Os desafios de 2023, esperando que 2022 termine logo e o mais rápido possível, serão imensos
E quando 2022 vai terminar de uma vez por todas!!!??? Já não é sem tempo, embora os dias passem devagar, devagar, quase parando, mesmo em meio a uma Copa do Mundo de futebol e à transição para o futuro governo federal, um processo com trocentos debates e angústias, em meio a uma conjuntura complicada e tri difícil, nacional e internacionalmente.
Em menos de um mês, 3 mortes, 3 velórios: Diógenes Oliveira, amigo, lutador, sonhador, companheiro; Ivan Borges, da Pastoral Carcerária e pai da educadora popular Liana Borges; Avelino Maffei, pai da Maristela, avô da Luiza e bisavô da Verginia Zuri, que conheci quando morador da Vila Santa Helena, parada 12 da Lomba do Pinheiro, homem de fé e da comunidade. Mais o professor e sempre confrade Dom Frei Irineu Wilges, velório onde só pude estar espiritualmente. Dona Terezinha, um doce de pessoa, mãe da cunhada e professora Rejane, outro velório com minha presença espiritual em Venâncio Aires. E ainda a Gal, o inesquecível Pablo Milanés e sua ´Yolanda´, mais o Tremendão Erasmo Carlos, Bebeto Alves, e tantas outras e outros tantos, quase todos os dias ou a cada semana.
Que mais pode, que mais vai ainda acontecer até 31 de dezembro de 2022? Muita dor, muito sofrimento, reunidos ao mesmo tempo, quase sem parar. E a pergunta que me assalta vez que outra, inevitavelmente: estarei vivo em 2023?
A morte, por mais que você tenha fé e acredite na vida, sempre é muito difícil, ainda mais quando é (quase) em série, sem dar tempo para respirar.
2022 foi/está sendo tudo de um pouco. Ano para esquecer de uma vez: batidas de carro, óculos quebrados, problemas nos dentes, carro arrombado e pneu estepe roubado, fogãozinho de duas bocas de casa no limite, torneiras vazando, multas de carro aos montes, guincho do carro pela primeira vez na vida por estacionamento em local proibido, e mil outras coisas que não costumavam acontecer, quase tudo ao mesmo tempo, uma atrás da outra.
A vida tá difícil, muito difícil. Em mais de 50 anos de militância em diferentes espaços, mas sempre no campo democrático-popular e na boa luta, talvez estes sejam o tempo e o ano mais difíceis. Mas é preciso resistir. Como sempre, o povo brasileiro fez na hora certa, com coragem, sem perder a fé e a esperança.
E ainda não falei do ódio, da violência e da intolerância, cada dia mais presentes na vida e na sociedade. Nem a vitória de Lula parece ter expulsado os demônios, as dores, o sofrimento e tudo mais que alcança o Brasil nestes tempos tri difíceis. Até o clima não tem ajudado: tempestades, frio fora de época, a primavera que não chegou em quase dezembro, as mudanças climáticas mostrando a cara todos os dias.
Hora de virar a chave, abrir a porta, escancarar as portas e as janelas todas, ir para a rua e o vento, respirar ar puro, dar adeus às intempéries e ao azar, olhar para frente.
Ainda bem que Lula, no sufoco das pressões de toda ordem, da compra de votos por baixo do pano, das fake news e tudo mais que aconteceu na eleição de 2022, ganhou e vai ser presidente pela terceira vez! Não fosse isso...
Os desafios de 2023, esperando que 2022 termine logo e o mais rápido possível, são/serão imensos. O neofascismo está longe de estar extinto ou derrotado. Ele tomou conta, energizou almas e corações. Quando isso acontece, leva tempo, muito trabalho e esforço para ser enfrentado. Vide as ondas neonazistas novamente presentes no mundo, mais ainda no Brasil, acampadas nas ruas e querendo ditar os rumos do Brasil e do seu povo.
Além disso, as políticas públicas com participação social, construídas com muito esforço e diálogo entre governos e sociedade, foram praticamente todas extintas e amaldiçoadas. Sem esquecer a falta de recursos públicos à vista, em 2023, para acabar com a fome, a miséria, o desemprego, reaparelhar a saúde pública, dar vida e condições à agricultura familiar e camponesa produtora de alimentos, estimular a Universidade, os Institutos Federais e a educação pública de qualidade, entre tantas necessidades urgentes do povo brasileiro.
Não há tempo a perder. Afastado e superado o aziago 2022, mais que hora de ESPERANÇAR freireanamente. Fazer acontecer em 2023, apesar da elite brasileira escravocrata, historicamente anti-democrata e vendilhona da soberania nacional.
Ninguém solta a mão de ninguém no final de 2022 e em todo 2023! Escrevi um livro de poemas nunca publicado, com o título A MANHÃ VAI CHEGAR, em 1976, com a seguinte dedicatória: “HOMENAGEM. Aos companheiros do DCE e Diretórios Acadêmicos da PUCRS, gestão 75/76, e a todos os estudantes que ainda gritam, pensam e participam.”
A MANHÃ VAI CHEGAR
A manhã há de chegar,
eu sei.
Com ventos e tempestades,
mas vai chegar.
E vai habitar
nas curvas do homem e da mulher,
nas esquinas do mundo,
nas circunstâncias da história.
E vai resplandecer o povo
com seu frescor,
sua claridade e ternura.
E vai armar o povo
de palavras.
Vai proclamar a liberdade
e expulsar o medo.
A manhã vai chegar,
sem fantasmas,
sem fomes, sem mordaças.
O povo sairá nas ruas,
unirá as mãos
e a bandeira da liberdade,
finalmente,
vai drapejar no continente.
A manhã há de chegar,
eu sei.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko