Um projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa do RS visa reconhecer o líder quilombola Manoel Padeiro como o primeiro herói negro do RS. O PL foi proposto pela deputada estadual Laura Sito (PT) e tem como objetivo instituir o dia 16 de junho como data comemorativa oficial no calendário.
A assessoria da deputada lembra que, até o momento, o Rio Grande do Sul não reconheceu lideranças negras gaúchas como heróis ou heroínas do estado. Informa ainda que a iniciativa busca evidenciar, em parceria com o movimento negro, academia, quilombolas e comunidades escolares que, nomes como o de Manoel Padeiro, Preta Roza, Oliveira Silveira, Lanceiros Negros e outras figuras importantes para a construção da história e identidade dos gaúchos sejam reconhecidas por meio do diálogo com a Secretaria Estadual de Educação.
Quem foi Manoel Padeiro
A figura do líder quilombola Manoel Padeiro já é rememorada de diversas formas na Região Sul do estado. Conhecido também pela alcunha de "General" Manoel Padeiro, por muitas vezes é descrito como "Zumbi dos Pampas", pela comparação com o líder do maior quilombo que se tem registro na história do país, o Quilombo dos Palmares.
Conforme registra o pesquisador e professor Joaquim Dias, o quilombo do Manoel Padeiro existiu durante os anos de 1834 e 1835, na região da Serra dos Tapes, que então pertencia ao município de Pelotas. Os quilombolas realizaram uma série de ataques na região, contra chácaras, olarias e até senzalas. Um pouco mais de sua história é contada nesse breve relato do pesquisador, disponível no Youtube:
A figura de Padeiro repercute até hoje na Zona Sul do estado, entre remanescentes de quilombos e comunidades negras. A iniciativa do projeto de lei visa expandir essa narrativa para todo o estado.
Conforme registra o livro “Os Calhambolas do General Manoel Padeiro: práticas quilombolas na Serra dos Tapes (RS, Pelotas, 1835)”, de autoria de Paulo Roberto Staudt Moreira, Natália Garcia Pinto e Caiuá Cardoso Al-Alam, Padeiro é reconhecido como um líder justiceiro, referência religiosa, e até mesmo um rebelde, cristalizado cada vez mais "na memória coletiva da cidade e região como um herói, exemplo de resistência de africanos e afrodescendentes".
O livro teve uma segunda edição ampliada em 2020, e pode ser comprado ou baixado gratuitamente aqui neste link.
Ainda conforme o Blog Pelotas Cultural, outras obras e estudos podem ajudar a conhecer melhor a historia do quilombo de Manuel Padeiro. Uma delas é o trabalho "O Negro no Sul do país", de Mário Maestri, publicado na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, disponível aqui (página 230).
Além deste, a dissertação de mestrado "Entre esquecimentos e silêncios: Manuel Padeiro e a memória da escravidão no distrito de Quilombo, Pelotas, RS", produzida por Cristiane Bartz de Ávila, investiga as memórias da experiência da escravidão e da experiência Quilombola na Zona Sul do estado. Em especial, da visibilidade aos moradores da comunidade Alto do Caixão e do Algodão, bem como do Distrito de Quilombo, cujas origens remontam ao século XIX, tendo na figura do Quilombo de Manuel Padeiro e sua resistência uma referência.
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Edição: Marcelo Ferreira