Sociedade Beneficente Copacabana desfilou na primeira noite do Carnaval 2023 da capital gaúcha / Foto: Pedro Piegas / PMPA

Na Série Prata, a Copacabana ficou em primeiro lugar e sobe para a Série Ouro em 2024. A escola da Vila Bom Jesus defendeu o enredo "Os ideais de liberdade dos Agudás". O termo diz respeito a comunidades de escravos libertos no Brasil (afro-brasileiros) e que retornaram ao Benim, país da África. Numerosos, esses “brasileiros” estabeleceram-se na região da antiga Costa dos Escravos, que abrangia todo o Golfo de Benim até Acra, em Gana, entre os séculos XVIII e XIX.

As escolas Acadêmicos da Orgia e Mocidade Independente da Lomba do Pinheiro tiveram as notas mais baixas e deixam a Série Prata. Em 2024, desfilam apenas como convidadas.


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Edição: Marcelo Ferreira