Rio Grande do Sul

FSM 2023

Artigo | A economia solidária nos mostra que outro modo de viver é possível

Fórum Social Mundial recebe Feira da Economia Solidária e outras atividades sobre práticas participativas e democráticas

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A economia solidária comunga com os valores do bem viver
A economia solidária comunga com os valores do bem viver - Pedro Stropasolas / Brasil de Fato

O Fórum Social Mundial Porto Alegre 2023 acontece em momento de muita esperança para a população brasileira originada na vitória da democracia em outubro de 2022. Desde 2016, a partir do golpe, o FSM realizou encontros em Porto Alegre que foram denominados de Fórum Social das Resistências. Foi um período em que ocorreu o aprofundamento das desigualdades de forma abrupta, enorme concentração de renda, desmonte de políticas sociais e públicas, muitas ainda em construção, mas que atenuavam e se encaminhavam para a afirmação de direitos humanos, sociais e econômicos.

A reação veio de inúmeras formas. Uma frente de engajamento se formou em vários setores da sociedade. A academia, em parceria com movimentos sociais, produziu uma série de diagnósticos, dossiês, levantamentos dos desmontes e suas consequências sobre a população. Ao mesmo tempo, os movimentos sociais e populares denunciavam e colocavam em prática todo o patrimônio de conhecimento produzido ao longo de anos de lutas, para minimizar os efeitos da quebradeira das políticas promovida ao longo do pós-golpe e aprofundada no último governo.

Não temos dúvidas de que a realização dos encontros ocorridos no Fórum Social das Resistências contribuiu para o fortalecimento da democracia, o entendimento sobre as várias dimensões dos desmontes promovidos no período, os processos que provocam desigualdades e a construção de novas estratégias de ação na defesa do povo mais pobre. É nesse contexto que a economia solidária se afirmou mais ainda como a alternativa emancipatória para a sociedade. Foram anos intensos, duros, passando por uma pandemia, onde coletivos e movimentos assumiram o papel de cuidar e salvar uns aos outros e com as alternativas construídas por eles próprios.

Quando os supermercados e demais estabelecimentos comerciais fecharam suas portas durante a pandemia e trabalhadores se viram desempregados, a economia solidária mobilizou toda sua expertise e suas redes direcionando a atenção para aqueles que mais necessitavam. Desde alternativas de produção, comercialização, mobilização de recursos através dos bancos comunitários para a realização da vida nos seus territórios até mobilização de redes de solidariedade emergenciais de combate à fome. Sempre firmemente ancoradas em seus princípios. Toda doação de alimentos foi pensada na sua origem, onde foi produzido, quem produziu e a qualidade dos itens doados, sempre acompanhada de reflexão entre todas as pessoas envolvidas, sobretudo aqueles que estavam sendo atendidos pelas ações emergenciais.

E quais os segredos da economia solidária? 

A economia solidária reconhece o fato básico de que o ser humano é um ser social, coletivo, que estabelece relações de trocas entre si e com o meio ambiente de forma a elevar sua consciência sobre os laços que os unem. Portanto, atende aos princípios básicos da economia e de forma coletiva, solidária. 

A economia solidária preza pelas práticas democráticas, participativas, associativas, inclusivas e por princípios de cooperação, solidariedade, respeito ao meio ambiente, e autogestão. Através desses princípios e práticas supera a alienação não somente em relação à produção material, mas, também, em relação às condições de organização, gestão e, principalmente, no entendimento de que a relação com a natureza se dá para produzir valor de uso e não acumulação de lucro.

Na prática, a economia solidária nos mostra que outro modo de viver é possível, remunerando o trabalho de casa, sem que esteja isolado do restante do processo; adotando moeda social, aquela que atende às necessidades das pessoas e não para acumulação; entendendo as relações entre cidade e campo; reconhecendo o território como o local de realização da vida em comunidade. A economia solidária comunga com os valores do bem viver, das relações respeitosas entre as pessoas, a natureza e as formas de realizar o trabalho. 

Quais os desafios para avançar?

A relação dialética que permeia as ações e formulações teóricas promove a expansão do conhecimento e irradia sobre os territórios, os lugares onde a vida se concretiza, com todas as suas relações. Mas ainda precisa avançar para que as ações, comunidades e territórios se fortaleçam. Neste sentido, as políticas públicas são fundamentais para articular o conjunto de ações que ocorrem nesses territórios: escolas, cozinhas comunitárias, hortas, grupos de produção artesanal, coletivos culturais, comerciais, de serviços e tantas outras ações que emergem a partir da organização das próprias pessoas e comunidades. 

A economia solidária no Fórum Social Mundial Porto Alegre 2023

Foi no contexto sintetizado acima e dando continuidade às discussões realizadas no Fórum Social das Resistências 2022 que o grupo facilitador da Economia Solidária no propôs as atividades no Fórum Social Mundial Porto Alegre 2023.

São elas:

Feira da Economia Solidária

De 23 a 28 de janeiro
Horário: 8h – 19h
Praça XV de Novembro – Centro de Porto Alegre

Participação em atividades no dia 25 de janeiro

⦁    11h30 – Roda de Conversa e Almoço Solidário - Associação Contraponto e a prática da Economia Solidária. UFRGS Campus Centro - Loja da Contraponto (ao lado da FACED). 

⦁    14h – Mesa – Economia Solidária: tecendo redes, transformando realidades e reconstruindo o Brasil
- Gilberto Carvalho – Secretaria de Economia Solidária Governo Federal
- Joaquim Mello – Rede Nacional de Bancos Comunitários
- Alvir Longhi- Cadeia Solidária das Frutas Nativas
- Itanajara Almeida – Coordenação do FONSANPOTMA e Rede Umbutu de Cooperação Solidária
- Nelsa Fabian Nespolo – UNISOL, Justa Trama. Coordenação da mesa.

⦁    17h – Marcha de abertura do Fórum Social Mundial. Local: Largo Glênio Peres


A economia solidária nos mostra que outro modo de viver é possível / Foto: Divulgação

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira