A Copa terminou. É hora da nação e cada um de nós, acordar! Antes que seja tarde
Terminou a Copa para o Brasil, mas não para os que gostam de um bom futebol. Neste tema, acabou o sofrimento e resta o prazer. Primeiro porque as semifinais, sem o nheco-nheco dos amarelinhos, foram espetaculares. E depois, porque os jogos de sábado e domingo prometem ir além. Torço pela Argentina e por Marrocos, mas sei que a rigor, afora empates e vergonhas tipo 7 X 1, todos os resultados são possíveis. É aguardar para ver.
Bom, como a única conexão entre aqueles jogos e a coluna de hoje está no fato de que no sucesso dos que trabalham em conjunto se evidenciou mais um fracasso brasileiro, coisa característica desta era em que ficamos reféns do presidente que mente, vamos adiante.
Está terminando o ano e neste momento vale lembrar que, neste período de mistificações, a maior epidemia do século matou (e segue matando) perto de 700 mil brasileiros, sendo tratada como piada, com deboches, negociatas e todo tipo de negacionismo científico. Ao mesmo tempo, especialistas em negar funções de ministérios e agências de governo, eram selecionados a dedo para dirigir operações de descredibilização e desmonte que alcançaram a Polícia Federal, o exército e a Procuradoria Geral da República.
Escândalos de corrupção na saúde, na educação, no meio ambiente, nas compras institucionais e nas relações com a Câmara Federal e o Senado. Tudo isso de forma muito ágil porque o presidente que mente, que segundo consta, desde que assumiu até as eleições trabalhou uma média de 4,8 horas por dia. Derrotado, tratou de chorar nos cantos e passou a emitir sinais de estímulo viezado a seus fiéis, reduzindo a carga de trabalho presidencial para 24 minutos/dia, e depois sumiu.
Atuando a seu estilo, pelo sucesso do Brasil junto ao concerto das nações, ofendeu gravemente o povo e dirigentes da França. Alemanha, Argentina, Japão, Noruega, China, Venezuela, Argentina, Cuba e até mesmo dos Estados Unidos da América do Norte, além de sabe-se lá quem mais se é que isso poderia fazer diferença. Vendeu o que pode, do patrimônio nacional. Dilapidou reservas, achatou salários, subornou a quem conseguiu para obter adulterações na Constituição. Armou milícias e alimentou a instalação do ódio como prática de costumes.
Acelerou a entrada de venenos em nosso país, a níveis jamais sonhados pelos que enriquecem com a dor alheia. Estimulou queimadas e ecocídios em todos os biomas. Está sendo acusado de genocídio em instâncias internacionais e responderá, com a família, por mais de 150 crimes de naturezas diversas, sem contar com o que pode aparecer após a queda dos sigilos centenários sobre temas que ele julgou, por seu bem, ser melhor esconder da nação. Como mau exemplo, aquela pessoa e seus acólitos não têm paralelo. Como pessoas, como gestores e até como canalhas, excederam a todos os padrões e até por isso, já vão tarde.
Como falou Santiago, no Programa Arte, Ciência e Ética num Brasil de Fato, este governo e seus apoiadores também tornaram muito difícil o trabalho de chargistas e humoristas. Isso porque uma das estratégias adotadas pelos profissionais do humor, que reside na extrapolação de detalhes, na utilização do exagero para mostrar a que limites as ações sob crítica, quando não interrompidas, podem nos levar, se esvaziou por completo quando as pessoas passaram a pedir a volta da ditadura em nome da liberdade, cantando hinos em louvor a pneus queimando ou colocando o celular na testa, para pedir intervenção extraterrestre.
De fato, o avanço da imbecilização em escala nacional é apenas outro dos crimes a serem imputados a este governo que nos deixará com sequelas e cicatrizes e que – vale repetir – já vai tarde.
Mas e o que vem pela frente? Bom, com o caminhão de mudanças entrando nos palácios, cabe desconfiar que o baixo nível da família das rachadinhas possa aproveitar a oportunidade para surrupiar todo tipo de lembrancinhas. A prataria, quadros, tapetes, cadeiras e cinzeiros dos palácios devem ser protegidos e não creio que para isso se possa contar com os serviços oficiais, de segurança. Afinal, aparentemente até entre membros da Polícia Federal, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado pelo General Heleno estaria em desvio de função, a favor daquela família e em rumo contrário aos interesses nacionais.
Acusado de ser o articulador dos atos de terrorismo de Estado ocorridos esta semana em Brasília, aquele gabinete se defendeu respondendo que “a fonte é mentirosa, de má-fé e com interesses escusos”. Entretanto, não apresentou argumentos que permitam entender a disponibilidade de “líquido inflamável para atear fogo em vários ônibus em lugares diferentes” (...) “centenas de botijões de gás fechando uma via (...)” (...) “De onde tiraram tanto botijão de gás? Quem botou centenas de botijão de gás e quanto tempo leva isso? Quem fez o transporte dos botijões de gás?”.
Efetivamente, a nação precisa respostas a pelo menos dois fatos: (1) Que relações existem entre os ônibus e carros queimados ocorridos em 2013, quando golpistas infiltrados no movimento por redução no preço das passagens de ônibus acenderam o estopim do golpe de 2016, e estes de agora, quando golpistas querem impedir a posse do Lula? (2) Como entender que até agora ninguém foi identificado e preso nas ações terroristas de Brasília? Como entender a ausência de qualquer ação preventiva por parte da inteligência acumulada no GSI e nas polícias militares, quando abundavam ameaças à diplomação de Lula?
Ademais, quem seria tolo a ponto de acreditar que a prisão daquele indígena, desacreditado entre os seus e entre qualquer pessoa de bom senso, que o escute, tenha levado a uma reação em cadeia de tamanha magnitude, sem auxílio logístico e treinamento militar? Quem acreditaria que os atos de vandalismo articulados (e claramente estimulando outros), envolvendo pessoas fortes o suficiente para tentar jogar ônibus de viaduto, possam ter sido orquestrados por aqueles malucos e suas madamas acampadas há semanas com suas cadeiras de praia, banheiros químicos, lanches regulares e a tolerância que seria negada a qualquer outro grupo que se atrevesse a permanecer por poucas horas que fosse, em área de segurança nacional?
Até onde isso pode ir?
Depende de nós. Os criminosos têm ambições, permanecem no governo e em várias instituições públicas, civis e militares. Têm apoio de parte expressiva da mídia e da sociedade civil. Querem, de fato, impedir avanços civilizatórios, e vão trabalhar para isso com toda brutalidade e estupidez que conseguirem mobilizar.
O país inteiro precisa acordar e ficar atento a isso. Defender a democracia, a Constituição, a legalidade e até mesmo os direitos humanos fundamentais. O governo que assume precisa identificar e punir os agentes do caos e seus financiadores.
A Copa terminou. É hora da nação e cada um de nós, acordar, se preocupar com o que está em jogo e se envolver com o que de fato importa. Antes que seja tarde.
Chico Buarque – acorda amor.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko