Rio Grande do Sul

Coluna

Alegria, alívio, otimismo e esperança

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"Era o país em pé, orgulhoso, subindo a rampa com tudo que nos representa e sendo empurrado pelos gritos de todos acumulados ao fundo: O BRASIL VOLTOU! O BRASIL VOLTOU!" - Foto: Leonardo Melgarejo
As horas em Brasília voaram embaladas por sorrisos, abraços, beijos, cantorias e danças de todo tipo

Voltando da festa da posse, com mais uma semana de notícias, muita coisa a comentar.

Resumindo ao máximo, as palavras seriam alegria, alívio, otimismo, esperança e desafio.

Alegria e alívio pela consciência de vitória do povo brasileiro sobre aquele projeto nojento de fascismo tupiniquim. Grande vitória. Tão acachapante que até o Alexandre Garcia já fala mal daquelas “vítimas do próprio fanatismo”, que ficaram cegas e insistem em negar a realidade.

E otimismo, sim, por conta de uma sequência de fatos inesquecíveis.

E aqui vale até a lembrança de que, na festa da Prainha dos Orixás, em tradicional homenagem a Yemanjá, por ocasião da virada de ano, assim como na festa da posse de Lula, na Esplanada, muito cedo faltou comida, faltou cerveja, faltou água, faltaram sanduíches, acarajé e até pipoca. Ainda assim, mesmo com generalização de fome e sede, as horas voaram embaladas por sorrisos, abraços, beijos, cantorias e danças de todo tipo.


"A afluência de público foi tão grande que superou de longe as expectativas mais otimistas dos que comercializavam aqueles produtos" / Foto: Leonardo Melgarejo

Revelou-se ali que, mesmo com os anúncios de terrorismo, ameaças de bombas, drones, snipers, maldições e mau olhado, a afluência de público foi tão grande que superou de longe as expectativas mais otimistas dos que comercializavam aqueles produtos. Antes das dez da noite, na Prainha, e antes do meio dia, na Esplanada (reparem que na Prainha e na Esplanada as festas duraram, respectivamente, até as 3 e 6 horas da manhã seguinte), todos os vendedores, autorizados ou não, erraram feio na estimativa de seus negócios. Tiveram que improvisar cadeias insatisfatórias e supercomplexas de reabastecimento, enfrentando as evidentes restrições de acesso para atender a um público que não parou de sorrir, dançar e cantar.


"O público mesmo com fome ou sede não parou de sorrir, dançar e cantar" / Foto: Leonardo Melgarejo

Depois, tivemos a subida da rampa, onde, literalmente, o povo brasileiro passou a faixa ao presidente Lula. Não poderiam ser mais significativas aquelas cenas. Era o país em pé, orgulhoso, subindo a rampa com tudo que nos representa e sendo empurrado pelos gritos de todos acumulados ao fundo: O BRASIL VOLTOU! O BRASIL VOLTOU!

E a passagem da faixa, então, das mãos de uma mulher negra catadora e recicladora de terceira geração, para o peito de um retirante nordestino, que esteve em cana sem desesperar e sem culpa, por 580 dias. Preso de forma injusta em armação destinada à facilitação de crimes contra a nação, ele viu irmão e neto morrerem, viu a destruição de bases da nação, viu a pandemia matar centenas de milhares e a fome alcançar dezenas de milhões de lares. 

Se fez forte, no acalento da vigília, das orações, da reafirmação diária de suas convicções. Sabia manter consigo o amor e o respeito de milhões e por isso, venceu. Venceu e reconstruiu a esperança nacional. Articulou o enfrentamento ao fascismo internacional e suas sucursais locais, bem como ao próprio Estado brasileiro, dominado por aqueles grupos. E venceu. Subiu a rampa para, com lágrimas sentidas e palavras fortes, reafirmar seu compromisso de dedicar o tempo que lhe resta em vida para fazer mais e melhor, para todos, com a ajuda de todos.

Esperança, sim. Que se potencializou com o anúncio de nomes para os ministérios e postos chave que serão os braços e mãos deste governo.


Representantes do povo brasileiro subiram a rampa com Lula no dia da posse / Ricardo Stuckert

Sabendo que serão necessárias medidas fortes, articuladas, em todos os setores, Lula escolheu lideranças respeitadas por suas histórias de vida em relação à capacidade de agir, sem tremer, sob pressão e em grupo.

De fato, os desafios passaram a ser até menores na medida que reconhecidos através das declarações daquelas pessoas, após empossadas. Vejamos alguns poucos exemplos.

No mais claro e emocionante discurso de posse ministerial, o ministro Sílvio Almeida se desculpando por “dizer coisas óbvias”, e dirigindo-se a todos brasileiros excluídos, discriminados, marginalizados, esquecidos, afirmou, repetiu e sublinhou, entre outras coisas relevantes, o fundamental à vida em uma sociedade respeitosa aos direitos humanos.

Em uma frase, inesquecível: “vocês existem e são pessoas valiosas para nós”.

Marina Silva, que terá que lidar com o maior problema atual da humanidade, a crise ambiental, sabe o que isso significa num país de economia reduzida à exportação de commodities, até ontem curvado aos interesses de transnacionais ecocidas. Ela traz de sua experiência anterior exemplo de luta desenvolvida com o auxílio do ex ministro Márcio Thomas Bastos, para desativação de 86 pistas de pouso clandestinas, na Amazônia. E ela sabe que hoje se faz urgente, entre outras tarefas gigantes, anular atividades criminosas que se apoiam na existência de pelo menos 1.200 pistas de pouso irregulares, na Amazônia. E não se intimida com isso.

Em seu discurso de posse, enfatizou que o desmonte das capacidades nacionais e a expansão das necessidades globais, bem como das responsabilidades de nosso país, face ao tema das crises ambiental e climática serão enfrentados da única forma eficaz: com trabalho sério. E afirmou que sabe contar com apoio do presidente e todos os brasileiros conscientes da importância das bases naturais a serem protegidas e recuperadas, posto que nelas se apoiam não apenas todas as demais atividades, como também a própria credibilidade de nosso país, entre as nações.


"Marina Silva, que terá que lidar com o maior problema atual da humanidade, a crise ambiental, sabe o que isso significa num país de economia reduzida à exportação de commodities" / Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Alguns passos já foram esboçados neste sentido. Com apoio do ministro das Relações Exteriores, ocorreu a reativação do Fundo Amazônico, e o retorno do Brasil à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Desenha-se injeção de recursos e fortalecimento de ações articuladas para o enfrentamento de problemas comuns aos povos da Amazônia Continental. No dia 24 de janeiro, em Buenos Aires, ocorrerá a VII Cúpula de Chefes de Estados e de Governo da Celac, com a presença de Lula e vários de seus ministros.

Outros destaques, como os discursos e iniciativas propostas por Nísia Trindade, Paulo Teixeira, Flavio Dino e demais ministros serão examinados nas próximas edições desta coluna.

Como recomendação de música, Pedro Munhoz nos alerta contra a passividade e suas tentações, neste momento crucial onde há que se abrir espaços para a transformação.

 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko