Rio Grande do Sul

Coluna

A vida e o cuidado com a Casa Comum em primeiro lugar

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"Os desafios para 2023 são enormes. Que fazer? Enfrentar a fome, em primeiro lugar, com toda solidariedade possível" - Valdemir Castro
É preciso redescobrir e reconstruir a solidariedade como marca registrada de brasileiras/os

A vida e a Casa Comum estão em perigo.

A violência está à porta todos os dias. Há violência de todos os tipos e de todas as formas. Todos têm algum grau de medo de ir para a rua, seja aonde for, especialmente jovens e mulheres. Assassinatos sem sentido e (quase) em série, absurdos, sem se saber onde tudo isso vai parar.

O ódio e a intolerância estão nas famílias, nas comunidades, até nas periferias, como nunca se viu antes na história brasileira. Cada uma, cada um tem exemplos na sua própria vida e convivência cotidiana.

A pandemia do coronavírus está voltando, com toda força, deixando o medo da morte de novo presente. É preciso voltar a usar a máscara e ter todos os cuidados já sabidos.

Acidentes de todos os tipos acontecem diariamente nas estradas: desatenção, imprudência e sabe-se lá o que mais passa na cabeça das pessoas e dos motoristas.

O clima, as tempestades, as chuvas torrenciais, as mudanças climáticas matam muita gente, e acumulam tragédias como agora no Paraná e Sergipe.

A Amazônia está sendo destruída, desastres e derrubada de árvores colocando a vida em perigo, não apenas para as próximas décadas, mas já, agora, hoje, neste momento.

A fome está presente como nunca. Por isso, cresce a organização popular, com a Frente Nacional contra a Fome e a Sede, Comitês Populares contra a Fome, Cozinhas Solidárias e Comunitárias, o povo se organizando, defendendo quem mais precisa, enquanto governos se omitem, especialmente o federal, lixando-se para o sofrimento de quem passa fome.

A miséria e o desemprego continuam presentes, enquanto a população em situação de rua, que aumenta todos os dias, busca seu alimento nas lixeiras.

A depressão chegou. Segundo o Caderno Cultural EU&Fim de Semana, em ´O mal do Século XXI´, “pandemia, inflação, divisão política aumentam casos de depressão num país onde tais transtornos já são comuns” (Um país ansioso e depressivo, Valor Econômico, 25.11.2022).

A democracia está em risco, ante os valores neofascistas e ultra neoliberais muitas vezes tomando conta, não só da sociedade, mas principalmente de corações e mentes.

Os desafios para 2023 são enormes. Que fazer?

Enfrentar a fome, em primeiro lugar, com toda solidariedade possível. Políticas públicas de segurança alimentar e nutricional precisam ser retomadas com urgência, com participação da sociedade, recriação do CONSEA e tudo mais.

A proposta da ecologia integral, cuidando da Casa Comum, como diz o Papa Francisco, com retomada das políticas de agroecologia e de produção orgânica, ancoradas na economia solidária, será decisiva nos próximos anos.

É preciso superar o ódio, a intolerância, trazendo de volta a paz, o respeito pela outra e pelo outro, pelo parente, pela vizinha, pelo vizinho, presentes no convívio alegre e fraterno de famílias, igrejas, comunidades, escolas e Universidades.

A violência, os feminicídios e o racismo estrutural precisam, não só diminuir, mas acabar, com muito diálogo, tolerância, com sorrisos largos e abertos, ações de governo e políticas públicas articuladas com a sociedade civil organizada.

É preciso redescobrir e reconstruir a solidariedade como marca registrada de brasileiras e brasileiros.

Encantar a política, como propõem o Conselho Nacional do Laicato no Brasil, Comunidades Eclesiais de Base, o Movimento Fé e Política, é urgente e necessário, através da universalidade do amor, da amizade social, da ética na política e da reconstrução da democracia.

Participação popular, trabalho de base, formação na ação são tarefas militantes históricas na conjuntura, por parte dos movimentos sociais e populares, dos partidos políticos, das Pastorais e de todas-os amantes da soberania e da democracia.

A educação popular conscientizadora, libertadora, à luz de Paulo Freire, é papel e ação militante de lutadoras e lutadores, sonhadoras e sonhadores de ´um outro mundo possível´.

A unidade do campo democrático-popular, construindo um Projeto Popular para o Brasil, é decisiva neste momento histórico.

2023 tem tudo para ser melhor que 2022. A voz dos de baixo, especialmente da população negra, indígenas, população em situação de rua, catadoras e catadores, junto com os jovens e as mulheres, voltará, não só a ser ouvida. Voltará a ser respeitada, a ter vez e voz de decisão. A vida e o cuidado com a Casa Comum estarão em primeiríssimo lugar.

Muito, muito por fazer, em mutirão, num abraço coletivo e solidário, ninguém soltando a mão de ninguém. ´Que venga 2023.´ SEM MEDO DE SER FELIZ!

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko