O Coletivo Preserva Redenção (CPR), manifestantes e parlamentares realizaram, neste domingo (12) uma manifestação em defesa da proteção da fauna silvestre na Redenção. O ato foi motivado após o colegiado denunciar a tentativa de captura de animais silvestres no Parque, pelo estabelecimento Refugio do Lago, na semana passada. O protesto também teve como objetivo chamar atenção para a privatização de um dos maiores parques da capital gaúcha.
O Parque da Redenção tem hoje 37,51 hectares. É uma das mais famosas áreas verdes em meio à região central de Porto Alegre. O terreno foi doado à cidade em 1807 e transformado em Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre em 1997. É o lar de animais silvestres, dentre eles o gambá, personagem central da denúncia do Coletivo, quando foi observado o uso gaiolas para captura dos animais.
Funcionando desde o ano passado, o Refúgio do Lago está localizado onde antes funcionava o funcionava o orquidário do parque. O espaço havia sido inaugurado em 1953 e foi parcialmente destruído em 2016, após forte temporal em Porto Alegre, quando foi abandonado pela prefeitura. Em 2022, a prefeitura concedeu o espaço para a iniciativa privada, através de uma parceria público-privada (PPP), para a instalação da praça de alimentação.
Integrante e um dos administradores do CPR, o professor Jarbas de Araújo explica que o ato deste domingo mantém relação com o ocorrido na última quinta-feira (9). Na ocasião, um grupo de aproximadamente 20 pessoas do coletivo compareceu ao Refúgio do Lago, "para constatar a denúncia de que, no local, haviam sido instaladas armadilhas para gambás que posteriormente seriam removidas para o sítio de um de seus proprietários", relatou.
O professor frisou que os gambás são fundamentais na preservação do bioma do parque. Comem insetos, atuando no controle de pragas, dentro as quais o escorpião amarelo, e também na dispersão de sementes tão importantes para a generalização da floresta.
"Além disso, os gambás são patrimônio ambiental do parque e, como tal, não podem ser removidos sem autorização (artigo 29, capítulo V, dos crimes contra o meio-ambiente, da Lei 9605/98), incidindo sobre quem o infringir pena de detenção de 6 meses a 1 ano e multa. A ação do 'Preserva' repercutiu na sociedade e, ao ficar sabendo disso, a SMAMUS decidiu por notificar a empresa. Nossa ação, presença e mobilização convenceram a gerência do estabelecimento a suspender a operação. Entendemos que atuamos como delegados, cidadãos representantes da causa ambiental da cidade de Porto Alegre fazendo as vezes do órgão público responsável pela pasta, provocando eventualmente sua manifestação", afirma.
Conforme explicou Araujo, depois da mobilização das armadilhas e a retirada das mesmas, o movimento ”resolveu voltar ao parque para alertar dos riscos que as concessões representam aos bens públicos de uso comum, também protegidos por lei". Sobretudo, acentua, contra o projeto da Prefeitura de Porto Alegre de concessão do Parque da Redenção à iniciativa privada por 30 anos "e sobre tudo o que está em jogo".
É preciso proteger a fauna e flora do parque
Maratonista, ativista e integrante do CPR, Eduardo André Viamonte, mais conhecido como o Cara de Sunga, afirmou que o objetivo da manifestação foi chamar a atenção para a proteção da fauna do parque, especialmente os gambás. Sobretudo chamar atenção sobre a responsabilidade da prefeitura e a falta de fiscalização na parceria público-privada. “Estamos aqui fortalecendo a defesa da fauna, chamando atenção para proibição de captura de animais que é um crime ambiental inafiançável. Assim como também para a questão da concessão da Redenção. Se esse pequeno empreendimento já foi feito sem o relatório de impacto ambiental, o que dirá da concessão de todo o parque como está sendo hoje almejada pela prefeitura sem esse impacto ambiental", questiona.
Gerente responsável pelo Refúgio do Lago, André Bolina enfatizou que o estabelecimento nunca quis fazer mal a nenhum animal e que só estavam tentando resolver um conflito entre os animais, no caso os gambás, e os clientes do estabelecimento e seus animais de estimação. “Para amenizar qualquer tipo de risco tanto para o animal do tutor quanto para os próprios gambás a gente procurou tirar esses animais que estavam aqui dentro do espaço comercial. A gente não queria tirar de dentro do parque nem extinguir, prejudicá-los”, explicou.
Ele disse que de imediato acataram com a solicitação do Coletivo de retirar as gaiolas. “Enfatizo que a não capturamos nenhum animal, estávamos com a ação pronta, mas depois do diálogo com o coletivo, entenderam que era mais importante a preservação da fauna e da flora, que os gambás têm um papel importante no espaço do parque.” Ele também informou que o estabelecimento tomaria outras providência para tentar controlar o problema.
Sob a mira da privatização
Presente ao ato, o deputado estadual Leonel Radde (PT) afirmou que preocupa muito o processo de avanço da privatização do espaço público da Redenção. Para ele o evento envolvendo os gambás é só mais um dos fatos que estão acontecendo no local.
“Nos coloca uma pergunta, para onde seriam levados esses animais, já que não o tinha contato com a Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade de Porto Alegre (Smamus), Ibama, enfim, com qualquer órgão responsável pelo meio ambiente. Esse é só mais um exemplo do risco que a Redenção vem correndo dessas iniciativas de privatização, a iniciativa privada se apropriando cada vez mais de um espaço que é de toda população”, frisou. Destacou ainda que quando o espaço era um orquidário, era símbolo da preservação do meio ambiente.
Para o vereador Giovan Culau (PCdoB), do primeiro mandato coletivo de Porto Alegre, o que se tem vivido nos últimos dias é a consequência da lógica de concessão privatista dos espaços públicos da cidade. “Inclusive escracham uma contradição gigantesca, um estabelecimento comercial que se chama refúgio na verdade combatendo a vida animal da vida silvestre. Essa é a expressão de que o lucro tem submetido o interesse da vida humana, animal, da nossa cidade."
Na avaliação da também vereadora Karen Santos (PSOL), é uma consequência da política do governo Melo de conceder a exploração de parques e praças de Porto Alegre com a desculpa de que não há dinheiro para a manutenção dos mesmos. “A Redenção é patrimônio da nossa cidade, parte da nossa história coletiva e individual e com muita vida, desconsiderada pela lógica do lucro. A forma como estão tratando a fauna é reflexo do capitalismo predatório que se impõe sobre a vida, a natureza, a história e a memória da cidade”, escreveu em sua rede social.
De acordo com Araujo, durante o ato que reuniu cerca de 70 pessoas, os manifestantes conversaram com frequentadores do parque, explicando sobre as consequências do projeto e impactos que pode trazer a privatização do espaço. Para ele, a máxima do projeto de que “a Redenção não dá lucro” é totalmente equivocada. "Uma vez que essa não é a vocação de um parque. O que queremos: parques dentro das cidades ou cidades dentro dos parques?", indagou.
Durante o ato, os manifestantes do Coletivo Preserva Redenção instalaram uma tribuna à volta do chafariz, onde as pessoas puderam fazer uso da palavra. Finalizado o parlatório, saíram em caminhada até o Monumento ao Expedicionário, puxando a principal palavra de ordem do movimento: “Não, não, não!!! Não à concessão”
Há um abaixo-assinado virtual contra a privatização do Parque da Redenção.
*Com a colaboração de Jorge Leão
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Edição: Marcelo Ferreira