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Patriotas? De que Pátria?

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"A pátria deles não é o Brasil da redemocratização, das conquistas e dos direitos sociais, da tolerância, da diversidade, do respeito às instituições e das lutas pela redução da desigualdade e comprometida com a solução pacífica das controvérsias" - Foto: José Cruz/Agência Brasil
Que o dia 8 de janeiro de 2023 seja lembrado como o dia da vergonha nacional

República, do latim, res publica, significa coisa pública. O Brasil é uma República e, de acordo com a Constituição Federal, é também um Estado Democrático de Direito, constituído pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e harmônicos entre si. Pois bem, estes são alicerces que estruturam o nosso Estado social e que existem para garantir o equilíbrio e evitar tiranias. Os ataques ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023, no Distrito Federal, foram dirigidos de forma deliberada exatamente aos alicerces que sustentam o Estado, com o claro propósito de criar condições objetivas para o golpe.    

Eles invadiram as sedes dos Três Poderes, tocaram o terror, quebraram portas, vidraças, destruíram móveis, equipamentos, computadores, obras de arte, roubaram armas, documentos, discos de computadores entre outras coisas, e nem a versão original da Constituição (uma delas) escapou da selvageria. Tudo o que há, ou que, naqueles palácios pertence ao povo brasileiro, faz parte do patrimônio da Nação. São registros, documentos e objetos da nossa história, além dos bens de valor incalculável, inclusive os presentes diplomáticos recebidos pelo Brasil ao longo de sua história. 

O objetivo destes terroristas, tantas vezes manifestado nas redes sociais, era fazer ruir as estruturas do Estado constituído. Os palácios atacados são mais do que sedes dos Poderes da União, são símbolos representativos do que somos e do espaço em que vivemos, como uma sociedade organizada, fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social, como deveríamos ser, de acordo com o preâmbulo da nossa Constituição.

Tomados por um ódio incompreensível, bradavam em suas filmagens de autopromoção, a cada atitude de vandalização, o “Brasil é nosso”, querendo dizer que o Brasil agora seria deles, como se estivessem numa guerra invadindo um território de um povo inimigo, destruindo e saqueando suas casas e seus símbolos e assumindo para si a propriedade dominada. A vontade de destruir extrapolava os objetos e os prédios, e se dirigia visivelmente ao significado destas coisas. Muito mais do que prejuízos patrimoniais, era a democracia sendo atacada, numa expectativa delirante de um golpe de Estado que levasse o Brasil de volta aos tempos da ditadura militar.

Autoproclamam-se patriotas, vestem-se de bandeiras verde-amarelas e usam justamente a premissa constitucional da democracia, de que todo o poder emana do povo, para retirar do povo todo o poder. Usam a democracia para pedir ditadura. Que pátria é essa, da qual eles são patriotas? Com certeza não é o Brasil que milhões de brasileiros vêm construindo há tanto tempo. A pátria deles não é o Brasil da redemocratização, das conquistas e dos direitos sociais, da tolerância, da diversidade, do respeito às instituições e das lutas pela redução da desigualdade e comprometida com a solução pacífica das controvérsias.

Esses aí, que se dizem defensores da liberdade, não toleram a diversidade, não aceitam as divergências de opiniões nem as diferenças ideológicas e as tratam com paus, pedras, armas e bombas. Pensavam que, invocando a liberdade e a tutela dos militares, estariam imunes às leis e acima das instituições e do próprio povo. Inúmeras manifestações que circulam em suas redes demonstram claramente sua intenção de matar, exterminar, executar ou fuzilar os seus supostos inimigos.

A ilusão coletiva de que seria possível produzir uma intervenção militar e um retorno à ditadura a partir do caos social, não é ato espontâneo, mas sim fruto de ações articuladas, planejadas, financiadas e coordenadas, de forma profissional, por setores empresariais do Brasil, com participação, ou pelo menos, com a conivência de parcelas das Forças Armadas, que nunca se conformaram com a redemocratização do país e com os avanços sociais.

Não há mais espaço nem tempo para ingenuidades. Sob a lógica de que os fins justificam os meios, as ações organizadas incluíam, além de invasão e destruição do patrimônio público, explosão de bombas, bloqueio de estradas, desabastecimento das cidades, derrubada de torres elétricas, atentados contra civis e outras medidas, com o claro objetivo de produzir terror e caos social.

Essas massas amorfas, insanas, fundamentalistas, que rezam e cantam para tanques e para pneus na frente dos quartéis, que se comunicam com extraterrestres, mas que atendem cegamente aos chamamentos para atos de terror, são a parte visível de uma organização fascista que se armou e se espalhou pelo Brasil, nos últimos quatro anos, ocupando, inclusive setores das instituições armadas do Estado brasileiro. Portanto, não basta a contenção dessas massas ensandecidas, é preciso encontrar e desarticular cada célula desta organização criminosa, antes que a situação se torne inadministrável.   

Os episódios que assistimos no domingo, dia 8 de janeiro de 2023, são uma parte do que eles são capazes de fazer, e devem ficar registrado na história e na memória nacional como sendo o dia em que os traidores da Pátria quiseram invadir, roubar e saquear o Brasil, e destruir a democracia brasileira. Que este dia seja lembrado como o dia da vergonha nacional, para que nunca nos esqueçamos do que aconteceu.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko