O parque da Redenção é um patrimônio natural, histórico, cultural, social e político da cidade de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Um espaço democrático frequentado diariamente por milhares de pessoas e ponto turístico para quem visita a capital. É um espaço que abriga a Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE), feirantes de artesanatos, artistas, apresentações, shows, manifestações culturais e políticas. Possui características únicas pela sua localização na área central, resguarda uma biodiversidade em espécies de plantas e animais, que traz vários benefícios para a saúde coletiva, que amortizam a poluição, as ilhas de calor e paisagístico, um verdadeiro “pulmão verde” no meio dos paredões de concreto, asfalto e trânsito intenso de carros.
A lógica privatista de que tudo pode se transformar em mercadoria, inclusive áreas verdes, consegue achar todas as ideias megalomaníacas e propostas para se tornarem mais lucrativas possíveis: um estacionamento subterrâneo no meio da Redenção. Isso, a ideia é direcionar carros e mais carros para o coração da principal área urbana da capital, o “pulmão” da cidade. Surreal essa ideia.
Apesar de não se encontrar justificativas para a viabilidade ambiental, porque nenhuma cidade do mundo teria essa “genialidade” dos nossos gestores entreguistas, aliada da impossibilidade deste empreendimento em solo com características geológicas não propícias, devido a ser antiga área de banhado, o que interessa é a sanha privada que acabará impactando de muitas maneiras, ambiental e socialmente, principalmente na sua elitização, segregando socialmente ainda mais a cidade. O governo Melo, além de ser um governo da elite porto-alegrense, está cada vez mais bolsonarista, não só nas opções eleitorais, mas nas suas ações antidemocráticas, negacionistas e ações anti-povo.
E essa proposta de direcionar carros para o coração da Redenção, se justifica no lucro da privatização do parque, mas também nesta obsessão urbana pelos carros, transporte individual, insustentável, aumento dos gases do efeito estufa e da poluição aérea e que se baseia em privilegiar uma parcela da população, aquela que terá condições de pagar o acesso, independente das consequências causadas para o parque, para a flora e fauna e a saúde coletiva da população.
No momento que acontece a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 27) no Egito, para debater as mudanças climáticas, e ironicamente uma Conferência Municipal do Meio Ambiente promovida pela prefeitura, sem democracia na sua construção e na sua organização, também como centro do debate as “Mudanças Climáticas”, hoje teremos a “audiência pública” para debater a privatização da Redenção e esse projeto insano de estacionamento subterrâneo. Não para a entrega e os carros no “pulmão verde” de Porto Alegre. Queremos a Redenção pública, verde, aberta, viva e bem cuidada!
(*) Eduardo Luís Ruppenthal é biólogo, professor da rede pública estadual, especialista em Meio Ambiente e Biodiversidade (UERGS), mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR-UFRGS), militante do coletivo Alicerce e da Setorial Ecossocialista do PSOL/RS.
Edição: Sul 21