Diversificar a produção de alimentos orgânicos em larga escala é um dos principais objetivos da experiência com o plantio de soja realizada este ano pelos agricultores da Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão - COPERAV. A informação é do agricultor Huli Marcos Zang, de 45 anos, que terminou na semana que passou o plantio de 70 hectares de soja orgânico.
O Assentamento Filhos de Sepé esta localizado no distrito de Águas Claras, município de Viamão, uma cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. Ali vivem, 376 famílias desde 1998, ano em que a área foi conquistada por militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.
Essas famílias tem sua origem em 115 municípios do estado do RS, representando uma diversidade de experiências em relação à agricultura e às formas de produção e de tipos de cultivo. É o maior assentamento de reforma agrária no estado, com 9.450 hectares. A principal produção do Assentamento é o arroz agroecológico, que ocupa cerca de 1600 há a cada ano. Além disso, as famílias também estão envolvidas com o cultivo de hortaliças e frutas, gado leiteiro e produções de agroindústria como pães e massas caseiras, laticínios, mel, geléias e embutidos.
No centro do Assentamento, está a Unidade de Conservação de Proteção Integral Refúgio da Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, abrigando importantes nascentes do rio Gravataí e áreas de fundamental importância para o abrigo da fauna residente e migratória, tais como os últimos indivíduos registrados no país de cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), bem como espécies ameaçadas de extinção.
Segundo Zang, a alternância entre arroz (gramínea) e soja (leguminosa) melhora a fertilidade do solo, pois a leguminosa coloca na terra o nitrogênio que é o fertilizante mais necessário para o crescimento das gramíneas, como o arroz e o trigo. Ele explicou que esta rotatividade já era praticada por seus pais, entre o trigo e a soja e eles estão se desafiando a produzir a leguminosa nas terras baixas para o arroz.
"Tenho orgulho de dizer que nosso assentamento é uma terra livre de agrotóxicos e alimento transgênicos." Zang explicou que só cultivam arroz em 1600 hectares porque a água para a irrigação é insuficiente e tem áreas onde fica impossível o plantio.
Mas, segundo ele, o assentamento produz hortigranjeiros, ovos e gado a campo. No entanto com a produção da soja eles esperam ter condições de criar mais animais, possibilitando a produção de proteína animal auto sustentável. Desta maneira eles também terão que comprar menos insumos orgânicos para sua produção.
Desafios
No entanto, os desafios são grandes. O equipamento é diferenciado, pois o arroz é uma cultura de banhado e a soja é de sequeiro, A única ferramenta que serve é a colheitadeira. Será necessário um investimento em novos implementos. A área inicial é pequena, mas ele recorda que quando começaram a plantar arroz orgânico em 2002 era apenas 1,7 hectares, hoje eles plantam 1600 hectares de arroz pré-germinado. E com sua persistência provaram ser possível o plantio de orgânicos em larga escala.
São cerca de nove variedades de arroz, o agulhinha, dois tipos de arroz vermelho, dois tipos de arroz preto, arroz cateto, arroz para risoto, e o agulhão aromático. "Com a alternância se diminui a necessidade de compra de insumos fora e futuramente nossa ideia é investir muito na produção de proteína animal. Tendo a soja facilita a criação de galinhas, porcos e assim por diante. Nosso projeto do arroz começou com rizipiscicultura (consorciação do arroz com a criação de peixes), porém por problemas com drenagens e enchentes a produção de peixe não evoluiu", explicou.
Zang espera que a experiência dê certo e incentive outros assentamentos a realizar a mesma prática, aumentando a diversidade de produção de alimentos.
Sementes
Uma grande dificuldade para o início da experiência foi a de conseguir sementes orgânicas de soja. Segundo ele, uma família do Norte do estado, perto de Casca produz grãos orgânicos e livres de transgênicos. “Fizemos uma troca, eles consomem arroz e nos concedem sementes de soja.”
Não existe a intenção de se entrar no mercado do agronegócio e vender a soja para a exportação, afirma Zang, mas sim a diversificação dentro do assentamento produzindo proteína e adubo suficiente para tocar as culturas que já existem. Também começarão a plantar outras culturas como sorgo e milho. Ele também diz que este tipo de cultura tem custo menor, pois o arroz pré-germinado é feito dentro de áreas alagadas o que aumenta os custos na manutenção das máquinas e o gasto com diesel.
Para Zang, é importante o desafio para outros assentamentos e agricultores familiares se livrarem dos pacotes pré-estabelecidos pelas multinacionais do agronegócio.
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Edição: Katia Marko