É urgente um grande empenho destinado a desanuviar o imaginário coletivo
Eu pretendia falar de futebol. Tenho uma camiseta amarela das Crianças Petistas que pretendo usar na posse. O Lula pediu, o Brasil precisa e nosso time vai melhor com o Neymar fora de campo. Além disso, está lindo de ver a demonstração de força e empenho coletivo das equipes pequenas que avançam mesmo consideradas sem chance.
Mas isso pode ficar para depois.
Atiçado pelas falas da professora Dra. Talita Furtado, que escutei no Seminário da Rede irerê, durante o Abrascão, e que me esclareceram ainda mais nesta quinta-feira (1º), durante o programa do Arte, Ciência, Ética e Ecocídio, me pareceu oportuno escrever sobre o que nos cabe fazer diante da voracidade atual de algumas sombras que se soltaram e avançam entre nós desde o golpe de 2016.
Na fala direta: os golpistas e principalmente seus sucessores, nos acostumaram com ações cotidianas e acintosamente aplicadas ao apagamento de direitos e deveres civilizatórios. Para isso, degeneraram o governo em máquina comprometida com a destruição das capacidades de ação coletiva. Também conseguiram, com apoio de empresários oportunistas, ignorantes, mal-intencionados e dispostos a financiar máquinas de desinformação social, mobilizar aqueles bandos de adultos infantilizados que estão por aí, repetindo mantras idiotizantes, a pedir o fim dos direitos sociais e dos compromissos plurigeracionais fundantes da democracia.
Como resultado, os conceitos de nação, liberdade, igualdade e fraternidade estão distorcidos entre nós, a ponto de já não encontrarem base comum, no imaginário coletivo.
Passaram a ser emoldurados como algo menor, em relação a privilégios e interesses privados. E estes, além de elevados à condição de compromissos do Estado, vêm sendo incorporados ao conjunto dos deveres constitucionais. Concorrem para isso modificações sistemáticas no contrato social, envolvendo desde a emissão de normativas e decretos até a prática abusiva de poderes concentrados no Executivo e no Legislativo, mancomunados a serviço de interesses da rapinagem internacional.
Com isso, estamos retornando de forma acelerada à condição de colônia extrativista dominada pelo medo e tutelada por interesses (entranhados nas máquinas públicas e no espírito das gentes) de senhores da guerra vinculados ao exterior.
E o governo que termina deve ser responsabilizado por isso. Afinal, ali foram costurados os favores determinantes da naturalização dos ecocídios, do genocídio, da presença de bandos com armas de guerra, desalojando povos e comunidades tradicionais de seus territórios, das chuvas de veneno nos campos e de balas perdidas nas favelas, da legalização de rapinagem em áreas indígenas, e da canalhice geral que se expressou nas ações dos líderes da Lava-jato e persiste nas atitudes daqueles deputados e senadores que não se constrangem em pedir mais.
A lógica criminosa é uma só e explica a crise em que se encontram as instituições públicas, responsáveis pelo controle, monitoramento e limitação destas iniquidades.
Assim, com as instituições exangues e desmoralizadas, a eleição de Lula, ao mesmo tempo em que interrompe a destruição da Constituição Cidadã e devolve as possibilidades de futuro que nos foram roubadas, também nos impõe grandes responsabilidades.
O Estado está sem músculos e por isso, precisará do povo nas ruas. O nosso povo, não aqueles fantoches.
Aparentemente só com ampla participação popular consciente das dificuldades enfrentadas, todos, sob orientação de Lula e seu governo de conciliação, poderemos combater e vencer esta praga do fim de mundo.
E para isso se faz urgente um grande empenho destinado a desanuviar o imaginário coletivo, mostrando, para todos, o que é o que e quem é quem na história recente deste país.
Isso não é papel exclusivo do governo Lula. Cabe a cada um de nós o dever de ajudar a difundir a verdade sobre o que passou e como isso atrapalha na reconstrução de um Brasil de Fato, para todos, todas e todes.
Em outras palavras, a volta do Brasil, ao seu lugar de mérito e direito, exige, como primeiro passo, o esclarecimento do povo a respeito de onde estamos e o que nos trouxe até aqui. Esta é a condição mínima, fundamental ao comprometimento de todos com um projeto de nação.
Não basta, mas é indispensável que se faça generalizado o conhecimento de que aquele presidente mentiroso em nada contribuiu para o bem deste país. Que em seu governo a Ciência foi abandonada nas mãos de um vendedor de travesseiros. Que as Relações Internacionais, a Educação, a Saúde, a Cultura e a Comunicação foram destruídas sob o controle de negacionistas faceiros de agir como mascates da idade média.
No Ministério do Meio Ambiente, um ecocida. Na Funai e Fundação Palmares, racistas. E isso sem falar na gestão de estatais. Espaços de assédio onde, para ficar num só exemplo, o dirigente amigo da família real, curtia “comer” funcionárias em carro alugado, em horário comercial, no estacionamento de shopping.
Portanto, e para concluir. O caminho da paz e da reconstrução nacional passa pela identificação, desmoralização, julgamento e punição dos responsáveis, em todas as instâncias.
Que este se inclua entre os primeiros objetivos do governo, pois ele ajudará a animar o espírito de justiça e o apoio à retomada da construção nacional.
É a hora da verdade e nela se coloca como necessária a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko