O livro "Primeira Terra" se propõe a recuperar a história da ocupação das granjas Macali e Brilhante, em 1979, retomando a luta pela reforma agrária no Brasil. Ocorrido ainda durante a ditadura militar (1964-1985), este episódio ficou conhecido como a primeira tentativa bem sucedida e que marcou uma nova etapa das lutas no campo. Ocorreu cinco anos antes da fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e teve como principal apoio os setores progressistas da Igreja Católica.
De autoria do jornalista Ayrton Centeno, o livro terá seu lançamento nessa quinta-feira (1º), a partir das 19h30, no Armazém do Campo de Porto Alegre (Rua José do Patrocínio, 888, bairro Cidade Baixa). A entrada é gratuita.
Segundo o autor, a entrada dos sem terra nas duas granjas, partes de um antigo latifúndio chamado Fazenda Sarandi, seria o ponto de partida dos novos embates por uma melhor partilha da terra no país, interrompidos pelo golpe militar que derrubou o governo de João Goulart em 1º de abril de 1964. Com passagem por várias redações, Centeno é hoje um dos editores do Brasil de Fato RS.
"Primeira Terra" descreve os eventos desde seu ponto de partida imediato: a expulsão dos pequenos agricultores da reserva indígena de Nonoai ocorrida em 1978. Aconteceu quando o povo Kaingang, sob a liderança do cacique Xangrê, decidiu expulsar todos os intrusos.
Com isso, os colonos ficaram na maior miséria, sem ter onde viver e plantar, vivendo acampados em barracas à beira das estradas. Sabedores que as glebas da Macali e da Brilhante, no município de Ronda Alta, quase nada produziam e, portanto, não cumpriam a função social da terra, resolveram ocupá-las, o que aconteceu na madrugada de 7 de setembro de 1979.
Depois de muitas ameaças, mas também resistência e luta, as famílias da Macali e depois da Brilhante conseguiram a posse das duas granjas, repartidas em lotes entre eles.
A partir da ocupação pioneira, outras lutas se seguiram. Ainda em 1982, à frente da Macali ocupada, ao lado da estrada para Ronda Alta, surgiu o acampamento de Encruzilhada Natalino, à época o maior do Brasil, com mais de duas mil pessoas. Outras lutas se seguiram como a conquista, em 1985, da fazenda Annoni, também na região.
"Primeira Terra" também aproveita a abordagem para investigar a “reforma agrária” feita a ferro e fogo pelo colonizador português ao longo dos séculos que privou os primitivos habitantes do Brasil, os povos originários, de suas terras.
Na condição de jornalista, o autor, a partir de 1980, visitou várias vezes os dois assentamentos, acompanhando ainda o desdobramento dos acontecimentos em Encruzilhada Natalino. Em 2006/2007, junto com seu parceiro Carlos Carmo, realizou o documentário "Sarandi", onde descreve a situação dos antigos acampados da Macali e Brilhante.
Centeno e Carmo também realizaram "Caminhando para o Céu", documentário que relata a caminhada dos sem terra até a fazenda Southall, em São Gabriel, além da série "Gente da Terra", sobre iniciativas de agricultura familiar no Sul do Brasil, exibida pela TV Record em 2008.
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Edição: Katia Marko